Pedro Bartelle, CEO da Vulcabras: "A verticalização de toda a produção é um grande diferencial competitivo" (Fábio winter/BFSHOW/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 27 de novembro de 2023 às 15h41.
Última atualização em 5 de dezembro de 2023 às 11h55.
A fabricante de calçados esportivos Vulcabras vive seu melhor momento em mais de 70 anos. A dona da Olympikus, Mizuno e Under Armour está crescendo dois dígitos há 13 trimestres consecutivos. No terceiro trimestre deste ano, o faturamento líquido chegou a R$ 731,4 milhões, alta de 10,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
O cenário de expansão, porém, não se reflete nos números do mercado calçadista brasileiro. Apesar de ser o maior produtor fora da Ásia, o setor projeta retração de 1,1% na produção de calçados em 2023, para 839,3 milhões de pares.
O dados foram divulgados durante a primeira edição da feira calçadista Brazilian Footwear Show (BFShow), realizada na última semana no Centro de Eventos Fiergs, em Porto Alegre.
Além do atual cenário macroeconômico, com alta taxa de juro e endividamento elevado, lideranças do setor destacam o impacto da importação de calçados, que já avançou 24% neste ano.
Para Pedro Bartelle, CEO da Vulcabras, categorias de calçados mais elaborados, como tênis, sapatos masculinos e botas, sempre disputaram o mercado interno com produtos importados. Quem mais sentiu o crescimento das plataformas asiáticas no Brasil, e a isenção de impostos para compras de até US$ 50, foi a categoria de calçados femininos.
"Antigamente os calçados femininos não sofriam muito com as importações. O frete era praticamente o preço do produto e as coleções sazonais demoravam para chegar. Hoje, as plataformas entregam os produtos em poucos dias. Isso está causando um dano gigante para a indústria feminina", diz o executivo em entrevista à EXAME.
Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados, afirmou durante a coletiva de imprensa da BFShow que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), disse que isenção de impostos para compras internacionais de até US$ 50 vai acabar até o fim do ano.
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O grande diferencial da Vulcabras, segundo Bartelle, é a verticalização da produção. Com 18 mil funcionários, duas fábricas, em Horizonte (CE) e Itapetinga (BA), e o maior centro de pesquisa e desenvolvimento da América Latina, localizada em Parobé (RS), a companhia consegue entender as demandas do mercado e produzir calçados em escala de forma rápida.
"A verticalização de toda a produção e interação com esse centro de desenvolvimento é um grande diferencial competitivo", diz Bartelle.
A companhia não conta com empresas terceirizadas para os processos de fabricação, apenas para a compra de alguns insumos, como cadarços. Hoje, a Vulcabras consegue desenvolver e produzir calçados esportivos em escala em menos de um ano — tempo abaixo da média do mercado.
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As lojas multimarcas são o canal de vendas mais representativo da companhia, que também conta com algumas lojas próprias e e-commerce. De acordo com o CEO, os lojistas multimarcas disponibilizam praticamente diariamente o número de vendas, o que garante maior inteligência de mercado na hora das reposições.
"Nós conseguimos reabastecer os nossos 10 mil clientes de forma mais rápida com os produtos de maior giro, ampliando as margens do varejo", diz o CEO.
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Outro ponto importante é o investimento em inovação e desenvolvimento de novos modelos. Nos últimos cinco anos, a Vulcabras investiu R$ 600 milhões em tecnologia e inovação para o segmento.
Com uma equipe de mais de 700 pessoas, o centro de pesquisa e desenvolvimento de Parobé, no Rio Grande do Sul, desenvolve cerca de 800 novos modelos por ano. Entre os destaques está o tênis de corrida com placa de propulsão à base de grafeno, tecnologia desenvolvida pela Olympikus no Brasil.
"Com uma tecnologia própria, nós desenvolvemos um tênis de corrida de alta performece por um preço abaixo do mercado. Estamos democratizando a prática esportiva no Brasil", diz.
Além dos desafios no mercado interno, com o aumento da importação de calçados asiáticos, o setor calçadista brasileiro enfrenta retração também nas exportações. O volume exportado deve terminar o ano com queda de 12,4%, mas segue acima do patamar de 2019, projeta a Abicalçados.
Entre as razões apresentadas estão o superabastecimento do mercado internacional, além de economias mais recessivas.
Com grande foco em exportação, a BFShow reuniu 137 marcas expositoras, e recebeu mais de 7 mil visitantes, entre eles, mais de 150 compradores internacionais de 30 países. A expectativa do setor é de que as exportações avancem 1% em 2024.
Na Vulcabras, as exportações também encolheram. Hoje, a companhia está presente em 20 países, com atuação robusta na América Latina, onde conta com 46 lojas exclusivas no Peru e no Chile.
"As exportações já chegaram a representar 15% do nosso faturamento. Hoje, a companhia exporta cerca de 9%. Nós fomos impactados pela desaceleração da América Latina, principalmente da Argentina, que já foi um mercado muito importante para nós", diz.
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