As duas bacias petrolíferas localizadas ao largo da costa do Rio de Janeiro dão uma visão das escolhas difíceis que a Petrobras está fazendo para cortar US$ 77 bilhões em investimentos.
A Bacia de Campos, ao largo do litoral norte do Rio, produz mais petróleo que qualquer outra região do Brasil, mas sua produção está caindo rapidamente devido ao envelhecimento dos campos.
A Bacia de Santos, mais ao sul, possui as maiores descobertas de petróleo da história do Brasil, mas seus depósitos massivos, localizados a até 6,5 quilômetros de profundidade, são caros de explorar.
Ambas as bacias precisam de bilhões de dólares em investimento cada e a Petrobras não conta com tanto dinheiro.
O dilema mostra o tamanho da queda da gigante petrolífera estatal do Brasil após seu auge em 2010, quando levantou US$ 70 bilhões naquela que foi, à época, a maior venda de ações da história para o financiamento de projetos da África ao Golfo do México.
Desde então, o amplo escândalo de corrupção e a queda dos preços do petróleo forçaram a empresa a reduzir o tamanho de suas operações. Atualmente, a Petobras está tentando vender quase US$ 60 bilhões em ativos e cortou mais de um terço de um plano de investimento de cinco anos que chegou a ser o maior do mundo.
“Eles definitivamente se desconcentraram quando todos ficaram muito animados com o pré-sal”, que é como a região com os maiores campos da Bacia de Santos é conhecida, disse Ruaraidh Montgomery, analista sênior para pesquisa corporativa de petróleo e gás da Wood Mackenzie em Houston, EUA. O desafio da Petrobras é equilibrar os “pesados investimentos iniciais” da Bacia de Santos e garantir que “os ativos geradores de um bom fluxo de caixa consigam os investimentos que eles necessitam” na Bacia de Campos.
Grande player do petróleo
A decisão de focar na Bacia de Santos ou na de Campos não se resume simplesmente em reforçar a produção ou o fluxo de caixa da Petrobras -- embora a empresa, em dificuldades, certamente precise do impulso para quitar a dívida mais pesada da indústria petrolífera global.
A Bacia de Santos, que possui até 100 bilhões de barris de petróleo recuperável, segundo algumas estimativas, é também o pilar do plano do Brasil para se tornar um grande player do petróleo no cenário mundial.
A Petrobras, que tem sede no Rio de Janeiro, não respondeu a um pedido de comentário.
A Petrobras vem reduzindo algumas operações em Campos e se desfazendo de alguns ativos mais antigos nos últimos anos para ampliar a produção na Bacia de Santos.
Os dados mostram: a produção da Petrobras em Campos caiu para 1,4 milhão de barris por dia em junho, nível mais baixo em 16 meses.
Esse volume responde por 65 por cento da produção nacional, abaixo dos 76 por cento de 2012. Apesar de a Petrobras estar ampliando a extração de petróleo de seus deficitários campos do pré-sal, isso não é suficiente para compensar a queda na Bacia de Campos.
Corrupção
“Será difícil conseguir aumentos líquidos com esse tipo de declínio e com os cortes nas despesas de capital que estamos vendo”, disse o analista de pesquisas sobre o setor petrolífero brasileiro da Medley Global Advisors, Bernardo Wjuniski.
A Petrobras também está envolvida em um escândalo de corrupção que contaminou as maiores construtoras do país e ajudou a empurrar o Brasil para sua pior recessão em 25 anos.
A queda dos preços do petróleo piora os problemas e poderia levar a Petrobras a reduzir ainda mais seus investimentos, disse o Deutsche Bank AG na segunda-feira, em um relatório.
O petróleo caiu 52 por cento nos últimos 12 meses e o Brent para entrega em setembro fechou a US$ 50,21 o barril na segunda-feira.
A empresa precisa dos preços do Brent a pelo menos US$ 85 o barril e de paridade com os preços internacionais dos combustíveis para financiar investimentos e pagamentos de juros no ano que vem, disse o Deutsche Bank.
A Petrobras diz que os preços do Brent a US$ 60 o barril em 2015 e a US$ 70 de 2016 a 2019 são suficientes para financiar seu plano de investimento de cinco anos, de US$ 130 bilhões.
A queda no preço do petróleo “aumenta a pressão sobre o balanço” da empresa, disse Montgomery, o analista da Wood Mackenzie. “O negócio do pré-sal ainda não está dando nenhum retorno. E está sugando o capital da empresa”.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)