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Petrobras expõe fracasso do sonho brasileiro

Símbolo do poderio econômico crescente no pós-crise financeira, a estatal hoje representa tudo o que está errado na economia brasileira


	Petrobras: empresa não conseguiu, ano após ano, cumprir as metas de crescimento
 (Sergio Moraes/Reuters)

Petrobras: empresa não conseguiu, ano após ano, cumprir as metas de crescimento (Sergio Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 5 de fevereiro de 2015 às 13h32.

Nova York e Rio de Janeiro - Quando o Brasil deixou a crise financeira internacional para trás como uma das grandes potências emergentes do mundo, a Petrobras era o símbolo daquele poderio econômico crescente.

A gigante petroleira controlada pelo Estado estava adotando um plano de investimento de US$ 220 bilhões para desenvolver a maior descoberta de petróleo offshore no Hemisfério Ocidental desde 1976 e, nas palavras do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, era a cara do “novo Brasil”.

Hoje a empresa representa tudo o que está errado na economia brasileira, que vem vacilando na maior parte dos últimos quatro anos: está atolada em um escândalo de corrupção que tirou sua presidente do cargo nesta semana; não conseguiu, ano após ano, cumprir as metas de crescimento, e está dando perdas espetaculares aos investidores.

Avaliada em US$ 310 bilhões em seu auge, em 2008, valor que a transformou na quinta maior empresa do mundo, a Petrobras atualmente está estimada em apenas US$ 48 bilhões.

Embora a perda de destaque do Brasil no palco internacional venha ocorrendo desde que o avanço econômico impulsionado pelas commodities começou a desandar, em 2011, o caso de corrupção na Petrobras aprofunda a sensação crescente de crise no país.

O governo está registrando déficits orçamentários recordes após um colapso nos preços da soja, do petróleo e do minério exportados pelo país; São Paulo está ficando sem água em meio à maior seca vista em décadas e o real teve a maior queda entre as principais moedas nos últimos seis meses.

“O Brasil parecia bem durante quase 10 anos de preços crescentes das commodities e termos de negociação muito positivos”, disse Jim O’Neill, o ex-economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc. que criou a sigla Bric e que atualmente é colunista da Bloomberg View, em entrevista, de Londres.

“Ajudou a disfarçar uma série de problemas estruturais e é claro que isso deixou os responsáveis pelas políticas do país preguiçosos e permitiu que os maus hábitos comportamentais continuassem, como essa história da Petrobras resume bem”.

Crescimento estagnado

Desde que Dilma Rousseff, de 67 anos, assumiu a presidência, em 2011, após ser ministra de Minas e Energia e ministra-chefe da Casa Civil no governo Lula, cargos que também a colocaram na presidência do Conselho de Administração da Petrobras, o Ibovespa perdeu em torno de um terço de seu valor e a moeda caiu cerca de 40 por cento. As ações da Petrobras, que tem sede no Rio de Janeiro, estão sendo negociadas perto dos níveis de 2003.

O crescimento estagnou, ficando atrás da média regional todos os anos desde 2011. O Itaú Unibanco Holding SA projeta que o produto interno bruto encolherá 0,5 por cento neste ano em meio ao risco de escassez de água e deficiências na geração hidrelétrica.

O UBS Group AG disse na segunda-feira que o racionamento de energia poderia provocar uma contração de até 1,5 por cento do PIB.

A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e outros cinco integrantes da diretoria apresentaram sua renúncia na quarta-feira, em um momento em que a polícia investiga as acusações de que executivos da empresa aceitaram subornos em troca de contratos.

As ações da petroleira vêm caindo a cada ano desde 2010 porque a empresa vinha vendendo gasolina importada com desconto como parte das políticas do governo para conter a inflação e descumpriu várias vezes as metas de produção.

“É incrível, que destruição de valor”, disse Eric Conrads, gestor na ING em Nova York, que ajuda a supervisionar cerca de US$ 500 milhões em ações latino-americanas, por telefone. “É preciso injetar sangue novo -- isso é necessário, mas não é suficiente para restaurar a confiança no Brasil e na Petrobras”.

Déficit fiscal

As mudanças na Petrobras deveriam ser similares às pretendidas por Dilma ao nomear Joaquim Levy ministro da Fazenda para aumentar a confiança do investidor, disse Conrads.

Levy tem de enfrentar um déficit fiscal que no ano passado aumentou para R$ 343,9 bilhões, o equivalente a 6,7 por cento do produto interno bruto, mais que o dobro de um déficit de 3,25 por cento em 2013.

A piora das contas fiscais levou a Standard Poor’s a reduzir o rating de crédito do Brasil, em março passado, para um nível acima do grau especulativo.

“O país estava indo muito rapidamente para o precipício, e ainda está”, disse Rogério Freitas, sócio do fundo hedge Teórica Investimentos, por telefone, do Rio de Janeiro.

“O pessimismo prevalece. Basta olhar os preços. A Petrobras está tendo um impacto muito grande, e muito negativo, nos ativos brasileiros”.

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