Donald Trump e Joe Biden (Brian Snyder/Carlos Barria/Reuters)
Denyse Godoy
Publicado em 3 de novembro de 2020 às 06h00.
A comunidade empresarial brasileira está especialmente tensa com a eleição presidencial nos Estados Unidos, nesta terça-feira, 3. A vitória de qualquer um dos dois candidatos pode significar turbulências e perdas para os negócios do Brasil. O presidente Jair Bolsonaro tem cedido aos interesses dos americanos nas relações comerciais, mesmo prejudicando os brasileiros, porque é fã declarado de Donald Trump. Já Joe Biden ameaçou o Brasil de sanções econômicas caso o país não proteja a Amazônia – e o presidente Bolsonaro não parece estar se esforçando muito para cuidar do meioambiente.
Com a reeleição de Trump, há o temor de que Bolsonaro continue tentando agradar o presidente americano, sem medir as consequências para as empresas nacionais. Um exemplo dessa política foi a decisão do governo brasileiro de estender por 90 dias, a partir de setembro, uma medida que zera o imposto sobre o etanol importado de produtores americanos. A bancada ruralista no Congresso Nacional e as associações setoriais haviam pedido a Bolsonaro que não prorrogasse a medida. O etanol americano, feito de milho, compete principalmente com o de cana-de-açúcar produzido por pequenos agricultores no Nordeste.
Uma vitória de Biden poderia significar de imediato uma certa má vontade dos EUA com o Brasil justamente pela proximidade que o governo Bolsonaro tem de Trump – embora um grupo de especialistas pense que os democratas seriam bastante pragmáticos nas suas relações comerciais com outros países. A neutralidade seria o melhor cenário para o Brasil. No entanto, a imagem do país está bastante arranhada por causa dos incêndios na Amazônia e no Pantanal neste ano. Em entrevista em março para a revista "Americas Quarterly", Biden disse: "O presidente Bolsonaro deve saber que se o Brasil deixar de ser um guardião responsável da Floresta Amazônica, minha administração reunirá o mundo para garantir que o meio ambiente seja protegido".
O futuro da relação dos EUA com a China pode afetar o Brasil positivamente nos dois cenários. Se Trump, num segundo mandato, continuasse com a guerra comercial com o país asiático, o que tem gerado retaliações de Pequim, o Brasil pode ocupar um pedaço do lugar dos americanos no comércio com a China. Mas Bolsonaro também tem ficado do lado do atual presidente americano na briga e pode fazer com que o país seja retaliado pelo apoio a Trump. Com Biden, a expectativa é de valorização do comércio global e das relações multilaterais.
O Brasil também está com o seu futuro em jogo hoje.