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O que mudou em Cupertino desde que a "nave" da Apple chegou

A equipe da Apple ainda vai chegar nos próximos meses; porém, a construção da sede já ajudou a transformar a região

A nova sede da Apple: o prédio que vai abrigar 12.000 pessoas está mudando a cidade de Cupertino (Laura Morton/The New York Times)

A nova sede da Apple: o prédio que vai abrigar 12.000 pessoas está mudando a cidade de Cupertino (Laura Morton/The New York Times)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2017 às 15h37.

Última atualização em 18 de julho de 2017 às 15h50.

Cupertino, Califórnia – As coisas mudam quando uma nave espacial chega à cidade. Os turistas passam curiosos, tirando seus iPhones para fotografar. Novas empresas abrem as portas e o preço dos imóveis dispara ainda mais.

O novo lar da Apple em Cupertino – em especial o prédio de quatro andares, 260.000 metros quadrados e 5 bilhões de dólares, que pode ser visto do espaço, e que as pessoas da cidade chamam de nave espacial – ainda está recebendo os retoques finais e os funcionários estão começando a se mudar para lá. A equipe total, cerca de 12.000 pessoas, vai chegar nos próximos meses.

Porém, a construção da sede, uma área de 70 hectares oficialmente conhecida como Apple Park, já ajudou a transformar a região.

Em Sunnyvale, a cidade que fica do outro lado da rua, 95 projetos de construção estão em planejamento. A gestora da cidade, Deanna J. Santana, afirmou que nunca viu tanta ação. Em Cupertino, um complexo de serviços e alimentação chamado Main Street Cupertino foi inaugurado em 2016. Essa faixa comercial no centro da cidade inclui o Lofts, uma comunidade com 120 apartamentos que serão inaugurados no segundo semestre, pequenas lojas e inúmeros cafés e restaurantes.

Outras empresas também estão se preparando. Um Residence Inn, na Main Street Cupertino, deve abrir as portas em setembro e foi ligeiramente adaptado para as necessidades dos funcionários da Apple. Os hóspedes terão acesso a Macs e internet de alta velocidade, afirmou Mark Lynn, parceiro da Sand Hill Hotel Management, que opera o hotel e consultou a Apple para saber o que os funcionários precisariam no hotel.

“Tudo o que temos está alinhado com aquilo que eles precisam. Eles representam um parte considerável dos nossos negócios”, afirmou Lynn.

As empresas de tecnologia não são novidade em Cupertino. A Apple chama a cidade de lar há décadas, e o campus da Hewlett-Packard ficava onde agora é o novo endereço da Apple, empregando 9.000 pessoas na época. As cidades do entorno também foram se modificando na última década, à medida que gigantes da tecnologia transformaram os imóveis do Vale do Silício nas propriedades mais caras do país.

Porém, as autoridades municipais e os moradores afirmam que esse projeto é diferente de tudo o que viram antes. E está até atraindo turistas.

As pessoas que passam pela rua tiram fotos da nave espacial. Helicópteros da TV circulam a propriedade. Fotógrafos amadores perguntam aos moradores se podem ficar ali para operar seus drones, na expectativa de um clique do Apple Park.

“Eu sempre digo que tudo bem”, afirmou Ron Nielsen, que vive em Birdland, um bairro de Sunnyvale que fica bem em frente à nave espacial. “Por que não?”

Os operadores de drones querem uma foto lá do alto, enquanto os pedestres tentam observar o prédio e suas curvas de vidro, antes que a sede seja escondida pela floresta que será plantada no local.

O campus é um dos últimos grandes projetos iniciados por Steve Jobs, o visionário fundador da Apple, que morreu há seis anos. Alguns meses antes de sua morte, ele conversou com a Câmara Municipal de Cupertino e apresentou sua visão de um lar circular futurista feito de vidro que iria fomentar a criatividade e a colaboração. Dois anos depois, a Câmara aprovou o projeto com unanimidade.

No centro do anel da nave espacial fica o Teatro Steve Jobs, uma academia de 9.300 metros quadrados, além de um centro para visitantes em um bosque com 3,2 quilômetros de trilhas e pistas de corrida. O interior do anel também conta com um pomar, um prado e uma lagoa.

O projeto todo exibe a obsessão da Apple com os detalhes. As janelas foram fabricadas na Alemanha e são consideradas os maiores painéis de vidro curvado do planeta. Um par de portas de vidro tem 28 metros de altura. O acabamento da garagem de concreto subterrânea é tão brilhante que parece um espelho, afirmou David Brandt, gestor da cidade de Cupertino.

“É muito, muito, muito surpreendente”, afirmou a prefeita Savita Vaidhyanathan, a respeito de sua visita. “Vi o teatro subterrâneo para mil pessoas e o teatro de fibra de carbono. O teto foi feito em Dubai, transportado e montado aqui. Eu adoro saber que isso foi construído na cidade e que posso me gabar.”

Boa parte da vista desaparecerá em breve dos olhos do público. O Apple Park receberá nove mil árvores, que irão cobrir boa parte dos espaços abertos. O público então terá acesso ao centro de visitantes e ao café, uma loja e um centro de observação no teto do prédio.

“Trata-se de uma estrutura de vidro separada em um bosque de oliveiras”. afirmou Dan Whisenhunt, vice-presidente imobiliário da Apple.

Nem todas as mudanças agradaram. Os habitantes de Birdland, um bairro com 877 casas, são os que mais se queixaram. Eles reclamam sobre o barulho da construção, que começa logo pela manhã, além do fechamento imprevisível de ruas, das feias barreiras pintadas de verde e dos buracos deixados pela construção, responsáveis por muitos pneus furados.

Quando seu carro ficou coberto de poeira da construção, Sheri Nielsen, esposa de Nielsen, entrou em contato com a Apple, que mandou cupons para que ela lavasse o carro.

Whisenhunt afirmou que a empresa tenta responder todas as reclamações que recebe, “e se o problema fosse muito sério, ele mesmo visitaria as pessoas para saber o que estava acontecendo”.

Durante a fase do projeto, a Apple realizou mais de 110 encontros com a comunidade para receber feedback. Birdland foi palco de encontros entre 2012 e o início de 2013 e recebeu informações sobre o que aconteceria nos próximos três anos de construção. A Apple criou cinco informativos comunitários e os enviou para 26 mil domicílios.

A Homestead Road, a rua que separa o Apple Park de Birdland, também se tornou assunto de debate. As autoridades de Cupertino queriam plantar árvores na faixa central para aliviar o barulho do trânsito. A Apple se ofereceu para cobrir os custos.

Porém, os donos das casas foram contra. Eles reclamaram que isso iria eliminar uma das faixas da estrada, piorando ainda mais o trânsito. Quando cerca de 20 vizinhos fora a uma reunião em Sunnyvale para se manifestar, a cidade acabou ficando do lado do povo.

O preço das propriedades do bairro também está causando preocupação. Sunnyvale e Cupertino, como muitas outras cidades do Vale do Silício, estão passando por um longo boom imobiliário, com o crescimento do setor de tecnologia. Os preços na região realmente começaram a crescer, de acordo com agentes imobiliários e moradores, depois que a Apple divulgou seus planos.

Uma casa de três quartos, dois banheiros e 420 metros quadrados que custava 750.000 dólares em 2011 dobrou de preço. Desde que a Apple afirmou que iria se mudar para a velha sede da Hewlett-Packard, os preços aumentaram de 15 a 20 por cento a cada ano, afirmou Art Maryon, agente imobiliário da cidade. Atualmente, as pessoas costumam oferecer de 20 a 25 por cento mais que o preço de mercado.

Birdland já está atraindo funcionários da Apple, substituindo os proprietários que venderam para se mudar para regiões mais tranquilas. Aqueles que ficaram perceberam que a vida não será mais a mesma depois que 12.000 funcionários da Apple passarem a transitar no dia a dia.

As pessoas do bairro não gostam de pensar no aumento do trânsito e imaginam que os trabalhadores irão estacionar os carros na porta de suas casa, já que não há vagas suficientes na garagem da empresa.

A Apple afirma que continuará respondendo as queixas dos moradores, afirmou Whisenhunt. “Quando você diz às pessoas o que vem pela frente, elas se acalmam bastante”, afirmou. Ainda assim, “não dá pra deixar todo mundo feliz”, reconheceu.

Kathy Chin Leong © 2017 New York Times News Service

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