Conselho da Opep: revisão para baixo do consumo nos próximos 25 anos (Opep/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 8 de outubro de 2020 às 13h17.
Embora a pandemia tenha virado a indústria petrolífera de cabeça para baixo, os investimentos demandados para atender ao consumo nos próximos anos ainda serão significativos. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) anunciou nesta quinta-feira, 08, uma revisão para baixo das projeções de demanda nos próximos 25 anos, ainda assim, o cartel estima que os aportes necessários em todo o setor (incluindo refino) somem 12,6 trilhões de dólares até 2045.
A nova previsão da Opep contempla que o consumo global atinja 109,3 milhões de barris por dia (bpd) em 2040, 1 milhão de bpd abaixo da projeção anterior.
Para 2045, a demanda deve cair para 109,1 milhões de bpd. "O surto da pandemia de covid-19 resultou na queda mais acentuada de consumo de petróleo da história. Apesar disso, a nossa previsão é que a demanda global continue crescendo no médio e longo prazo, aumentando 25% até 2045", diz o cartel.
Marcelo Assis, chefe de pesquisa da consultoria especializada Wood Mackenzie América Latina na área de upstream, afirma que os impactos mais fortes da covid-19 nos investimentos das petroleiras devem ocorrer em 2020, com cortes que somam 20% globalmente. A tendência é que ao longo dos próximos anos haja um restabelecimento dos aportes, principalmente porque a indústria global precisa adicionar cerca de 5 milhões de bpd por ano para compensar a queda natural dos volumes nos campos já existentes.
"Em 2021, a expectativa é de retomada do consumo e reequilíbrio dos preços com o fechamento de capacidade de produção nos Estados Unidos e em países menos competitivos", diz Assis.
Segundo o especialista, porém, a recuperação do consumo não veio conforme o esperado neste ano. Anteriormente, havia a expectativa de vacina do coronavírus no final deste ano, porém, isso não está se concretizando. "O cenário se desenha bastante duro para a indústria também em 2021."
De acordo com a Opep, o petróleo ainda deve ter a maior participação na matriz energética no período, respondendo por 27% do total em 2045. No entanto, o crescimento mais acelerado deve vir do gás natural.
Assis destaca, entretanto, que essa expansão do gás depende da política energética adotada nos Estados Unidos, maior consumidor do mundo. A depender das eleições americanas, o início do declínio do consumo da commodity pode ser antecipado.
"Se o candidato democrata Joe Biden vencer as eleições e cumprir a promessa de apostar mais em energias renováveis, em detrimento do petróleo, o início da queda na curva de consumo de gás natural que projetamos para 2035 pode ocorrer em 2030."
Conforme o novo relatório da Opep, o conjunto de energias renováveis que inclui principalmente solar, eólica e geotérmica crescerá aproximadamente 6,6% anualmente, em média, pelos próximos anos, "mais rapidamente do que qualquer outra fonte de energia", diz o cartel.
Em entrevista exclusiva à revista EXAME, Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, falou sobre os desafios da companhia na transição para uma economia de baixo carbono e como as petroleiras globais estão enfrentando dificuldades para se adaptar ao novo cenário de preços no pós-pandemia.
"Nos últimos dez anos, a indústria de petróleo global tem registrado um desempenho pífio. As companhias não tiveram uma boa performance e não conseguiram se ajustar a preços mais baixos", disse o executivo.
Para o analista da Wood Mackenzie, os custos de produção de energia solar e eólica continuam caindo, o que deve contribuir para pressionar o setor petrolífero. "É um mercado que está se expandindo rapidamente."