Petrobras: analistas do Bradesco BBI afirmaram que a redução dos preços terá um impacto de 5% na geração de caixa (Bruno Domingos/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2016 às 17h59.
Rio de Janeiro - As perdas da Petrobras com a redução dos preços da gasolina e do diesel, anunciados nesta sexta-feira, serão compensadas por ganhos com uma potencial recuperação do mercado de combustíveis brasileiro, afirmou o diretor Financeiro, Ivan Monteiro, a jornalistas.
A companhia anunciou a redução do valor do diesel em 2,7 por cento e da gasolina em 3,2 por cento nas refinarias (média Brasil), a partir da zero hora de sábado (15), em uma decisão que levou em conta a defesa de sua fatia de mercado e a sazonalidade dos preços globais.
Em nota a clientes, analistas do Bradesco BBI afirmaram que a redução dos preços terá um impacto de 5 por cento na geração de caixa (Ebitda) de 2017, ou 1,3 bilhão de dólares.
Monteiro não abriu dados sobre os impactos financeiros decorrentes do reajuste, mas explicou que estrategicamente a medida será favorável e não impactará as metas de desalavancagem traçadas pela empresa recentemente.
"Vocês pegam um dado só, que é o de receita, mas não tem um dado só. Tem dado de receita, de participação de mercado, de como se otimiza todo o parque de refino da companhia, tem questão sazonal de estoques", afirmou, explicando que os ganhos financeiros da empresa após a medida são informações estratégicas e, por isso, não seriam revelados.
Mas a redução da receita foi considerada negativa por analistas que acompanham o papel da Petrobras, embora o aguardado anúncio sobre a nova política de preços da estatal tenha impulsionado as ações da companhia no mercado.
"No todo, nós louvamos a iniciativa da companhia em implementar mais transparência na política alinhada aos preços internacionais, entretanto, nós preferíamos ver a empresa operar com prêmio por um período mais longo, para recuperar perdas passadas", afirmou o analista da corretora Brasil Plural, Caio Carvalhal, em nota a clientes.
Monteiro defendeu que não adianta a empresa priorizar a manutenção de preços altos e descuidar de outras questões relacionadas ao desempenho operacional.
"Não adianta eu ter um preço, um produto e não ter mercado para vendê-lo. Não adianta eu ter um preço e um produto e meu estoque estar subindo, não adianta ter preço e produto e às vezes até constranger a minha operação de produção de óleo", afirmou Monteiro, quando questionado sobre a questão.
No acumulado do ano até agosto, segundo dados mais recentes do regulador do mercado (ANP), as vendas de todos os combustíveis no Brasil registraram recuo de 4,4 por cento ante o mesmo período do ano passado, pressionadas pela queda do diesel (principal derivado de petróleo vendido no país), cuja demanda diminuiu 4,7 por cento.
Por muitos anos a Petrobras praticou preços de gasolina e diesel mais baratos no Brasil do que no exterior, a mando do governo federal, que buscava controlar a inflação, trazendo prejuízos bilionários para sua divisão de Abastecimento e contribuindo para a sua alta dívida atual.
Entretanto, a defasagem se inverteu a partir de novembro de 2014, quando a diferença entre os preços no Brasil e no mercado internacional passou a ser positiva para a Petrobras.
De novembro de 2014 a julho de 2016, a estatal acumulou ganho de 29 bilhões de reais com a compra de gasolina e diesel mais baratos no exterior e a revenda no mercado doméstico a preços mais altos, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), enviados por email à Reuters.