Domingos Secco, da Alright: "nós teremos uma audiência tão grande quanto os grandes portais e poderemos brigar com mais força também por verbas maiores" (Alright/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 6 de março de 2024 às 17h46.
Última atualização em 6 de março de 2024 às 19h15.
As fronteiras do negócio de mídia estão em transformação nos últimos anos, com a expansão das redes sociais e de novos canais. À medida que as plataformas avançam, o cenário se mostra mais difícil e desafiador para os veículos de cobertura jornalística. Intrincada, essa dinâmica exerce um papel ainda mais ativo em regiões menores, onde o acesso às informações locais pela população pode ser prejudicada.
Com menos recursos e tecnologia, os veículos não conseguem competir pela audiência nem pela publicidade que garanta a sobrevivência. E as histórias locais e os desdobramentos se perdem por falta de cobertura.
De acordo com o Atlas da Notícia 2.0, produzido pelo Projor, Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, 2.712 municípios brasileiros, onde vivem cerca de 30 milhões de pessoas, são considerados desertos de notícia. Isto é, são regiões onde não existem veículos de imprensa.
O negócio da startup Alright está inserido neste contexto. Criada em 2015, em Porto Alegre, pelos gaúchos Cesar Paz, Domingos Secco, Fabiano Goldoni e Luciano Terres, a startup busca conectar anunciantes a veículos do interior do país.
A Alright atua dos dois lados da cadeia de compra e venda de publicidade em mídia digital. Para os veículos de comunicação, oferece uma plataforma que permite a conexão com o ecossistema de leilões online para esse tipo de anúncio – a chamada "mídia programática". E, às marcas, uma aproximação mais localizada.
“Nós começamos com uma empresa de tecnologia para anunciantes e agências e percebemos que faltava uma peça neste quebra-cabeça que são os veículos regionais”, afirma Secco, na posição de CEO na Alright. “Ao longo dos últimos anos, nós começamos a criar uma rede para olhar e conectar os veículos regionais”.
O negócio conta com 300 veículos atualmente e trabalha com meta de chegar a 1000 até dezembro. No inventário de mídia, tem desde nomes com grande representatividade regional, como O Povo, do Ceará, até aqueles menores, com times que não passam de 10 pessoas e audiência na casa de 100.000 views por mês.
“O que nós procuramos fazer é trabalhar esse poder da comunidade do jornalismo local. Onde está o poder? Não é a fofoca para ter clickbait, e sim mergulhar sobre a realidade daquele lugar, a cultura e os negócios locais e, a partir disso, o publisher se torna uma fonte relevante de conteúdo. Os grandes portais não conseguem chegar nessa última milha”, afirma Secco.
O processo é acompanhado por um “banho de loja”, observando os detalhes técnicos que melhoram a performance dos canais, indexação das páginas no Google e outros pormenores. “Tem uma parte do negócio que é a assessoria, mas o que transforma esses veículos é a parte de conhecimento, com eles se apropriam das novas ferramentas”, afirma.
Para ganhar capilaridade, a startup tem desenvolvido conteúdos para que esses geradores de conteúdo vejam onde podem avançar e também desmistifiquem alguns temas que assombram o mercado jornalístico.
O guia “Transformar Tendências em Ações”, com previsão de lançamento nesta quinta-feira, 7, é um exemplo. O material, feito a várias mãos, reúne informações sobre o fim dos cookies, o uso IA para os negócios, pautas ESG e o combate à desinformação.
É da soma dessas ações que Alright projeta as ambições: a startup quer ter em sua rede pelo menos um veículo influente em cada uma das 558 microrregiões do Brasil.
O passo é importante não só para o jornalismo regional, mas também para a sustentabilidade do próprio modelo de negócio da Alright, que depende de escala para ser viável. "Quado tivermos 1000, nós teremos uma audiência tão grande quanto os grandes portais e poderemos começar a brigar com mais força também por verbas maiores", diz o executivo.
Em 2023, a startup faturou R$ 17 milhões. Agora, com os movimentos para atrair mais veículos para o ecossistema, prevê superar os R$ 24 milhões.