Suzano: se aprovada pelo Cade, aquisição pode transformar a brasileira em uma gigante global (Germano Luders/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 16 de março de 2018 às 18h12.
Última atualização em 16 de março de 2018 às 18h25.
São Paulo – Em um mercado em que ganha o maior, a aquisição da Fibria deve impulsionar o tamanho e os ganhos da Suzano.
A companhia resultante da fusão, anunciada hoje, pode ser a maior empresa no setor de papel e celulose do mundo. De acordo com o presidente da Suzano Papel e Celulose, Walter Schalka, é a maior empresa do agronegócio e a quinta maior empresa não financeira do Brasil.
Somadas, as companhias terão um valor de mercado de 83 bilhões de reais, com 37 mil funcionários diretos e indiretos.
O seu tamanho representa, ao mesmo tempo, sua maior força e o maior desafio. Ao mesmo tempo em que a empresa resultante teria maior poder de negociação, a sua liderança no mercado brasileiro pode fazer com que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) analise a transação com mais rigor.
Para o professor Paulo Furquim de Azevedo, coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, o mercado de celulose é de escala. Ou seja, quanto maior a empresa, mais o seu custo de produção cai e maiores serão seus ganhos. O custo para armazenamento da celulose fica menor com a escala, assim como as despesas com logística.
Além disso, a gigante ainda ganharia com o poder de negociação de preço. Ao se tornar uma líder no mercado nacional, ela poderia impor um valor mais vantajoso ao seu produto. Esse poder não se reflete no ambiente internacional, já que há mais concorrentes fortes, diz o professor.
A empresa ainda ganha em sinergias, ou seja, cortes de custos e melhorias de eficiência como resultado da fusão. As sinergias esperadas pela Suzano são avaliados entre 8 e 10 bilhões de reais.
Esse possível aumento de força e cortes de custo podem melhorar o perfil financeiro da companhia. De acordo com relatório do Banco do Brasil, "as melhoras nos preços realizados de celulose poderiam adicionar 1 bilhão de reais a 1,5 bilhão de reais ao Ebitda da nova empresa já no médio-prazo. Desconsiderando os benefícios sinérgicos, já estamos falando de um Ebitda para o fim de 2018 de 12,3 bilhões de reais".
Apesar do otimismo da companhia com a aquisição, o negócio ainda não está totalmente garantido. Exatamente pelo tamanho da empresa resultante da fusão, o negócio será analisado com rigor pelo Cade.
“As duas empresas combinadas teriam muita força no mercado tradicional e poderiam usá-la para prejudicar a concorrência”, afirmou o professor.
O órgão não aprovou a aquisição da Liquigás pela Ultragaz e nem a fusão entre os grupos educacionais Kroton e a Estácio. Por isso, é possível esperar uma avaliação rigorosa em relação à criação da gigante de papel e celulose.
A Fibria estava sendo disputada, nas últimas semanas, tanto pela Suzano quanto pela canadense Paper Excellence, que em setembro de 2017 anunciou a compra da Eldorado Celulose, em transação avaliada em R$ 15 bilhões. A brasileira pertencia à J&F Investimentos, dos irmãos Batista.
Na noite da quinta-feira, 15, a PE fez uma última proposta pela Fibria, mas foi rejeitada pelos acionistas da empresa.
Depois de algumas semanas de negociação, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou ontem a proposta da Suzano para a compra da concorrente. O banco de desenvolvimento era um de seus maiores acionistas. Pelo seu braço de investimentos, o BNDES Par, ele era dono de 29,08% da Fibria. A família Ermírio de Moraes, controladora do grupo Votorantim, detinha outros 29,42% da empresa.
O banco informa que receberá “parte significativa” da venda em dinheiro, cerca de R$ 8,5 bilhões, além de receber ações da companhia resultante.
Na nova composição acionária da companhia, o BNDESPar manteria 11,1% de participação. A Votorantim ficaria com 5,6%. Os maiores acionistas permanecem os membros da família Feffer, donos da Suzano, com 46,4%.
Veja abaixo os principais números da aquisição e do mercado de papel e celulose, no Brasil e no mundo.