Trabalhadores na indústria: no setor, 72% dos empresários veem como prioridade a automação de processos com investimento em robótica (Arquivo/Agência Brasil)
Lucas Amorim
Publicado em 27 de setembro de 2019 às 10h27.
Após a euforia do início do primeiro trimestre, a desconfiança do segundo. É este o sentimento que predomina entre os empresários brasileiros, segundo pesquisa exclusiva do professor Fabian Salum, da Fundação Dom Cabral, em parceria com a consultoria Grant Thornton.
O estudo mirou um período que geralmente recebe pouca atenção dos pesquisadores: aquele compreendido entre os meses de abril e junho. O objetivo é compreender os aspectos que influenciam a tomada de decisão dos empresários e o consequente crescimento das companhias e da própria economia brasileira. "É aquele momento em que já dá para avaliar o desempenho do governo", diz Salum. "Descobrimos que a incerteza com as medidas econômicas tem prejudicado o planejamento das companhias".
O Brasil, vale lembrar, chega a setembro com repetidas revisões para baixo nas perspectivas de crescimento para o PIB. A mais recente projeção do Banco Central é de avanço de 0,9% em 2019 e de 1,8% em 2020 -- as duas estimativas abaixo das projeções do início de governo.
Responderam à pesquisa 207 executivos, metade deles de grandes empresas brasileiras. Dois terços da amostra são de empresas de serviços, e 74% dos respondentes são presidentes, diretores, conselheiros ou sócios das companhias.
Há praticamente um consenso sobre a importância das reformas para a retomada dos investimentos e do crescimento da economia: 98% consideram a reforma da Previdência relevante e 97% consideram a tributária relevante. Além disso, 92% acreditam ser importante o controle de gastos públicos, enquanto 72% veem como relevante a descentralização fiscal.
O problema, como explica Salum, é que havia uma expectativa, vendida pelo próprio governo, de que esta agenda avançaria mais rápido. A reforma da Previdência ainda não foi aprovada pelo Senado, e corre o risco de novas desidratações. A previsão de votação final é na primeira quinzena de outubro. A proposta paralela de inclusão de estados e municípios anda em ritmo lento no Senado. Já a reforma tributária, a próxima da fila, não foi sequer apresentada pelo governo. "Neste cenário, sobra incerteza", diz o professor.
Salum também avaliou as estratégias de investimento das companhias, e a descoberta é de que as empresas têm consciência da importância da renovação. Entre as empresas de serviços, 79% acreditam que ciência de dados será um diferencial competitivo, assim como 69% veem que a inteligência artificial será importante. Entre as empresas industriais, 72% veem como prioridade a automação de processos com investimento em robótica.
O levantamento ainda mostrou que as companhias planejam fazer investimentos próprios em pesquisa e desenvolvimento para turbinar seu crescimento. Enquanto isso, apenas 18% delas pretendem recorrer a investimentos de bancos de fomento nacionais, e 12% de investimentos internacionais.
Ou seja: os empresários brasileiros querem acelerar o ritmo, e não esperam recursos públicos para isso. Mas, para isso, o poder público tem um papel preponderante: fazer as reformas, e tirar as incertezas do caminho. O ciclo pode ser virtuoso. Com tantas pedras no caminho, apenas 40% dos micro empresários pesquisados pretendem criar empregos CLT. Entre os grandes, 58% pretendem criar empregos CLT no segundo semestre.
O Brasil precisa de mais do que isso para voltar a crescer e reduzir o renitente desemprego que afeta quase 12 milhões de pessoas.