Plataforma da Petrobras: petroleiras são obrigadas a devolver partes dos blocos onde não encontraram petróleo, depois de um prazo determinado (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2014 às 17h21.
Rio de Janeiro - A Petrobras e as sócias no bloco BM-S-8 tiveram que escolher entre ficar com descoberta de Bem-te-vi --uma das primeiras na região nobre do pré-sal da Bacia de Santos-- ou avançar em uma área maior, afirmaram três fontes com conhecimento direto do assunto.
A estatal brasileira e as empresas do consórcio abriram mão de Bem-te-vi e ampliaram a área de exploração da jazida vizinha Carcará, no mesmo bloco, onde encontraram indícios de um campo gigante de petróleo, conforme noticiou na quinta-feira a Reuters com base em documento da agência reguladora.
"Foi uma escolha entre uma coisa ou outra, foi, sim, uma escolha de Sofia", afirmou uma das fontes envolvidas diretamente no processo, referindo-se à história de uma mulher que teve de escolher entre a vida de um de seus dois filhos.
Procurada nesta sexta-feira, a Petrobras não comentou o assunto.
A Petrobras é a operadora do bloco com 66 por cento de participação. Os outros sócios são a Petrogal Brasil (14 por cento), da portuguesa Galp, a Barra Energia do Brasil (10 por cento) e a Queiroz Galvão Exploração e Produção , também com 10 por cento.
A Petrobras confirmou na quinta-feira que devolveu uma parte de Bem-te-vi e anexou a outra a Carcará, ficando sem uma das áreas pioneiras do pré-sal. Foi uma maneira, segundo as fontes, de aumentar o tamanho da área onde a empresa aposta que há mais petróleo.
Para especialistas, Bem-te-vi deve ser a primeira área com descoberta a sumir do mapa do cluster do pré-sal. A gigante americana ExxonMobil também devolveu o BM-S-22, na mesma região, mas após perfurações sem êxito.
Pelas regras de concessão de áreas exploratórias, as petroleiras são obrigadas a devolver partes dos blocos onde não encontraram petróleo, depois de um prazo determinado.
No caso de Bem-te-vi, houve descoberta de óleo --em uma das províncias mais promissoras do mundo, com índice de sucesso exploratório superior a 80 por cento-- e por isso a devolução surpreendeu alguns especialistas.
"Não faz sentido algum a não ser que tenha havido falha séria ou que Bem-te-vi seja um fiasco", afirmou o geólogo Cleveland Jones, do Instituto Brasileiro de Petróleo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Mas, para outro experiente executivo do setor, a devolução faz parte do jogo, porque ao final dos prazos exploratórios as empresas devem escolher a melhor parte do bloco.
"A ANP certamente levou em consideração a lei e o contrato de concessão, e a Petrobras tem experiência suficiente para escolher ficar com o melhor do bloco BM-S-8", disse ele, pedindo para não ser identificado.
"A descoberta de Bem-te-vi foi muito importante e fundamental para se chegar a Carcará, que é uma bomba... muito bom", afirmou a fonte envolvida no assunto, também sob condição de anonimato.
As áreas devolvidas ao governo poderão ser licitadas novamente, desta vez no modelo de partilha.
Libra, considerada hoje como a maior reserva de petróleo do Brasil, fazia parte do bloco BS-4, que um dia também teve boa parte devolvida para a União.
A reserva de Libra foi leiloada no ano passado, no primeiro leilão do pré-sal.