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Petrobras volta à cena com alta do diesel, nota da Moody’s e privatização

Após a empresa ajustar o diesel em quase 9%, deputados se reunirão nesta quarta-feira para discutir alternativas para a alta dos combustíveis

Plataforma da Petrobras: segundo a Moody’s, a melhora da nota tem a ver com um desempenho financeiro sólido de recuperação no pós-Lava-Jato, desde a gestão de Pedro Parente (André Valentim/Exame)

Plataforma da Petrobras: segundo a Moody’s, a melhora da nota tem a ver com um desempenho financeiro sólido de recuperação no pós-Lava-Jato, desde a gestão de Pedro Parente (André Valentim/Exame)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 28 de setembro de 2021 às 17h31.

Última atualização em 28 de setembro de 2021 às 19h00.

A semana começou agitada para o gigante do petróleo brasileiro Petrobras. Nesta terça-feira, a empresa anunciou um reajuste do diesel de quase 9% após mais de 80 dias segurando o valor do combustível, enquanto a agência de classificação de risco Moody's melhorou a nota da companhia nesta tarde de “Ba2” para “Ba1”.

Antes disso, na segunda-feira, o ministro Paulo Guedes disse que o ideal seria privatizar a empresa em um horizonte de dez anos.

O reajuste do diesel nesta terça aconteceu depois do presidente da companhia, Joaquim Silva e Luna, ter defendido o modelo atual da precificação dos combustíveis no país e de ter sinalizado que faria um aumento desse combustível. Apesar de o diesel ter se mantido sem reajustes, a gasolina tem tido altas seguidas.

O executivo foi a público nesta segunda para responder indiretamente ao presidente Jair Bolsonaro que tem criticado os atuais preços cobrados pelas refinarias da empresa. Silva e Luna já havia sido convidado pela Câmara dos Deputados, há duas semanas, para explicar a política de preços da Petrobras.

Como ainda detém o monopólio do refino no país, a Petrobras acaba influenciando totalmente os preços, já que as distribuidoras não conseguem escapar de sua influência, mesmo se decidirem comprar de importadoras de combustíveis. Isso porque as importadoras pagam até mais caro, já que o valor cobrado pela Petrobras é menor do que o internacional.

Apesar das críticas que recebe do governo e de certos setores da sociedade, como os caminhoneiros, a Petrobras cobra menos pelos combustíveis do que o valor que está sendo cobrado internacionalmente. Essa disparada mundial aconteceu principalmente devido à alta do barril de petróleo após a retomada da maioria das economias neste segundo ano de pandemia.

Para o analista da SFA Investimentos, Rafael Chacur, o fim do monopólio do refino, que está em andamento com a venda de refinarias, pode ajudar a diminuir a pressão da sociedade, de grupos e de políticos sobre a política de preços da companhia.

“Com a saída da Petrobras do parque do refino, você já tira um pouco do risco político sobre a política de preços porque metade do parque já estaria com capital privado. A empresa não poderia ser cobrada de bancar sozinha um preço muito baixo”, explica.

Segundo o analista da SFA, antes do reajuste desta quarta a Petrobras vendia diesel a um preço cerca de 15% mais barato do que o preço internacional. Então, mesmo com o reajuste, ainda é mantida uma defasagem de cerca de 7%.

Em uma publicação no Twitter, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse nesta terça-feira que o Brasil não pode tolerar a gasolina a 7 reais e que o assunto será pauta em reunião do colégio de líderes na Câmara. 

Ilan Arbertman cita que os dois caminhos sinalizados para garantir alguma estabilidade tanto do gás quanto da gasolina são complexos.

"Existem conversas há algum tempo no campo da gasolina, se falou na possibilidade de criação de um fundo para estabilização, e do subsídio de gás. Então de concreto existe esses dois caminhos, mas por serem extremamente complexos não evoluíram".

Moody's aumenta nota

O anúncio da tarde desta terça-feira de que a Moody's melhorou a nota da companhia de “Ba2” para “Ba1” poderá servir até como uma forma de a empresa ganhar mais argumentos em defesa da atual estratégia de preços.

Apesar da coincidência, o aumento da nota não tem ligação direta com a decisão de aumentar o diesel desta terça-feira.

Segundo a Moody’s, a melhora da nota tem a ver com um desempenho financeiro sólido de recuperação no pós-Lava-Jato, desde a gestão de Pedro Parente, durante o governo Temer, quando a empresa decidiu abrir mão de investimentos com poucos retornos, focar no pré-sal e reduzir o endividamento.

Privatização da Petrobras

Para o ministro Paulo Guedes, dez anos é um bom horizonte para privatizar empresas como Petrobras e Banco do Brasil.

Nesta segunda-feira, enquanto os combustíveis eram o assunto, o ministro da Economia decidiu falar na privatização da companhia, ao participar de evento promovido pela International Chamber of Commerce-ICC Brasil.

Guedes, porém, não fez uma relação entre a venda da empresa e a questão dos preços de combustíveis, mas citou a privatização como algo que acredita que o Brasil precisa.

Na visão do analista Rafael Chacur, o cenário atual já tem proporcionado à Petrobras um contexto de mercado e a privatização não é algo fundamental.

“Falar que precisa privatizar a Petrobras para ter uma melhor exploração do pré-sal não tem muito sentido. Desde o Pedro Parente [ex-presidente da companhia] ela vem com uma estratégia de garantir retorno ao acionista, dividendo, redução da alavancagem e o plano de focar em ativos mais rentáveis, saindo de águas rasas e vendendo parte do parque de refino. Assim, abre espaço no orçamento para investir nos poços do pré-sal. Então, você não precisa de uma privatização para explorar ao máximo o potencial dela, mas levando em conta o plano de negócios atual. O problema seria no caso de uma guinada populista querer mudar tudo lá dentro. Na prática, um plano estratégico atual não teria tanto impacto em si. Ela ficaria com menos risco político, menos ruído, mas para o mercado ele já tá caminhando para um cenário aberto, mesmo ela sendo um player estatal”, explica.

Na visão do analista, uma privatização reforçaria a questão de “livrar” o governo com relação aos combustíveis. O governo teria também menos poder sobre a inflação.

O analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman destaca que é importante considerar o cenário que a empresa encontrará nos próximos anos.

“Existem muitos caminhos para a empresa encarar o processo de transição energética que já está acontecendo no mundo. Ela já reconhece isso. A empresa sabe que a demanda por petróleo nesta década vai ser menor, mas a diferença é que ela não tem conseguido despender investimentos para a agenda verde. A Petrobras hoje, muito por conta da herança negativa que teve, está em fase de reconstrução", pondera.

Ilan afirma que é contra “opiniões fortes” no sentido da privatização da Petrobras. Para ele, também é válido lembrar que a Eletrobras apareceu pela primeira vez na lista de empresas a ser privatizadas nos anos 1990 e isso só deve acontecer agora em 2022.

Ou seja, ao falar em privatizar a Petrobras daqui a dez anos, Paulo Guedes pode estar falando de algo num horizonte maior ainda.

“Do ponto de vista do acionista, haveria mais rentabilidade para o investidor se a privatização viesse, mas é algo muito complexo e que precisa de estudos, até porque os stakeholders da Petrobras são muitos, são praticamente todos os brasileiros. Do lado financeiro, não tenho dúvida que seriam resultados maiores se ela fosse voltada para o lucro, mas não dá para cravar que é o melhor caminho”, diz.

 

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