Alessandro Ericsson (CEO) e Lincoln Reis (sócio-fundador), da Carbon: empresa já exportou para Europa, Oriente Médio e África
Repórter
Publicado em 5 de março de 2025 às 11h28.
Última atualização em 5 de março de 2025 às 11h41.
No Brasil, quem busca blindar um carro muitas vezes enfrenta um mercado informal, onde pequenas oficinas familiares dominam o setor. São estruturas modestas, sem processos industriais ou certificações, no qual prazos são incertos e a qualidade depende da experiência do profissional da vez.
A única certeza costuma ser a insatisfação. Foi esse sentimento que motivou Alessandro Ericsson e Lincoln Reis a pensar em uma empresa que pudesse profissionalizar a indústria. “Nosso primeiro contato com o setor foi como consumidores”, diz Ericsson.
A ideia surgiu de forma inesperada. Ericsson e Reis não tinham experiência no setor automotivo — na verdade, vinham de um mercado totalmente diferente: o de tecnologia. Em 1996, Lincoln fundou a empresa de TI Nava, e ambos passaram quase duas décadas atuando nesse setor.
Foi só em 2015 que decidiram investir em blindagem, inicialmente como sócios de um novo projeto liderado por um ex-executivo do segmento. A parceria não durou nem seis meses, e os dois tiveram que assumir a operação da empresa. "Saímos de investidores para executivos da noite para o dia", conta Ericsson.
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A Carbon Blindados nasceu oficialmente ali. Hoje, a empresa de Barueri, em São Paulo, é a maior blindadora de veículos civis do mundo. São mais de 1.400 funcionários, três fábricas e uma produção que supera a soma de seus principais concorrentes.
Agora, a empresa projeta faturar mais de R$ 600 milhões em 2025, após crescer 40% no último ano e atingir R$ 470 milhões. O Brasil, maior mercado global de blindagem, blindou 32 mil veículos em 2024, dez vezes mais que o México, segundo colocado.
Esse crescimento é impulsionado pela sensação de insegurança, e dados indicam que houve uma alta de roubos e furtos de veículos. Em 2024, o número de roubos cresceu 26,6% no país, enquanto os furtos aumentaram 23,3%, com São Paulo e Rio de Janeiro concentrando a maioria dos casos.
Ao contrário do que acontece na maioria das blindadoras, onde cada carro é desmontado e reforçado sem um padrão técnico definido, a Carbon opera como uma linha de montagem.
“Nosso time de engenharia trabalha com as montadoras. Temos certificações de Volvo, Toyota, Jaguar, Land Rover e outras marcas para garantir que a blindagem não comprometa a segurança original do carro”, explica Reis, sócio-fundador da Carbon.
Esse é um ponto crítico. Muitos veículos blindados perdem sistemas como airbags laterais ou têm a estrutura enfraquecida porque o processo não segue normas rígidas. “As pessoas buscam proteção contra tiros, mas esquecem que acidentes de trânsito matam muito mais. Nosso compromisso é garantir segurança balística sem comprometer a segurança automotiva”, diz Ericsson.
A padronização também trouxe eficiência. Enquanto a concorrência leva de 45 a 60 dias para blindar um carro, a Carbon afirma entregar em até 22 dias úteis. O tempo de fabricação de vidros blindados, que no setor varia entre 45 e 60 dias, cai para apenas 10 na empresa.
"Nosso processo é estruturado para funcionar como uma indústria, e não como uma oficina mecânica", explica o executivo.
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A empresa planeja investir R$ 50 milhões entre 2025 e 2026 para expandir a produção e seguir verticalizando suas operações. Já possui duas fábricas de vidro blindado e está inaugurando uma planta para fabricar mantas balísticas, um tipo de insumo essencial para a blindagem.
A Carbon também vê espaço para expansão no mercado de seminovos. “Existe um mito de que só se blinda carro zero, mas isso não é verdade. Muitas pessoas compram veículos usados e blindam depois, o que hoje representa uma fatia crescente do mercado”, afirma Reis.
Com presença internacional, exportando veículos blindados para Europa, Oriente Médio, África e América Latina, a Carbon quer consolidar seu modelo de produção e ampliar sua participação no mercado.
“O setor de blindagem sempre foi artesanal, com prazos incertos e pouca inovação. Estamos mudando isso. Blindar um carro não pode ser um processo sem controle. Segurança precisa ser levada a sério”, diz o CEO.