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Os próximos passos da Aurora Alimentos e a sucessão na presidência

Após a morte de Mario Lanznaster, um dos protagonistas do sucesso da empresa, o desafio é crescer em meio à pressão de custos e à concorrência com JBS e BRF

Sede da Aurora Alimentos, em Chapecó, no oeste catarinense (Aurora Alimentos/Divulgação)

Sede da Aurora Alimentos, em Chapecó, no oeste catarinense (Aurora Alimentos/Divulgação)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 19 de outubro de 2020 às 12h35.

Última atualização em 20 de outubro de 2020 às 13h03.

Com a morte de Mário Lanznaster, um dos protagonistas do processo de crescimento da Aurora Alimentos ao longo das décadas, o terceiro maior conglomerado de carnes do país entra em uma nova e desafiadora fase: continuar crescendo em um contexto de pressão nos custos e competição cada vez mais acirrada.

Lanznaster não só presidia a Aurora desde 2008, mas também tinha ampla influência na complexa estrutura da companhia, que agrega 11 cooperativas. O jeito firme e a condução austera dos negócios eram conhecidos das 65.000 famílias cooperadas. "Se não houver punição exemplar pelos erros, perdemos o controle", dizia Lanznaster.

Ele também era extremamente cauteloso. No auge dos ganhos da Aurora, após dez anos consecutivos de crescimento da receita até 2019, Lanznaster decidiu manter o mesmo prédio como sede da companhia em Chapecó, no oeste catarinense, com uma estrutura simples e sem nenhum luxo.

A estratégia da empresa é reunir esforços para concorrer com as gigantes e líderes do setor, JBS e BRF. Em 2019, cinquentenário da Aurora, a cooperativa concluiu um investimento de 268 milhões de reais para ampliar a unidade de suínos em Chapecó, tornando-a a maior do país. O aporte permitiu dobrar a capacidade de abates do frigorífico, para 10.000 cabeças por dia. Com isso, a companhia pode abater 25.000 cabeças por dia.

A Aurora também atua na produção de aves -- com capacidade de um milhão de abates por dia -- e na produção de leite, com 1,5 milhão de litros diários.

Embora a cooperativa esteja preparada para atender a um eventual avanço da demanda no Brasil e no exterior, o aumento de custos sempre foi uma preocupação da gestão, especialmente o acesso ao milho, principal insumo para as operações da Aurora. A companhia consome 200 carretas do grão por dia e a oferta na região está praticamente esgotada.

Essa é a grande barreira de expansão da cooperativa: trazer a commodity de outros estados custaria muito caro e reduziria a competitividade. Levar a produção da Aurora para regiões distantes também não faria sentido para uma empresa gerida por seus cooperados. 

Além disso, o peso do frete também cresce para a cooperativa, principalmente no curto prazo. Com a pandemia do novo coronavírus, o custo do transporte marítimo aumentou de forma significativa, pressionando os exportadores. A Aurora tem grande parte da sua receita -- cerca de 25% -- nas exportações.

No caso da Aurora, o sistema de cooperativas permite que produtores de pequeno e médio porte tenham acesso ao mercado internacional com o ganho de escala. Atualmente, a companhia exporta para mais de 60 países, incluindo o exigente mercado dos Estados Unidos.

Com a pandemia, entretanto, a organização do mercado global de proteína animal ganha novos contornos. A preocupação que já vinha da gestão Lanznaster permanece: como manter o crescimento após a acomodação da demanda no mundo?

Em 2020, a expectativa é que o faturamento da Aurora alcance recorde histórico, de 15 bilhões de reais. A sobra, como é conhecida a receita líquida no sistema de cooperativismo, deve superar um bilhão de reais impulsionada pela alta do câmbio.

O momento é bom para as exportações do setor. Levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal mostra que os embarques de carne suína (entre in natura e processados) totalizaram 764.900 toneladas de janeiro a setembro de 2020, alta de 42,9% sobre igual período do ano passado. O saldo acumulado nos nove meses de 2020 supera, inclusive, as exportações totais do ano passado, que foram de 750.000 toneladas.

No entanto, a companhia do oeste catarinense sabe que a alta súbita da demanda não deve continuar para sempre. Neste horizonte, o desafio de se manter uma empresa financeiramente saudável, atendendo a dezenas de milhares de famílias, é monumental.

Sucessão

Por isso, a partir de agora, toda a atenção se volta para o próximo líder da Aurora. Os representantes das 11 cooperativas que integram a companhia têm 90 dias, pelo estatuto, para se reunir e votar, mas a expectativa é que uma assembleia geral seja marcada em breve para eleger o novo presidente da empresa.

Segundo apurou a reportagem da EXAME, Neivor Canton, atual vice-presidente da Aurora, deve ser eleito para a presidência. O executivo já exerce o cargo de forma interina.

O próximo passo do conglomerado será crucial para a nova e desafiadora fase que a Aurora vai enfrentar.

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