São Paulo - O banqueiro André Esteves, preso na manhã desta quarta-feira, em operação da Polícia Federal, já foi o bilionário mais jovem do país ao transformar o BTG Pactual no maior banco de investimento independente da América Latina.
No entanto, o empresário passa hoje por tempos difíceis.
Citado em fevereiro pelo doleiro Alberto Youssef em delação premiada da Operação Lava Jato, Esteves teria investido na empresa de postos de gasolina Derivados do Brasil, a DVBR, segundo a revista Época.
A companhia firmou parceria com a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras e, segundo o doleiro Youssef, houve pagamento de propina de 6 milhões de reais na sociedade, que está sendo investigada.
O banco BTG Pactual esclareceu, na época, “que o investimento na Derivados do Brasil foi feito pela BTG Alpha Participações, uma companhia de investimento dos sócios da BTG, e não pelo Banco BTG Pactual”.
Em junho, Esteves voltou a aparecer nas investigações. O seu nome estava em um bilhete de Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira que leva seu nome. O bilhete, escrito da prisão, pedia para “recuperar iniciativa de André Esteves” e “destruir email de sondas”.
Além dele, também foram presos o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o advogado Edson Ribeiro, que atuou para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, e Diogo Ferreira, chefe de gabinete do Delcidio do Amaral.
Milhões perdidos
A prisão de Esteves é o revés mais recente do banqueiro. Ele enfrenta dificuldades há dois anos por conta de investimentos do banco em empresas no setor de petróleo.
Seus problemas começaram em 2013, quando o império de Eike Batista começou a desmoronar. Na época, a fortuna de Esteves caiu 1,3 bilhões de dólares, depois que o BTG firmou acordo com a EBX, controladora da OGX.
Logo depois, o banco cancelou um empréstimo de 1 bilhão de dólares às empresas de Eike.
Este ano, a crise piorou. Em março, a sua fortuna havia caído 650 milhões de dólares, 19%. É a maior perda entre os banqueiros, segundo o Bloomberg Billionaires Index.
A queda está relacionada ao escândalo de corrupção da Petrobras. O banco BTG Pactual enfrenta dificuldades por conta empréstimos e investimentos em companhias afetadas pelo escândalo da petroleira.
No início do ano, Esteves tentou acalmar investidores, afirmando que apenas 4% de sua carteira de crédito estava no setor de petróleo e gás – 40% desse valor garantido pela Petrobras.
Os empréstimos para o setor de construção, por sua vez, estavam concentrados em empresas de grande porte. Por isso, o banco não seria tão impactado pela crise que atinge esses setores.
Mesmo assim, o Deutsche Bank AG cortou ações do BTG, afirmando que o banco tem a maior exposição entre os brasileiros a empresas dos setores de petróleo e de construção envolvidas na Operação Lava Jato.
Um dos exemplos é a Sete Brasil, empresa da qual é sócio ao lado do Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Santander.
A companhia de fabricação de sondas de petróleo teve investimentos pesados do BTG, que apostava no sucesso da exploração do pré-sal.
No entanto, a situação da Sete Brasil só piora, desde a crise da Petrobras, sua maior parceira de negócios.
"Vamos agora tentar fazer o cadáver ressuscitar, vamos dar choque elétrico no peito e vamos ver se reestrutura", completou, bem-humorado", disse Esteves em uma entrevista recente.
Ambição Meteórica
Com boa relação tanto com políticos, quanto com empresários, André é considerado um dos banqueiros mais influentes do Brasil.
Ele se graduou em ciências da computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Começou sua carreira em 1989, com 21 anos, quando ingressou no então Banco Pactual.
Seu primeiro cargo foi de analista de sistemas. Quatro anos depois, se tornou sócio da instituição. Quando o banco suíço UBS comprou o pactual, por 2,6 bilhões de dólares, Esteves tornou-se o CEO do UBS Pactual.
Em 2008, vendeu a sua participação no banco suíço por 3,1 bilhões de reais. De volta ao Brasil, fundou a BTG.
Um ano depois, recomprou o Pactual por 2,5 bilhões de dólares, quando o UBS enfrentou dificuldades. Nasceu, então, o BTG Pactual.
Esteves também é membro do conselho da BM&FBovespa e da FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos), além de membro do Conselho Latino Americano da Harvard Business School, do Conselho da Fundação Estudar e do Conselho Global da Conservation International (CI).
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1. Compras em série
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1/16 (Germano Lüders/EXAME)
São Paulo - Nas palavras de André Esteves, o BTG Pactual é um banco de investimento que investe. A frase pode parecer uma obviedade. Mas diante da carteira de empresas das quais o BTG é sócio, fica fácil entender por que, de fato, ele destoa de seus pares que marcam presença no Brasil. Hoje, 25 companhias de setores diferentes contam com participação direta do banco. Para boa parte do mercado, a diversificação dos negócios está no cerne das gordas cifras embolsadas pelo BTG. Em 2011, o rendimento líquido da instituição chegou a 1,9 bilhão de reais, um aumento de 18,8% em relação ao ano anterior. Embora a maior parte da bolada tenha sido gerada a partir das atividades de renda fixa, câmbio e commodities, o BTG se destaca por atuar em outras áreas. A assessoria a empresas em operações de fusões, aquisições, emissões de ações e títulos é uma delas. Outra fonte de receita advém da gestão de fundos e fortunas. Além de administrar recursos de terceiros, o BTG também investe seu próprio dinheiro em companhias brasileiras. Conheça quais são elas nas páginas a seguir:
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2. Banco PanAmericano
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Depois de descoberto um rombo de 4,3 bilhões de reais nas contas do PanAmericano, Silvio Santos vendeu o controle da instituição ao BTG Pactual por 450 milhões de reais. Antes da fraude ser descoberta pelo Banco Central, a Caixa Econômica já havia comprado 49% do negócio. Com a transação, o BTG marcou o início das suas atividades no varejo, ainda que indiretamente. No fim do ano passado, o banco redobrou a aposta no apetite dos brasileiros por crédito, principal atividade do PanAmericano. Em dezembro, a instituição e o BTG anunciaram a compra da Brazilian Finance & Real Estate, empresa com atuação no mercado financeiro imobiliário, em um desembolso conjunto de 1,2 bilhão de reais.
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3. BR Pharma
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3/16 (Germano Lüders/Exame)
A Brazil Pharma faz parte das empresas nas quais o BTG investe através do seu maior fundo de private equity, o BTG Pactual Brazil Investment Fund I. A companhia de varejo farmacêutico passou a ser negociada em bolsa em junho de 2011. Até então, ela já contava com um bom punhado de empresas no portfólio: Rede Nordeste de Farmácias, Rosário Distrital, Centro-Oeste Farma, Guararapes, Farmais e Mais Econômica. Depois do IPO, a BR Pharma intensificou as compras, arrematando a rede de Drogarias Big Ben, a Estrela Galdino e Farmácia Sant´ana. As aquisições contribuíram para que a BR Pharma fechasse 2011 com 986 pontos no Brasil - o maior número de lojas entre suas concorrentes no país.
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4. BR Properties
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4/16 (Divulgação)
Controlador da BR Properties com uma participação de 67,49% no negócio, o BTG também atua no segmento de projetos imobiliários comerciais. A empresa é fruto da aliança entre a WTorre e o banco na incorporação da One Properties. O governo de Cingapura é outro acionista da empresa, mas com uma fatia bem mais modesta: 5,21%. Em abril, a BR Properties anunciou a aquisição da Ventura Empreendimentos por 746,2 milhões de reais.
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5. Mitsubishi
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5/16 (Divulgação)
Em 2010, o banco mirou o setor automotivo com a compra de uma participação minoritária das operações brasileiras da Mitsubishi. Com a transação, o BTG passou a fazer parte da administração da companhia. Embora o tamanho da fatia adquirida nunca tenha sido revelado, em abril do ano passado o empresário Eduardo Souza Ramos, dono do grupo, divulgou o plano de investir 1 bilhão de reais na Mitsubishi em parceria com o banco. O volume se equipara à soma recebida pela fábrica instalada em Goiás desde a sua inauguração, em 1998, até a data do anúncio.
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6. Suzuki
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6/16 (Sean Gallup/Getty Images)
Controlada pelo MMC, mesmo grupo reponsável por trazer a Mitsubishi ao país, a Suzuki é outra importadora de carros a fazer parte do grupo de empresas com carimbo do banco. O BTG não revela quanto possui na companhia. Mas é provável que o lucro com as atividades da Suzuki tenha sido menor que o embolsado com a Mitsubishi. Em 2011, foram 8.000 veículos vendidos no Brasil, contra 60.000 da também japonesa Mitsubishi.
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7. Rede DOr
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7/16 (ROBERTO SETTON/VEJA)
Após a entrada do BTG no capital na Rede D'Or, há dois anos, o grupo hospitalar viu crescer sua veia compradora. Nesta segunda, inclusive, a empresa anunciou a aquisição do Hospital Santa Luzia e de 99,7% do Hospital do Coração do Brasil, em Brasília. Hoje são 24 hospitais da rede no país. Além da capital federal, a presença da Rede D'Or estende-se a São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Entre outras incorporações emblemáticas estão a do grupo São Luiz, com três hospitais, e do Nossa Senhora de Lourdes, ambos em São Paulo.
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8. CPFL e empresas de energia
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8/16 (Divulgação)
Por meio do FIP Brasil Energia, um fundo de private equity unicamente voltado para companhias do segmento, o banco detém participação em uma série de empresas. Além da pequena fatia de 0,35% na CPFL, também fazem parte do portfólio a Gera Amazonas, a Tevisa (com instalada no Espírito Santo), a Gera Norte (Maranhão) a Pequena Central Hidrelétrica Rio do Braço (Rio de Janeiro), a Linhares Geração (Espírito Santo) e a Intesa (Goiás e Tocantins).
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9. Estapar
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9/16 (Renata Ursaia)
Em 2009, o BTG anunciou a compra de metade da Estapar. Hoje, o banco é o controlador da rede de estacionamentos, com participação de 77,4% na empresa. Com presença em 15 estados do território nacional e mais de 800 estacionamentos entre operações próprias e franqueadas, a companhia recebeu um aporte de um fundo de investimento da americana Franklin Templeton no fim de 2011.
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10. Estre Ambiental
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Em outubro de 2011, o BTG se associou à Estre Ambiental, apostando na crescimento do setor de gerenciamento de resíduos sólidos e saneamento ambiental. Com uma fatia de 6,78% na empresa, o banco tornou-se sócio de um negócio que começou em 1999, com a criação de um aterro sanitário em Paulínia, em São Paulo. Hoje, a Estre é uma das principais provedoras de soluções para o lixo no Brasil.
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11. CCRR
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11/16 (Marcelo Zocchio/INFO)
Poucos dias depois de anunciado o negócio com a Estre, foi a vez da CCRR entrar no portfólio de private equity do banco. Líder no mercado de adesivos na América Latina, a companhia é resultado da fusão da Colacril, maior fábrica de adesivos da América Latina, e da RR Etiquetas, responsável pela implantação do código de barras no Brasil. A participação do BTG no negócio é de 17,84%.
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12. Brasbunker
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12/16 (Divulgação)
O banco colocou o pé na indústria de petróleo e gás com a compra de 12,92% da Brasbunker em 2010. Especializada em serviços de transporte marítimo, logística offshore e construção e reparo naval, a companhia também oferece serviços de proteção ambiental. A Brasbunker possui um estaleiro próprio de 20.000 metros quadrados em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.
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13. STR
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13/16 (Antonio Milena/Veja)
Intensificando os negócios na área de petróleo, o banco comprou 9% da STR, também em 2010. A empresa é uma holding de capital fechado que administra a Petra Energia - do segmento de exploração de petróleo e gás - e a Vicenza Mineração, do ramo de exploração do minério. Hoje, a Petra detém participação na Bacia de Solimões (foto) e em blocos terrestres na Bacia do Parnaíba. Nesta última, a companhia opera em sociedade com a OGX, do bilionário Eike Batista.
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14. Beat, MaxHaus e UpTown
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De olho no expansão imobiliária no sudeste, o BTG comprou 44,7% da Beat, que possui um empreendimento residencial em São Paulo com apartamentos de 50 metros quadrados e valor geral de vendas (VGV) de 62 milhões de reais. O banco de investimento também tem 50% de participação na MaxHaus (prédio residencial em São Paulo) e 35% na UpTown (salas, lojas e galpões no Rio de Janeiro).
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15. DVBR
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15/16 (AFP)
Em 2008, o BTG Pactual e a Setee Participações (antiga Aster) se uniram para adquirir a maior parte dos postos da Rede Via Brasil. Resultante da fusão, a DVBR (Derivados do Brasil) conta com mais de 120 estabelecimentos espalhados em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em média, a operadora comercializa 400 milhões de litros de combustíveis por ano.
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16. Santé e companhias nordestinas
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16/16 (Bing Ramos/Wikimedia Commons)
Por meio do fundo Nordeste Empreendedor, o BTG é dono de 2,74% da Santé Alimentação, especializada em refeições industriais. O mesmo fundo possui uma pequena fatia da Gratícia, que fabrica salgadinhos com forte penetração em Pernambuco, e da Frotamais, que terceiriza frotas automotivas na região.