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Parceria inédita: Apple, Amazon e Google vão lançar um produto em conjunto

Para alavancar os alto-falantes inteligentes, as rivais criarão uma plataforma padrão para facilitar comunicação de Amazon Echo, Google Home e Apple HomePod

Apresentação do Nest Mini, do Google, em outubro: a rival Amazon tem mais de 60% do segmento nos Estados Unidos (Jefferson Siegel/Reuters)

Apresentação do Nest Mini, do Google, em outubro: a rival Amazon tem mais de 60% do segmento nos Estados Unidos (Jefferson Siegel/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 18 de dezembro de 2019 às 13h43.

Última atualização em 27 de dezembro de 2019 às 15h02.

Se não pode vencer os inimigos, junte-se a eles. Concorrentes em uma série de setores, as três gigantes de tecnologia Google, Apple e Amazon anunciaram nesta quarta-feira 18 que vão lançar um inédito produto em conjunto. As empresas formaram um grupo de trabalho responsável por integrar as tecnologias das companhias rivais no segmento de alto-falantes inteligentes, os chamados smart speakers.

As três fazem cada qual um produto concorrente: a Amazon tem o Echo (que vem com a assistente virtual Alexa), o Google tem nomes como Home e Nest (com o Google Assistente) e a Apple, o HomePod (com sua assistente Siri).

O problema é que os produtos não se conversam, e é comum que um celular iPhone, da Apple, não consiga enviar ordens a aparelhos inteligentes do Google na casa, e vice-versa. As empresas decidiram, então, buscar uma plataforma padronizada para a tecnologia dos dispositivos, de modo que eles se comuniquem melhor.

O objetivo é fazer com que os consumidores não tenham dor de cabeça ou temores ao comprar um produto de um fabricante concorrente. “O projeto visa a melhorar a experiência do consumidor ao tentar usar produtos domésticos inteligentes que não são compatíveis entre si”, disseram as empresas em nota.

Quando estiver pronto, o novo padrão também deverá ser adotado pelas empresas que criam "aplicativos" para as casas inteligentes. Nos assistentes, por exemplo, é possível exercer centenas de funções como tocar música, fazer compras, programar alarmes e checar o extrato de alguns bancos. A depender das adaptações feitas na casa (com a instalação de portas, luzes ou janelas inteligentes que conversem com os assistentes), os aparelhos também conseguem chegar a um cenário quase de ficção científica, acendendo luzes ou abrindo portas e janelas apenas com comandos de voz.

Amigos, mas nem tanto

O mesmo tipo de irmandade não é visto em outros segmentos: Apple e Google brigam há anos por cotas de seus sistemas operacionais, o Android e o iOS, assim como em serviços financeiros, como Apple Pay e Google Pay. A Amazon, embora seja tradicionalmente uma varejista com foco maior em vendas no comércio eletrônico, entrou em rota de embate com a Apple a partir deste ano, quando seu serviço de streaming Amazon Prime Video passou a ser concorrente do recém-lançado Apple TV+.

Apesar do anúncio de hoje, as primeiras versões do novo padrão vão demorar a acontecer. O comunicado afirma que as novidades deverão começar a ser vistas somente no fim de 2020.

O Echo da Amazon é líder absoluto e tem 66% do mercado de smart speakers nos Estados Unidos, segundo estudo da consultoria RBC, com base em dados de 2018. O Google tem 29% do mercado e o HomePod da Apple tem somente 5%. Nos Estados Unidos, principal mercado da tecnologia e lar das maiores empresas do setor, cerca de 40% da população já usa os alto-falantes inteligentes.

A RCB também projeta que o Echo vai gerar à Amazon entre 18 e 19 bilhões de dólares em faturamento em 2021 (não só com vendas do aparelho mas com funções que podem incrementar outras fontes de receita, com compras por voz na loja da Amazon). O montante seria equivalente a cerca de 5% da receita total da Amazon. No Google, a receita gerada deve ser de 8,2 milhões de dólares. Há mais de 100 milhões de dispositivos usando a Alexa no país, ante 43 milhões de aparelhos do Google.

Na prática, a conexão entre os alto-falantes inteligentes pode ser parecida com o que aconteceu no Brasil com setores como o de pagamentos. Até 2010, o mercado era controlado por Cielo (antiga Visanet) e Rede (antiga Redecard), e cada uma só aceitava cartões de Visa e Mastercard, respectivamente. Uma regra do Banco Central de 2010 fez cair a exclusividade das bandeiras. A regulação do Banco Central também abriu espaço para o surgimento, ao longo dos anos, de novas concorrentes. Hoje, é raro encontrar um terminal de pagamento que não aceite determinada bandeira de cartão.

O ano dos assistentes no Brasil

Os últimos meses de 2019 também marcaram a chegada, no Brasil, dos primeiros lançamentos no campo das casas inteligentes. A Amazon lançou por aqui o Echo Dot, fazendo a Alexa falar português pela primeira vez, incluindo gírias e frases tipicamente brasileiras -- missão para a qual teve de contratar uma equipe de linguistas. O Google lançou depois, em novembro, o Nest Mini, primeira caixa de som inteligente da empresa lançada por aqui. No caso do Google, a missão foi menos complexa, uma vez que a assistente de voz da empresa usa o idioma nacional desde 2017, por estar embutida nos celulares Android, usados por mais de 90% dos brasileiros. Ambos custam na casa dos 350 reais.

Até os lançamentos deste ano, só era possível importar os produtos, com assistentes em inglês. Agora, das três linhas de produto, apenas o HomePod da Apple não tem alguma versão lançada no Brasil, embora a Siri já responda e entenda português há alguns anos por causa dos celulares iPhone.

Para além dos Estados Unidos, as vendas de alto-falantes inteligentes no mundo tiveram alta de mais de 30% de 2016 até 2019, segundo projeções da consultoria SAR Insight. Em 2016, foram vendidos 13 milhões de dispositivos, e o estudo projeta que 2019 fechará com 205,5 milhões de aparelhos, alta de 35% ante 2016 e de 80% em relação ao ano passado.

Embora ainda haja território a ser conquistado nos Estados Unidos, é possível que as grandes empresas passem a olhar cada vez mais para mercados emergentes como o Brasil. A ver se a moda de falar com a casa vai pegar.

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