Ameaça: as quatro commodities agrícolas desmatam 3,83 milhões de hectares de florestas tropicais por ano no mundo. (Getty Images)
Vanessa Barbosa
Publicado em 20 de agosto de 2016 às 07h28.
São Paulo - Carne, madeira, soja e óleo de palma. Quatro produtos absolutamente comuns no nosso cotidiano — ainda que embutidos em outros, como cosméticos a alimentos, a exemplo da soja e do óleo de palma —, e que, fora isso, não parecem ter nada mais em comum. Ledo engano.
Eles são as quatro principais commodities agrícolas responsáveis por desmatar 3,83 milhões de hectares de florestas tropicais, a cada ano, o que equivale a mais de um terço dos 9,9 milhões de hectares que são perdidos globalmente nesse ecossistema tão rico e ameaçado. Os dados são de um novo relatório do projeto Forest Trends’ Supply Change que acompanha o progresso de empresas dependentes desses insumos.
A pesquisa contempla 566 companhias que representam, pelo menos, US$ 7,3 trilhões em capitalização de mercado e que foram identificadas como tendo riscos de desmatamento vinculados a essas quatro commodities dentro de suas cadeias de suprimentos. Destas empresas, 366 firmaram compromissos para mudar para fontes sustentáveis e livres de desmatamento.
O CDP (Carbon Disclosure Project), organização internacional que provê um sistema global de reporte de impactos ambientais, e o grupo conservacionista WWF (World Wide Found for Nature), foram responsáveis pelo fornecimento dos dados usados no estudo.
Veja a baixo alguns desatques da pesquisa, que pinta um cenário preocupante.
Poucos compromissos no setor global de soja e carne
O relatório apontou que as empresas são mais propensas a assumirem compromissos relacionados à palma, madeira e celulose. Das empresas ativas na palma, 61% adotaram compromissos, em comparação com apenas 15% e 19% dessas empresas ativas no gado e na soja, respectivamente. A diferença é alarmante, pois se estima que a produção de gado cause dez vezes mais desmatamento do que a palma.
Embora o reporte foque nos quatro principais commodities agrícolas em escala global, são destacados alguns projetos regionais que contribuem para a redução do desmatamento. Na Amazônia brasileira, por exemplo, existem duas iniciativas para reduzir os impactos ambientais provocados pelo desmatamento - a Moratória da Soja e o Acordo de compra de gado, que prevê que os principais frigoríficos do país (JBS, Marfrig e Minerva) não podem adquirir bois de fazendas que tenham desmatado dentro do Bioma.
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Empresas públicas assumem mais compromissos
Em relação às grandes empresas públicas, nota-se que elas assumem mais compromissos do que companhias menores e privadas, como resultado da pressão e padrões mais elevados para a divulgação de instituições financeiras.
O relatório observa, no entanto, que muitas dessas grandes empresas são entidades voltadas ao consumidor com sede na América do Norte e na Europa, longe do dano ambiental causado pela agricultura de commodities.
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Fabricantes e varejistas deixam a desejar
A pesquisa também mostrou que as empresas que operam 'upstream' (produtores, processadores e comerciantes) tendem a assumir mais compromissos do que suas parceiras 'downstream' (fabricantes e varejistas) - e suas promessas são potencialmente mais impactantes. Os agentes 'upstream' representam apenas 26% das empresas controladas, mas 80% têm algum tipo de compromisso, em comparação com 62% das empresas 'downstream'.
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Divulgação insuficiente
Apesar de alguns avanços, o estudo evidencia que a divulgação atual é insuficiente, uma vez que as empresas só têm relatado progresso quantificável em um de cada três compromissos. Mesmo entre compromissos cujas datas-chave já passaram, as empresas têm revelado progressos em menos da metade.