Braskem não faz parte sequer dos estudos da Petrobrás de unir os segmentos petroquímico e de refino num só ativo (NurPhoto/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de julho de 2019 às 07h46.
Última atualização em 2 de julho de 2019 às 08h12.
A empresa petroquímica Braskem é um mau negócio para a Petrobras na avaliação do presidente da petroleira, Roberto Castello Branco. A estatal é sócia da Odebrecht na Braskem. Como acionista minoritária, a estatal não enxerga justificativa para continuar a pôr dinheiro no ativo. O plano de vender a participação de 47% no negócio está mantido. Mas isso não quer dizer que a Petrobrás vai abandonar definitivamente o setor. No futuro, poderá agregar funções petroquímicas às suas refinarias.
“A Petrobrás tem (apenas) uma participação na Braskem. É um investimento financeiro que não faz nenhum sentido”, disse o executivo, após participar de evento promovido pelo grupo de lideranças empresariais Lide, no Rio.
A estatal aguardava o fim das negociações da Odebrecht com a holandesa LyondellBasell para também colocar à venda sua fatia na empresa petroquímica. No mês passado, após quase 16 meses de conversas, a Lyondell anunciou ter desistido do negócio, e a venda da Braskem retornou à fase inicial. Pesou na decisão da companhia holandesa algumas inseguranças jurídicas envolvendo a Odebrecht.
A Braskem não faz parte sequer dos estudos da Petrobras de unir os segmentos petroquímico e de refino num só ativo, segundo Castello Branco. Por enquanto, a união das duas operações é só uma ideia. “Não existe nada aprovado ou discutido com profundidade”.
Para o presidente, em dois anos, a Petrobras vai se transformar numa empresa completamente diferente da que é atualmente. Segundo ele, o pior momento da crise financeira e de reputação da petroleira ficou para trás. Agora, acredita ele, falta garantir o retorno do capital investido no mesmo patamar de suas competidoras de porte internacional.
“A Petrobrás de 2021 deverá investir muito mais do que tem desinvestido nos últimos anos”, disse o executivo, em evento do Lide, no Rio. O foco continuará sendo o pré-sal, mas a empresa também vai aportar dinheiro na revitalização de campos gigantes da Bacia de Campos - ativos que, até a produção no pré-sal ser iniciada, eram a principal fonte de extração de petróleo. Hoje, essas áreas estão em declínio. Para que ganhem sobrevida, devem ser investidos US$ 21 bilhões.
No futuro, a empresa também não estará mais nos segmentos de distribuição e transporte de gás natural. “Não precisamos ser donos dos ativos: precisamos dos serviços desses ativos. Estamos decididos a sair completamente do transporte de gás, assim como da distribuição de gás”, enfatizou o presidente da companhia.
Para isso, a companhia quer se desfazer das participações que possui em distribuidoras estaduais por meio da subsidiária Gaspetro e ainda devolver duas concessões no Uruguai. “Vim a descobrir que a Petrobrás é a grande distribuidora de gás do Uruguai, com duas empresas, nas quais em 13 anos fomos forçados a fazer 15 aportes de capital. Pretendemos devolver essas concessões o mais rapidamente possível.”
Também não há nada acertado sobre a formação de uma parceria com a chinesa CNPC para ampliar o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A sociedade começou a ser analisada ainda no governo de Michel Temer. Mas, na atual gestão, o projeto perdeu força.
Até agora, o investimento, exclusivamente da Petrobrás, limita-se à instalação de gasodutos para levar gás do pré-sal a uma unidade de processamento instalada no terreno onde seria erguido o complexo petroquímico, no município de Itaboraí (RJ). Nessas obras, foram gastos US$ 4 bilhões até agora.
“Estudamos parceria com os chineses, que deve ser concluída em setembro, mas o processo atual é de venda das refinarias”, afirmou o presidente da Petrobrás.
Até o início de agosto, a petroleira vai divulgar as condições de venda de um pacote de quatro refinarias. Na semana passada, lançou a campanha de privatização de outras quatro. Ao todo, vai se desfazer de 8 das suas 13 refinarias. Assim, cortará à metade sua produção de derivados de petróleo, que deverá ficar concentrada no Sudeste, onde está concentrado o consumo de combustíveis no País. O esperado é que as privatizações sejam concluídas num prazo de 18 a 24 meses.
“Existem compradores potenciais. Houve comentários depreciativos sobre nossas refinarias, mas existem players que já demonstraram interesse superficial e agora vamos ver o interesse efetivo”, disse Castello Branco. Ele rebateu afirmação do deputado federal Fernando Coelho Filho (DEM-PE), ex-ministro de Minas e Energia, que disse que as refinarias têm valor para a Petrobrás, mas pouco valem para outros investidores.
Com a venda dessas unidades, a estatal espera evitar a interferência em sua política de preços. “Com a alta do petróleo e dos combustíveis, todo mundo vai bater na porta da Petrobrás para pedir que subsidie preços. De 2012 a 2018, a Petrobrás perdeu R$ 160 bilhões por conta da ingerência política em seus preços.”