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Oferta de carne pode cair com delação da JBS, diz Abrafrigo

A JBS está com dificuldade maior para comprar boi de pecuaristas, que estão querendo negociar à vista com a empresa diante de uma aversão ao risco

Carnes: concorrentes podem se beneficiar com o eventual vácuo (Ricardo Moraes/Reuters)

Carnes: concorrentes podem se beneficiar com o eventual vácuo (Ricardo Moraes/Reuters)

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Reuters

Publicado em 25 de maio de 2017 às 20h21.

São Paulo/Cuiabá - Os desdobramentos do escândalo de corrupção envolvendo a delação da cúpula da JBS podem resultar em uma diminuição da oferta de carne no país, algo que beneficiaria rivais que estão de olho em um eventual vácuo da maior produtora e exportadora de carne bovina do Brasil no mercado, afirmou nesta quinta-feira a Abrafrigo, uma associação que representa médios e pequenos frigoríficos.

A JBS está com dificuldade maior para comprar boi de pecuaristas, que estão querendo negociar à vista com a empresa diante de uma aversão ao risco relacionado ao escândalo provocado pelas delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores da empresa.

Pouco antes do escândalo ter vindo à tona, a JBS havia anunciado mudança na sua política de compra de gado, adotando a prática de negociar apenas a prazo, em oposição ao que querem agora os fornecedores mais cautelosos, segundo afirmaram analistas à Reuters na quarta-feira.

"Na exportação, não tem como substituir a JBS em curto prazo. No mercado interno, onde é mais provável que a JBS perca mercado, sim. Há bastante capacidade ociosa no setor", disse à Reuters o presidente-executivo da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Péricles Salazar.

Segundo ele, com os desdobramentos da delação dos controladores da JBS, "pode ocorrer diminuição da produção" e portanto haver "menor oferta de carne bovina nos mercados interno e externo".

Salazar afirmou ainda que os pecuaristas deveriam procurar outras empresas, os frigoríficos de pequeno e médio portes, principalmente aqueles produtores com dificuldades de fechar negócios com a JBS.

O diretor-técnico da consultoria IEG FNP, José Vicente Ferraz, afirmou que, numa situação de crise, a JBS trabalharia para preservar seus clientes no exterior, o que diminuiria qualquer impacto imediato na exportação --comentário em linha com o executivo da Abrafrigo.

"Acho que exportação trabalha com contratos, trabalha com canais de distribuição que não podem ser desabastecidos. Evidentemente que a JBS, até porque isso faz parte do patrimônio deles, vai proteger, para não deixar de cumprir seus contratos de exportação", disse Ferraz.

O analista ressaltou que apenas numa situação extrema, de um colapso da JBS, algo que ele considera "pouco provável" de ocorrer, poderia haver impacto na exportação do Brasil.

"Acredito que, se houver algum impacto imediato, ele é pequeno. Agora eventualmente novos contratos, aí sim pode começar a ter um impacto maior", afirmou o analista, que disse ter informações de que a empresa tem tido dificuldades de negociar com pecuaristas não apenas em Mato Grosso, mas em outros Estados brasileiros.

Entretanto, para o presidente do Instituto Mato-Grossense da Carne, Wagner Bacchi, com a delação da JBS, os frigoríficos de maneira geral estão tentando forçar para baixo os preços da arroba do boi no Mato Grosso, onde a JBS domina metade dos abates.

"Eles (frigoríficos) identificaram oportunidade de negócio. Eles se aproveitaram desta situação colocando 4 reais a menos o valor da arroba em algumas praças para comprar boi à vista, e em outras praças até 6 reais a menos. Isto ocorreu no Araguaia e no norte do Estado", disse o dirigente da associação mato-grossense.

Grande concorrente

Por sua vez, o presidente-executivo da Marfrig, um dos principais concorrentes da JBS no Brasil, Martin Secco Arias, afirmou que a companhia ainda não sentiu os efeitos do escândalo da JBS na oferta de boi.

"Não notamos na oferta do boi algo que reflita o teor desses comentários", disse Arias durante evento em Cuiabá.

"Se isto estivesse acontecendo, teríamos oferta de gado um mês para frente. E não estamos comprados além de uma semana", acrescentou, ponderando que o Marfrig não atua em todos os Estados onde a JBS tem unidades.

"Mas em São Paulo, Mato Grosso do Sul, não vemos isto que todo mundo comenta (possível restrição de oferta de gado à JBS)", disse Arias.

Analistas disseram que a JBS estava encontrando dificuldades de comprar gado principalmente em Mato Grosso, maior produtor de bovinos do Brasil.

"Creio que tudo isto vai levar alguns dias para saber o que é verdade. Foi um evento não feliz para o segmento frigorífico, pois está implicado um dos principais nomes do setor. Mas tudo isto vai levar um tempo para se esclarecer", disse o presidente da Marfrig.

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