Tanques de armazenagem de gás natural da Petrobras: Petrobras importa gás natural da Bolívia por meio de contrato de longo prazo e também GNL de diversas fontes, normalmente no mercado "spot", a preços mais elevados (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2014 às 13h36.
Rio de Janeiro/São Paulo - Os volumes recordes de importação de gás pela Petrobras deverão se repetir em 2014, diante da seca prolongada que afeta reservatórios das hidrelétricas e determina o despacho de térmicas a gás, numa situação já vivenciada no ano passado.
As importações de gás natural saltaram de cerca de 36 milhões de metros cúbicos diários em 2012 para a marca histórica de 47 milhões de metros cúbicos por dia em 2013, mostram dados oficiais.
"Do jeito que está o calor, o verão, não tem jeito. Vamos manter o patamar do ano passado e importar bem", disse uma fonte com conhecimento da situação, na condição de anonimato.
Importações no mercado à vista, feitas em geral quando há uma necessidade maior, normalmente são realizadas a valores mais elevados do que aquelas contratadas, o que colabora para aumentar gastos da Petrobras com compras externas de combustíveis, segundo especialistas.
Outra fonte ligada à empresa concorda que a Petrobras deverá no mínimo manter os volumes importados de 2013, podendo até ter de aumentá-los neste ano.
Isso ocorreria porque, além da menor geração por hidrelétricas, há uma maior necessidade de energia pelo crescimento da demanda de os outros segmentos do mercado, segundo a fonte.
Alta nos gastos
A Petrobras importa gás natural da Bolívia por meio de contrato de longo prazo e também Gás Natural Liquefeito (GNL) de diversas fontes, normalmente no mercado "spot", a preços mais elevados.
A estatal gastou até setembro do ano passado o equivalente a todo o valor desembolsado para comprar gás em todo o ano de 2012, mostram dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A compra de gás no mercado à vista, diante da demanda emergencial gerada pelas térmicas, é um dos fatores por trás desses gastos adicionais.
Segundo o presidente da consultoria Gas Energy, Marco Tavares, a Petrobras deve estar registrando uma perda neste momento de cerca de 250 milhões de reais por mês, já que precisa importar gás no mercado "spot" a preços altos entre 16 a 17 dólares por milhão de BTU, mas vende a cerca de 10 dólares por milhão de BTU.
O preço do gás no "spot" está alto já que o frio no hemisfério norte também aquece a demanda pelo combustível naquela região, e a Petrobras não pode repassar a diferença para os contratos com termelétricas.
"Como o mercado de GNL agora teve uma subida grande, a Petrobras está tendo um prejuízo. Isso já aconteceu quase todo o primeiro semestre do ano passado", disse, acrescentando que a perda mensal calculada no ano passado era de cerca de 200 milhões de reais por mês.
Procurada, a Petrobras não comentou informações relacionadas à importação de gás.
Se perde no fornecimento do insumo, a Petrobras, que também atua na geração térmica, pode ter ganho na venda de energia elétrica, com o acionamento de mais unidades.
Importações bilionárias
De janeiro a novembro do ano passado, as importações de gás natural pelo Brasil consumiram cerca de 6,6 bilhões de dólares, de acordo com a ANP.
Em janeiro de 2013, quando os reservatórios da hidrelétricas também estavam em níveis críticos, as importações de gás natural dispararam 120 por cento em relação ao mesmo mês de 2012, segundo o órgão regulador, que ainda não publicou dados de 2014.
Naquele mês, quando mercado até temeu o perigo de racionamento de energia, praticamente toda a capacidade termelétrica do país foi acionada e assim ficou principalmente ao longo do primeiro semestre.
Em janeiro deste ano, a seca atípica voltou a atingir a região Sudeste, levando à redução dos nível dos reservatórios em plena estação úmida, e as térmicas do país passaram a gerar a praticamente toda capacidade.
Segundo Tavares, as térmicas do sistema interligado de gasodutos estão consumindo atualmente entre 36 milhões e 38 milhões de metros cúbicos por dia. Outros 7 milhões estão sendo consumidos por térmicas nos sistemas isolados do Maranhão e outros 5 milhões no Amazonas.
O consumo brasileiro de gás natural em 2013 cresceu 17,8 por cento no Brasil, para cerca de 67,2 milhões de metros cúbicos por dia, estima a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), com a Petrobras batendo recorde de fornecimento do produto nacional ao mercado.
GNL
Segundo dados do Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria de Gás Natural do governo federal, publicado em dezembro de 2013, o volume importado da Bolívia variou de cerca de 31 milhões a 32 milhões de metros cúbicos por dia em 2013. As cargas de GNL representam cerca de metade das importações da Bolívia, ou um terço das importações totais.
No ano passado, foram importadas pela Petrobras entre 80 e 85 cargas de GNL, em razão da forte demanda térmica e elétrica no país, disse a primeira fonte com conhecimento direto do assunto ouvida pela Reuters. Foi o maior volume já importado pela estatal.
"A não ser que tenhamos um inverno muito chuvoso... a previsão é de manter este patamar... Lá pelo meio do ano, no nosso inverno, entre junho, julho e agosto temos que ver qual vai ser o volume de chuva", acrescentou a fonte.