Repórter de Negócios
Publicado em 19 de setembro de 2024 às 17h10.
Há um novo cenário de venture capital sendo desenhado na América Latina. Ele passa pelo crescimento de mercados emergentes, como México e Colômbia, e por mudanças no perfil do investidor.
É o que aponta Gustavo Ahrends, co-fundador da gestora de capital de risco Norte Ventures. Ele participou, nesta quinta-feira, 19, do VC Summit, evento sobre venture capital promovido pela consultoria em inovação Distrito e pela própria Norte Ventures.
O evento também é apoiado pelas empresas de investimento e tecnologia Stark Bank, Riverwood Capital, AWS, Zendesk, Bronstein Zilberbeng e Dealmaker.
"Em 2018, o Brasil dominava o cenário de capital de risco na América Latina, os investimentos no país eram maioria absoluta", afirma. "Mas, proporcionalmente, vem caindo os aportes no Brasil, com o crescimento de outros mercados, como México e Colômbia".
Essa queda na participação brasileira é vista de forma positiva por Ahrends, que acredita na evolução de novos players regionais: “Vemos isso como algo positivo, porque mostra que novos países estão evoluindo no ecossistema de inovação".
O perfil dos investidores também tem mudado. Reduzem os aportes internacionais, por mais que ainda haja algumas startups que atraem a atenção de investidores estrangeiros. Como exemplo, citou uma recente captação de R$ 300 milhões feita pela startup Cayane, do portfólio da Norte, com a participação de fundos europeus e americanos. "Esse aporte é uma boa mensagem de que os fundos ainda estão olhando para o Brasil", diz.
O novo perfil de investimentos, porém, foca mais em rodadas iniciais — as chamadas seeds —, com aumento dos valores médios.
"Os tickets médios para seed estão subindo ligeiramente, enquanto que os tickets médios para rodadas finais, como série B, diminuem", afirma Ahrends.
Além da mudança de foco para rodadas iniciais, Ahrends ressaltou que o cenário de altos juros em toda a região tem sido desafiador para novos empreendedores.
"A restrição de capital desestimula a criação e a permanência de novas empresas, mas, por outro lado, os empreendedores que continuam no mercado são muito mais resilientes e focados em negócios sustentáveis", afirma. Ou seja, quem vence o "vale da morte" sai dessa mais resistente.
O evento também destacou que os setores de fintechs ainda lideram as rodadas de captação, embora com tickets menores do que nos últimos anos. Enquanto em 2019 as rodadas alcançavam valores bilionários, "em 2023 e 2024, estamos vendo rodadas muito mais modestas", concluiu.
Num outro momento do evento, um painel mediado pelo investidor de um family officer Andrew Hancock discutiu o perfil do investidor institucional. E mais: quais critérios esses investidores usam para assinar seus cheques e escolher os fundos para investir. Participaram da discussão Jean-Marc Etlin, da CVC Capital, Jan Karsten, CEO da BRA Invest, e Renan Rego, chefe de investimentos na G5 Advisors. Isso porque o país passa por uma transformação nos investimentos alocados por escritórios de família. Se antes, investimentos mais tradicionais tomavam conta, novas gerações têm, também, um novo perfil de investimento, e o capital de risco entra na mira dos investidores.
O primeiro critério mencionado foi o histórico de performance do fundo e da equipe gestora. Jean-Marc destacou que a análise de resultados passados é crucial para entender a capacidade de um fundo em entregar retornos consistentes. Fundos que já devolveram capital aos investidores e sobreviveram a diferentes ciclos econômicos oferecem mais segurança. Ter um track record sólido ajuda a mitigar riscos e atrai investidores mais cautelosos.
Jean Carlos e Renan Rego também falaram sobre a importância de entender a origem dos investimentos que o fundo faz e o diferencial competitivo que ele oferece. Renan destacou que os gestores devem ter uma rede de contatos e uma abordagem única para atrair os melhores empreendedores. Fundos que conseguem acessar deal flows exclusivos ou têm um diferencial em relação à concorrência tendem a gerar melhores retornos.
O processo de diligência da equipe gestora foi outro critério amplamente discutido. Renan Rego enfatizou que é fundamental entender o nível de expertise do time de gestão, verificando se eles já passaram pelas "dores" do empreendedorismo. Segundo ele, a habilidade do gestor em identificar oportunidades, mitigar riscos e auxiliar as empresas do portfólio no crescimento é essencial. Rego afirmou que "um bom gestor não apenas aporta capital, mas também ajuda o empreendedor a superar desafios operacionais e estratégicos" .
A diversificação foi mencionada como uma estratégia-chave para reduzir riscos. "Uma combinação cuidadosa de ativos ajuda a diluir o risco de volatilidade e a aumentar a resiliência do portfólio", diz Rego.
Outro critério importante é entender qual o papel do gestor ao longo do ciclo de vida da empresa investida. É fundamental saber se o gestor apenas apresenta o empreendedor à rede de contatos ou se ele vai além. ""Entender o papel do gestor, se é um cara que vai apresentar, dar o networking para o empreendedor, ajudar a formar um C-level, pôr a mão na massa e ajudar esse cara a realmente ir para outro patamar", diz.
A capacidade de identificar rapidamente empresas sem potencial é um diferencial crítico em fundos de venture capital, entendem os investidores.
Por fim, é importante considerar a geografia e o setor em que o fundo atua. Fundos que investem em mercados mais maduros, como os EUA, ou em setores como tecnologia e saúde, tendem a ter uma dinâmica diferente em comparação com aqueles focados exclusivamente em um país.