Mark Carney, ex-presidente do Banco da Inglaterra: alerta para o impacto catastrófico que a mudança climática teria para o setor financeiro global (Daniel Leal-Olivas/Reuters)
Riscos climáticos e financeiros andam lado a lado. De acordo com um estudo publicado na revista científica Science, existe uma oportunidade para complementar os cenários atuais de mitigação do clima com cenários que compreendam a relação entre a percepção dos investidores sobre o risco climático futuro, a credibilidade das políticas climáticas e a alocação de investimentos em ativos de baixo e alto carbono na economia.
Em dezembro de 2019, o então presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney,
A saída, segundo ele, seria que o mercado começasse a se mobilizar no sentido de analisar suas vulnerabilidades e desenvolver planos para evitar os impactos negativos da crise ambiental no setor. Até então, além do público geral, as empresas e fundos sofreriam o prejuízo.
Em um discurso no mesmo ano, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, dividiu em três tipos os riscos que o mercado financeiro enfrentaria em relação ao clima: o de desprezar a mudança, o de demorar a implementar uma resposta à crise do meio ambiente e o de deficiência na qualidade ou quantidade de recursos alocados para combater a mudança climática. Somente na União Europeia, a estimativa de investimentos neste setor é de centenas de bilhões de euros.
Sobre o papel do mercado nesse contexto, Lagarde afirmou que “o setor financeiro será essencial na mobilização dos recursos financeiros necessários para a transição e na ajuda às nossas economias para lidar com a adaptação e mitigação (da mudança climática).”
O primeiro passo é investir na mitigação da crise ambiental e na adaptação climática. Além disso, os setores público e privado precisam convergir. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, é preciso haver um engajamento eficiente entre os criadores de políticas e as empresas para que se combata a mudança climática.
A Rede para Ecologizar o Sistema Financeiro (Greening the Financial System, em inglês), que abrange 83 bancos centrais que visam acelerar a ampliação da economia verde, pede que as instituições financeiras integrem os riscos ligados ao clima ao seu monitoramento da estabilidade financeira. Além disso, a Rede sugere que elas adicionem fatores de sustentabilidade ao seu portfólio e capacitem seus membros para melhorar o entendimento de como os fatores ligados ao clima se transformam em riscos e oportunidades.
Em meio aos desafios, o setor tem se mobilizado. Em janeiro de 2020, a BlackRock, maior empresa de gestão de ativos do mundo, entrou para o grupo de investidores Climate Action 100+, que pressiona empresas responsáveis por 66% das emissões industriais globais a criar planos para reduzir sua produção de gás carbônico. Juntos, os investidores do grupo lidam com ativos que valem mais de 35 trilhões de dólares. De acordo com o Climate Action 100+, a mudança climática é um risco sistemático dos quais os investidores não podem fugir.