O brasileiro Carlos Ghosn, presidente da fabricante de automóveis, foi acusado de fraude (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2011 às 16h29.
São Paulo – Em qualquer grande corporação, a palavra final sobre os rumos da empresa é do presidente. Caso a decisão seja equivocada, imediatamente ele será questionado, podendo até ter sua permanência no cargo ameaçada. É o que acontece agora com o brasileiro Carlos Ghosn, presidente da montadora franco-japonesa Renault-Nissan. O falso escândalo de espionagem ocorrido em janeiro, que levou à demissão errônea de três altos executivos da empresa, arranhou a imagem de Ghosn. A derrapada levantou especulações sobre sua permanência no comando das empresas.
No cargo desde 2005, Ghosn transformou o grupo Renault-Nissan na terceira maior montadora do mundo, atrás da Toyota e da General Motors. Além de trazer competitividade ao grupo, o executivo é constantemente elogiado por conseguir levar duas operações em continentes diferentes e, ainda assim, mantê-las com autonomia, apesar da aliança.
Apesar das pressões populares na França para investigar o caso do suposto vazamento de informações sobre o carro elétrico da montadora para concorrentes – sobretudo chineses --, os bons resultados de Ghosn frente à empresa contam a seu favor.
O que fez do brasileiro um respeitado executivo foi sua habilidade de costurar a aliança entre a Renault e a Nissan em 1999, quando a montadora japonesa beirava a falência. No Japão, Ghosn é visto hoje como um herói por ter salvado um dos símbolos da indústria do país.
Recentemente, o executivo visitou a planta da montadora localizada a 48 quilômentros de Fukushima, onde ocorreu o acidente nuclear, pedindo aos trabalhadores que tivessem força para enfrentar a situação e retomar a produção, prevista ainda para abril. O plano é atingir a capacidade total, no máximo, no início de junho.
Porém na França, onde eclodiu o escândalo, Ghosn ainda precisará reconquistar a confiança de alguns setores. A população pede uma investigação mais rigorosa. O governo, por exemplo, já sinalizou que defende Ghosn. O governo francês, que detém 15% da montadora, ficou desconcertado, mas evitou tomar decisões no calor do momento.
“Como ministro da Indústria (da França), ouvi a voz do povo pedindo por punição, mas a maior preocupação do ministro da Indústria neste momento é não desestabilizar a Renault ainda mais," afirmou Eric Besson em entrevista à rádio RFI.
Bode expiatório - O chefe de operações da empresa e braço-direito de Ghosn, Patrick Pelata, renunciou ao cargo na segunda-feira (11/4) e arcou com a maior parte da responsabilidade pelos erros cometidos durante a investigação do caso. O executivo, no entanto, continuará na montadora, trabalhando na aliança que coordena as operações da Renault com a Nissan.
Apesar das atitudes tomadas pela montadora, a relação entre França e China ficou estremecida. Pequim repreendeu o governo francês pela forma como o país tratou o assunto, dizendo esperar que os fatos fossem averiguados, antes de uma nação ser acusada injustamente.