PETROBRAS: companhia bateu recorde de produção de petróleo em 2016 / Germano Lüders
Da Redação
Publicado em 24 de maio de 2016 às 16h46.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h00.
Para quem esperou tanto tempo, não serão mais sete dias que devem fazer diferença. Nessa segunda-feira, dia 23, estava prevista a aprovação, pelo conselho de administração, do nome do novo presidente da Petrobras, o engenheiro Pedro Parente. Mas uma série de questões burocráticas jogou a decisão para a segunda-feira que vem, dia 30. Uma reprovação é improvável, e Parente deve assumir o cargo já no dia seguinte. Seria um sopro de ânimo como há tempos não se via na estatal. O tamanho real do dragão a ser enfrentado por Parente, porém, só deve ficar claro a partir daí.
Parente assume uma empresa quebrada e sem rumo, mas seu currículo traz certo conforto. O engenheiro de 63 anos tem ampla experiência no setor energético e já atuou tanto no serviço público quanto privado. Ele foi ministro da Casa Civil, do Planejamento e de Minas e Energia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ficou nacionalmente conhecido em 2001, ao liderar o plano de racionamento de energia. Foi consultor do Fundo Monetário Internacional e é presidente do conselho da BM&FBovespa. Por quatro anos foi presidente da empresa de alimentos Bunge e, hoje, é sócio da consultoria Prada.
O desafio começa pelo momento. O barril de petróleo está cotado abaixo dos 50 dólares e deve ficar lá por um bom tempo, o que dificulta a viabilidade econômica de áreas importantes da camada Pré-Sal. “Ele vai pegar uma empresa dilapidada e precisa pensar em projetos que sejam adequados à crise de combustíveis que o mundo vive hoje”, diz o engenheiro David Zylbersztajn, primeiro diretor da Agência Nacional do Petróleo.
Além disso, assim como seu antecessor, Aldemir Bendine, Parente vai precisar conviver com a sombra da operação Lava-Jato, que pode revelar novos escândalos dentro da companhia e aumentar a insegurança dos investidores. O vaievém dos primeiros dias do governo Temer também joga contra – para investidores, quanto mais previsibilidade no novo governo, melhor.
Em meio todo esse terremoto, Parente, ao menos, assume uma companhia que já tinha parado de piorar. Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil, fez uma gestão focada no fluxo de caixa, que prevê vendas de ativos no valor de 15 bilhões de dólares entre 2015 e 2016, e em cortes de custos. O objetivo final é nobre: salvar a companhia, atolada numa dívida de 450 bilhões de dólares. Para o período de 2015 a 2019, estavam previstos 130 bilhões de dólares em investimentos, mas o número já caiu para 98 bilhões.
Sinal de que as coisas pelo menos começavam a caminhar de forma racional é o fato de o diretor financeiro Ivan Monteiro, que foi chamado por Bendine para administrar o caixa da empresa, foi convidado a permanecer no cargo, e vai ficar. A Petrobras perdeu classificação nas agências que avaliam riscos de investimentos, porém, ainda assim, o executivo tem conseguido negociar com o mercado internacional. A empresa está participando de rodadas para vender quase 7 bilhões de dólares em títulos de dívidas, e, em fevereiro, havia conseguido 11 bilhões de dólares junto à China.
O que a troca significa
A passagem de Bendine pela Petrobras foi meteórica. Assumiu em situação extremamente difícil e, mesmo passando menos de um ano no cargo, conseguiu avançar. “Ele conseguiu diminuir a exposição da empresa nas páginas policiais, iniciou o processo de abertura de novas fontes de capital e deixou uma marca positiva ao vender com sabedoria que os desinvestimentos são essenciais para a empresa no momento”, afirma o economista e engenheiro Edmilson dos Santos, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e especialista da petróleo.
“Mas há um problema: ele não encaminhou completamente a limpeza de pessoas de indicação política que ainda ocupam as entranhas da organização”, diz Santos. Parente afirmou, em seu discurso de posse, que não vai aceitar indicações políticas. O risco é sofrer com as influências políticas e não convencer o governo a rever questões que podem ser decisivas, como rever a obrigação de a petroleira participar de todos os blocos de exploração do petróleo.
Se a independência é um problema potencial, lidar com os ânimos dos sindicatos também deve ser. A escolha de Parente foi repudiada pela Federação Única dos Petroleiros. A federação questiona decisões tomadas por Parente na época do governo FHC que teriam prejudicado a empresa e critica sua postura “ultraliberal”. Ainda ressalta o processo que há em curso contra ele no Supremo Tribunal Federal. Junto com Pedro Malan e José Serra, que também foram ministros de FHC, o executivo é investigado por improbidade administrativa.
As ações, apresentadas pelo Ministério Público Federal, questionam o repasse de 2,97 bilhões de reais do Banco Central aos bancos Econômico e Bamerindus, num movimento que fez parte de um programa de socorro a bancos privados, em 1994. O processo havia sido arquivado pelo ministro Gilmar Mendes em 2008, mas foi reaberto pelo Supremo em março a pedido da Procuradoria Geral da República.
Desafios do novo gestor
Há uma certeza no caminho de Parente – a recuperação da Petrobras exige a busca de investimentos no exterior. O ministro da Fazenda Henrique Meirelles já deixou claro que aportes às estatais não estão previstos no plano de governo. “A expectativa é que não seja necessário e nós não poderíamos dar um sinalização ao mercado que achamos necessário capitalização”, disse Meirelles a EXAME Hoje.
O presidente em exercício Michel Temer anunciou que um dos projetos de seu governo é flexibilizar o investimento da Petrobras no pré-sal e estimular ainda mais a descentralização administrativa da empresa. Neste plano, está inclusa a criação de um departamento focado no estudo e estímulo às concessões, para atrair o investimento privado. Não vai ser fácil. “O pré-sal é complicado, é arriscado, é demandante de muito capital novo, mas é a essência da Petrobras para as próximas décadas. A empresa já está vendendo ativos, excelentes, inclusive, que podem ajudar a financiar o pré-sal”, afirma Edmilson dos Santos, da USP. Uma dúvida na mesa: o governo vai manter o preço dos combustíveis elevados mesmo com as quedas no mercado internacional, para recuperar o caixa da empresa, apesar da pressão de grandes consumidores da indústria?
Além de todos os desafios técnicos e de gestão, nesta terça-feira, a Polícia Federal deflagrou a 30ª fase da Lava-Jato, a Operação Vício, centrada em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras. A polícia está investigando o pagamento de propinas em contratos firmados para a aquisição de navios-sondas e o uso de operadores e contratos fictícios de prestação de serviço, com cotas para políticos do PMDB, do PT e do PP. Entre os acusados estão o ex-ministro José Dirceu e a esposa do senador Fernando Collor. É mais um entrave para resgatar a imagem da empresa – e levá-la de volta ao lugar de destaque que, não faz muito tempo, ocupou no imaginário e no mercado de capitais nacional.
(Camila Almeida)