Pedro Valério, diretor do Instituto Caldeira: "como um hub de inovação que se propõe a impulsionar o desenvolvimento e o crescimento dos pequenos e médios empreendedores, entendemos que o momento exigia iniciativas de suporte durante essa crise" (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de julho de 2024 às 12h38.
Última atualização em 17 de julho de 2024 às 13h22.
A enchente que tomou conta de Porto Alegre no início de maio encontrou de cheio o principal ecossistema de inovação gaúcho: o Instituto Caldeira.
O hub, um complexo de três andares que recebe empresas em modelo de trabalho aberto e flexível e estimular o desenvolvimento de tecnologia desses negócios, fica no 4º Distrito, na zona norte da capital gaúcha, região mais impactada pelas cheias do Guaíba e do Delta do Jacuí.
Agora que a água baixou e as coisas começam a tomar rumo, é hora também de fazer os cálculos deste impacto.
Segundo uma pesquisa feita pelo Observatório Caldeira, o prejuízo estimado pelas empresas-membro do hub supera os 400 milhões de reais. A estimativa envolve danos em equipamentos e infraestrutura, além de perdas em vendas. Com o primeiro andar alagado, o instituto passou 38 dias fechado, e reabriu no dia 10 de junho, inicialmente com apenas o segundo e o terceiro andares em operação.
Ainda segundo o estudo realizado, somente as estimativas de custos com demandas de infraestrutura das empresas membro totalizam cerca de 32,5 milhões de reais.
Em relação à necessidade de empréstimos, até o momento estimada somente por algumas das empresas, o valor é de quase 155 milhões de reais.
Antecipando um segundo semestre desafiador, 71% das empresas preveem queda nas vendas até o final do ano, e 65% preveem uma queda na aquisição de novos clientes no mesmo período - dessas últimas, 53% estimam que a porcentagem dessa queda vai ficar entre 1% e 25%. Já 67% das empresas acreditam que vão enfrentar uma diminuição de rentabilidade até o final do ano somam 67%.
Como contra-ataque, o Instituto Caldeira criou a Sala de Apoio ao Empreendedor, no Observatório, no terceiro andar do hub. O primeiro ciclo, focado em recursos financeiros, contou com seis encontros nos formatos online e presencial, voltados à resolução de gestão de crise, com a presença de mentores de diferentes instituições, como Sebrae, BNDES, ABGI e IBEF.
"Vimos o quanto as empresas membro do Caldeira foram impactadas pelas chuvas, e, como um hub de inovação que se propõe a impulsionar o desenvolvimento e o crescimento dos pequenos e médios empreendedores, entendemos que o momento exigia iniciativas de suporte durante essa crise", comenta Pedro Valério, Diretor Executivo do Instituto Caldeira. "Cada um dos encontros abordou diferentes frentes, como gestão financeira com iniciativas de crédito e financiamento, expansão de mercado, e outros assuntos relacionados à recuperação e à reconstrução dos negócios."
Na manhã em que a EXAME visitou o Instituto Caldeira no início de julho em Porto Alegre, duas imagens dicotômicas ilustravam como está o Rio Grande do Sul. O prédio, de três andares, estava dividido assim: no segundo e terceiro, empresas funcionavam normalmente, com funcionários circulando livremente pelo espaço.
Já no primeiro andar, outro tipo de funcionário trabalhava: o de restauração. Corredores e salas eram limpas, tentando atenuar o impacto da enchente que tomou conta de todo pavimento térreo do estabelecimento.
As 69 empresas residentes do primeiro andar do Instituto Caldeira foram realocadas nos outros dois andares, onde 200 novas posições de trabalho temporárias serão abertas. Hoje, cerca de 900 pessoas estão passando diariamente por ali.
Como os restaurantes próximos também foram tomados pela água, a opção para alimentar essas pessoas foi criar um restaurante num dos andares do complexo.
Fisicamente, o Caldeira existe desde 2020. Localizado num galpão de 22.000 metros quadrados na zona norte de Porto Alegre, onde por décadas a Renner teve uma de suas principais tecelagens, o Caldeira é hoje para Porto Alegre o que o Cubo, hub de startups a poucos quilômetros da Avenida Faria Lima, tem sido para São Paulo desde a inauguração, em 2015: “o” local para trocar ideias sobre modelos de negócios, encontrar profissionais de tecnologia com vontade de trilhar carreira numa startup e até mesmo captar recursos.
A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.