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Odebrecht tem pelo menos 23 projetos paralisados na Venezuela

A Odebrecht e seus representantes pagaram cerca de US$ 98 milhões em propina para autoridades e intermediários na Venezuela entre 2006 e 2015

Odebrecht: a empresa deixou ao menos 23 projetos multimilionários inacabados ou paralisados no país (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Odebrecht: a empresa deixou ao menos 23 projetos multimilionários inacabados ou paralisados no país (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

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Reuters

Publicado em 31 de maio de 2017 às 18h31.

Última atualização em 31 de maio de 2017 às 20h56.

Caicara del Orinoco, Venezuela - Na cidade quente e úmida de Caicara, no coração da Venezuela, cerca de 20 cais saindo do vasto rio Orinoco juntam bolor e ferrugem.

A construtora Odebrecht deveria construir uma ponte de 11km na cidade - a mais longa do país - em 2011, mas o projeto parou há um ano.

Agora, alguns trabalhadores fazem apenas reparos básicos de manutenção.

A ponte, que deveria conectar as cidades de Caicara e Cabruta, é apenas um dos vários projetos da Odebrecht abandonados que se deterioram sob o sol caribenho e são alvo de alegações de corrupção.

A empresa deixou ao menos 23 projetos multimilionários inacabados ou paralisados na Venezuela, segundo documentos da companhia e do governo local, entrevistas com mais de duas dúzias de trabalhadores e visitas do site.

No final do ano passado, a maior empreiteira da América Latina admitiu ter pago centenas de milhões de dólares em suborno em 12 países, principalmente latino-americanos, em troca de favorecimento em contratos. Os desdobramentos do escândalo já levaram à queda de altos executivos em toda a região.

Segundo o acordo de leniência com autoridades norte-americanas, divulgado em dezembro, a Odebrecht e seus representantes pagaram cerca de 98 milhões de dólares em propina para autoridades e intermediários na Venezuela entre 2006 e 2015 - o maior montante fora do Brasil.

Dinheiro escasso

No entanto, muitos dos projetos da companhia na Venezuela pararam mesmo antes de o escândalo explodir, provavelmente devido à falta de pagamento do governo socialista, disseram fontes.

"Todos os projetos estatais estão paralisados, não apenas os da Odebrecht", disse Wilmer Nolasco, advogado e presidente do maior sindicato de construção da Venezuela.

Os projetos da empreiteira que estão parados incluem também uma outra ponte, linhas de metrô, um trem para ligar cidades-dormitório com a capital Caracas, teleféricos em encostas, um projeto agrícola, uma reforma do principal aeroporto do país e uma barragem hidrelétrica.

Nolasco, cujo poderoso sindicato SUTIC trabalha em vários projetos da Odebrecht, disse que, em alguns casos, a companhia parou de receber pagamentos há dois anos e posteriormente paralisou a construção.

"O Estado não pagou a Odebrecht", disse Nolasco, citando reuniões em que a empreiteira pediu para que o governo a pagasse.

Representantes da empresa na Venezuela e Brasil não responderam a pedidos de comentário, nem os Ministérios venezuelanos de Obras Púbicas e Comunicações.

Investigação da oposição

A Odebrecht e sua unidade petroquímica, Braskem, em dezembro de 2016 concordaram em pagar ao menos 3,5 bilhões de dólares, na maior multa em um caso de suborno estrangeiro, depois de se declararem culpadas em um tribunal federal dos Estados Unidos.

Em fevereiro, o Ministério Público da Venezuela invadiu a sede da empreiteira em Caracas sem dar detalhes do que encontrou.

A Assembléia Nacional liderada pela oposição começou ainda em fevereiro uma investigação sobre possíveis desfalques de cerca de 16 bilhões de dólares em negociações entre o governo venezuelano e a Odebrecht, de acordo com inquéritos preliminares.

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