Negócios

Economia circular e aliança com ONG: a nova cara ESG da Pernambucanas

Marca varejista lança neste mês o “Voltei”, canal de vendas para roupas usadas; entenda a estratégia

Voltei: Pernambucanas lança canal de vendas para roupas usadas (Pernambucanas/Divulgação)

Voltei: Pernambucanas lança canal de vendas para roupas usadas (Pernambucanas/Divulgação)

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias

Repórter de Negócios e PME

Publicado em 17 de abril de 2023 às 12h45.

Última atualização em 19 de abril de 2023 às 15h42.

A marca de varejo de moda Pernambucanas está lançando um novo canal de vendas. De olho no potencial da economia circular e na aplicação prática da sustentabilidade, a aposta da marca é uma plataforma para revenda de roupas usadas para consumidores em busca de renda extra.

O canal de vendas, apelidado de “Voltei”, é resultado de um processo de criação próprio da Pernambucanas, com operação e tecnologia desenvolvidas dentro de casa. A proposta é oferecer um canal digital por onde vendedores e compradores possam negociar a venda de peças de vestuário usadas e, em troca, possam receber até 50% do valor das peças.

Por que a empresa está entrando na moda circular

A Pernambucanas cresceu a largos passos com a proposta de acessibilidade e com uma estratégia pautada na abertura de lojas físicas em regiões abastadas e cidades de pequeno porte, tradicionalmente deixadas de lado por grandes redes em seus planos de expansão.

Agora, ao lançar o Voltei, a marca se insere em uma tendência global que pode injetar até 4,5 trilhões de dólares em ganhos para as empresas brasileiras até o final da década: a economia circular. Ao lado de outros critérios ESG (sustentabilidade, social e governança), o canal de circularidade da Pernambucanas pretende inserir a empresa num contexto que contesta os atuais moldes da cadeia de moda rápida, o chamado fast-fashion, e prioriza o reuso de matérias-primas.

O novo canal toma como exemplo e inspiração casos bem-sucedidos de negócios que ganharam alguma celeridade a partir do modelo de compra e venda de itens de segunda mão, como as startups Repassa, adquirida pela Renner S.A, e Enjoei, atualmente listada em bolsa. 

O que a marca pretende fazer é romper com o paradigma de que brechós são canais pouco usuais e com qualidade inferior. Para isso, lança mão de digitalização e algumas parcerias que podem reforçar o poder do novo canal. Um exemplo está na aliança com a ONG Gerando Falcões, cuja função será permitir a doação do valor das vendas das roupas para a instituição.

Segundo Sergio Borriello, CEO da Pernambucanas, a associação da marca com organizações sociais seria o ponto de partida para a criação de uma iniciativa sustentável. A ideia, contudo, foi mantida em segundo plano nos últimos anos, em virtude da falta de parceiros estratégicos para colocar o projeto de pé. “A ideia de aplicar o ESG e criar um canal de circularidade não é algo novo para nós, mas entendemos que o melhor caminho era voltar alguns passos atrás e pensar na criação de algo proprietário”, explica. 

“Agora, conseguimos avançar nessa jornada tão importante e ao lado de parceiros tão importantes, como a Gerando Falcões. É mais do que fazer por fazer, mas sim para realmente entregar valor e propósito, com conexão real com iniciativas sociais”, diz.

Sergio Borriello, CEO da Pernambucanas (Pernambucanas)

Como vai funcionar

O Voltei promove a revenda de qualquer item de vestuário, seja feminino, masculino ou infantil, exceto calçados e acessórios. Pelo aplicativo ou site da varejista, clientes podem selecionar o canal e cadastrar as peças para a venda — os itens não precisam ser, necessariamente, da marca Pernambucanas.

Depois, o consumidor fotografa os itens e seleciona as categorias correspondentes. O passo seguinte é levar as peças até uma das 502 unidades da Pernambucanas pelo Brasil, que ficarão a cargo de receber os itens e encaminhá-los ao centro de distribuição da empresa na cidade de Araçariguama, em São Paulo. Por lá, as peças passam por um processo de lavagem e pequenos reparos, uma ação feita em parceria com o Oficina Escola, projeto do SENAI para formação de costureiras.

Quando catalogados, os produtos ficam expostos no canal, numa espécie de vitrine digital. Assim que comercializado, o cliente recebe até 50% do valor do produto em suas contas digitais. Caso prefira, também poderão doar parte ou o valor integral da venda para o Instituto Gerando Falcões. 

Na medida em que o novo canal avança, ele explica, a Pernambucanas também pretende criar espaços físicos nas lojas para a exposição e vendas de roupas usadas.

Impacto social

Para a Gerando Falcões, a parceria com uma marca com escala soluciona boa parte das dores em amplificar o alcance das ações de comunicação, digital ou física, da instituição. Atualmente, a ONG mantém o Bazar Gerando Falcões, no qual revende peças usadas também em favor da geração de renda e apoio a projetos sociais nas favelas do Brasil. 

Além de disponibilizar a opção de doação dos valores de vendas à ONG, a Pernambucanas também irá comercializar as peças de vestuário do bazar da Gerando Falcões no site e aplicativo. “Agora estamos estimulados, pois essa parceria com a  Pernambucanas é uma frente de inovação que pode gerar resultados incríveis”, diz Edu Lyra, CEO e fundador da Gerando Falcões. “Isso acelera nosso impacto”.

Acompanhe tudo sobre:ModaEconomia CircularSustentabilidadeVarejo

Mais de Negócios

Quem é o bilionário indonésio que ficou 10 vezes mais rico em 18 meses?

Sete milionários que escolheram não deixar sua fortura para os filhos

Eles criaram um van elétrica do zero no interior do RS. Hoje já fazem R$ 35 milhões pelas ruas do BR

Bolsa Família, bets e asiáticas: as pedras no sapato da indústria de calçados