Steve Ballmer, presidente da Microsoft: corrida contra o tempo (Sean Gallup/Getty Images)
Tatiana Vaz
Publicado em 16 de outubro de 2012 às 19h05.
São Paulo – Nas últimas décadas, a Microsoft se consagrou como a empresa inovadora e dinâmica, aquela que dava um frio na espinha de qualquer concorrente pela sua habilidade rara de liderar a atuação em setores diversos – além de, claro, ter controle hegemônico do mercado de PC´s. A maior companhia de software do mundo representava uma ameaça e impunha respeito à concorrência.
Porém, hoje, só sobrou o respeito.
Sob o comando de Steve Ballmer, a companhia luta para reaver os tempos dourados de liderança de anos atrás, quando a empresa ainda era comandada por Bill Gates e empresas como Google e Facebook nem existiam e a Internet ainda tinha muito espaço para se difundir. A companhia precisa trazer retornos rápidos, depois de quedas consecutivas de resultados.
O desafio do CEO é fazer isso com uma rapidez tal que consiga suprir a avidez dos investidores, apontam analistas. Nos últimos dias, a empresa já apresentou algumas iniciativas para seguir com essa missão.
Há uma semana, a empresa anunciou o lançamento do Windows 8 nos Estados Unidos, novo sistema que traz a novidade de poder rodar em tablets. Junto dele, dias depois, anunciou o lançamento do Surface, tablete que será vendido por um preço abaixo do iPad da Apple – e deixa claro a intenção da companhia em brigar por esse mercado. Também nesta segunda-feira, ainda lançou o Xbox Music, serviço criado para concorrer com o iTunes da Apple e com o Cloud Player da Amazon.
“Quero deixar absolutamente claro que não vamos deixar nenhum espaço livre para a Apple”, disse Ballmer recentemente em uma entrevista à CRN. Uma iniciativa dada como tardia a alguns analistas do setor.
Tempo perdido
A questão é que a Microsoft, sob comando de Ballmer, preferiu ficar de fora de algumas das mais lucrativas e promissoras inovações de nosso tempos, como de música digital e tablets. Setores que não só fizeram de empresas desconhecidas novas bilionárias como mudaram a relação dos consumidores com as marcas e produtos.
“Ele está permitindo que concorrentes superem a Microsoft em diversas áreas, como pesquisa, software para comunicações móveis, tablets e redes sociais”, disse David Einhorn, presidente do fundo de investimentos Greenlight Capital, à Bloomberg, em maio.
Aliado ao sistema lento de processamento de novas ideias, a companhia ainda está tendo problemas de com a divisão on-line. A empresa pagou 6,3 bilhões de dólares, em 2007, na compra da empresa de publicidade web aQuantive, em 2007, numa tentativa de lucrar com receitas de anúncios relacionados a buscas, assim como o rival Google.
Porém, depois de amargar prejuízos, a divisão teve uma baixa contábil de 6,2 bilhões de dólares em junho, o que motivou a fabricante a reduzir as expectativas de ganhos com esse braço de negócios. Ballmer ainda teria falhado em atender requerimentos de um acordo de 2009 da companhia com a Comissão Europeia para entrega de produtos.
Tanta notícia ruim fez com o conselho da Microsoft cortasse o bônus de Ballmer para o ano fiscal de 2012. O executivo recebeu uma bonificação de 620 mil dólares, valor abaixo da meta e menos da metade que o bônus máximo possível, e também menor em relação ao do ano anterior, de 682,5 mil de dólares.
Correr atrás do tempo perdido virou então uma necessidade vital para que Ballmer permaneça na empresa. Mas, além disso, ele precisará provar que tem pulso firme e mente aberta o bastante para fazer com que ela inove em um setor fadado à inovação constante. E evitar que a Microsoft tenha o mesmo distante de outras grandes empresas de tecnologia esquecidas por terem fôlego para continuar em um caminho altamente competitivo.
Ballmer também terá de limpar a barra da sua própria imagem, desgastada pela opinião de quem acompanhava o seu comando de perto. “Ele é o pior CEO de uma companhia aberta americana hoje”, disse em maio o articulista da Forbes, Adam Hartung.