Petrobras: estatal apresentou uma estimativa de que seus ativos estão inflados em R$ 88,6 bilhões (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2015 às 20h33.
Rio de Janeiro - A Petrobras perdeu nesta quarta-feira R$ 14 bilhões em valor de mercado, duramente penalizada por investidores diante da indefinição da cúpula da empresa quanto aos impactos e perdas decorrentes da corrupção em seu patrimônio.
A queda nas ações superou os 10%, em reação a um balanço que ignorou os apelos do mercado, preocupado com as prováveis baixas contábeis decorrentes da Operação Lava Jato da Polícia Federal.
A estatal apresentou uma estimativa de que seus ativos estão inflados em R$ 88,6 bilhões, em um cálculo que não convenceu sequer os integrantes do conselho de administração.
A opção da companhia foi evitar um novo adiamento do balanço e, assim, uma aceleração de dívidas que vendem no final do mês.
No relatório divulgado no meio da madrugada, após uma reunião do conselho de administração de mais de dez horas, a Petrobras deixou claro ao mercado que o resultado é apenas preliminar e deverá ser revisto.
A sua divulgação teve como objetivo cumprir acordos com financiadores e evitar o pagamento antecipado.
Em contratos com financiadores, a empresa havia se comprometido a divulgar o relatório não-auditado até sexta-feira.
Caso contrário, deveria pagar dívidas que somam US$ 800 milhões a credores.
O cálculo de perda com a corrupção apresentado ao conselho foi realizado por consultorias independentes.
Segundo fontes, a diretoria da empresa não apresentou nenhum número para não ser acusada de influenciar a mensuração das perdas com a corrupção.
As consultorias utilizaram dois métodos para calcular perdas. No primeiro, a conclusão foi de um prejuízo de R$ 4 bilhões. No outro, de R$ 88,6 bilhões.
Diante da disparidade dos números, os conselheiros e mesmo os consultores concordaram que as duas estimativas ainda não condizem com a realidade.
Mas não houve um consenso sobre qual método expressa melhor o rombo no patrimônio.
A primeira projeção considera o pagamento de propina de 3% a ex-funcionários, compensado em superfaturamento de projetos.
A segunda foi calculada pelo método de fluxo de caixa descontado, que considera os valores do ativo no momento da aquisição, os ganhos decorrentes da operação e descontado o desgaste dos equipamentos com o passar do tempo.
Nesse caso, não é apenas o rombo com a corrupção que aparece no resultado. Esse método é usado para calcular se os números do mercado condizem com o valor de mercado.
Segundo fontes, as consultorias utilizaram uma taxa de desconto pelo desgate dos equipamentos pelo tempo de 12%.
Mas, usualmente, a Petrobras utiliza um porcentual de 6,5% em seus balanços.
Por causa dessa diferença, os consultores admitiram que os valores utilizados no cálculo podem estar superdimensionados e se comprometeram a discutir mudanças no cálculo, caso o método de fluxo de caixa descontado seja o eleito como o melhor para mensurar o sobrepreço dos ativos.
O conselho de administração da Petrobras voltará a se reunir no dia 6 de fevereiro.
Mas a expectativa é de que, dessa vez, o cálculo do sobrepreço de projetos esteja fora da pauta de discussão.
A decisão foi que técnicos da estatal e das consultorias vão se reunir nos próximos dias para chegar a um acordo sobre o melhor método de cálculo das perdas.
A expectativa, no entanto, é que o trabalho dure mais do que dez dias. Por isso, o tema não está previsto para o próximo encontro dos conselheiros.