Cena dos filmes 'Harry Potter': a saga adaptada para os cinemas pela Warner, que atualmente tem apenas um filme disponível na Netflix, é um dos conteúdos que devem estar disponíveis na nova plataforma da HBO (WarnerBros/Divulgação)
Carolina Riveira
Publicado em 10 de julho de 2019 às 13h59.
Última atualização em 13 de julho de 2019 às 14h00.
A vida da Netflix fica cada vez mais difícil. Já há alguns meses se esperava que a empresa de entretenimento Warner, dona da emissora de televisão HBO, anunciasse uma nova plataforma de streaming para complementar os atuais serviços HBO Now e HBO Go. Agora, a empreitada ganhou nome, sobrenome e data de lançamento: a Warner anunciou nesta terça-feira, 9, a nova plataforma HBO Max, prevista para estrear no início de 2020 (na primavera do hemisfério Norte, que começa em 20 de março).
Ao contrário do HBO Now e HBO Go, que só possuem conteúdo da própria HBO, o Max terá nada menos que 10.000 horas de séries e filmes vindas das dez produtoras de conteúdo sob o guarda-chuva da companhia-mãe da Warner e da HBO, a empresa de telecomunicações AT&T (gigante que, nos Estados Unidos, vai de operadora de celular a dona de canais de TV). Além da HBO e da Warner, o portfólio da AT&T inclui nomes como Cartoon Network, CNN e TNT.
Havia a dúvida sobre se a Warner vincularia sua nova plataforma ao nome HBO ou se daria a ela uma cara completamente nova. Ao que parece, a ideia é continuar vinculando a imagem à HBO, embora com mais conteúdo.
"Ancorados e inspirados pelo legado de histórias premiadas e de excelência da HBO, o novo serviço será 'Maximizado' com uma extensa coleção de programação original e exclusiva e o melhor do melhor do enorme portfólio de marcas e catálogos amados da WarnerMedia", escreveu a empresa em um comunicado à imprensa na terça-feira.
A Netflix é hoje a atual líder absoluta do mercado e com mais de 140 milhões de assinantes mundo afora, mas depende muito do conteúdo das concorrentes. Com a criação de novos serviços de streaming - e a retirada de conteúdo do seu catálogo - a disputa fica mais acirrada.
A briga pelo assinante e conteúdo é desproporcional. A AT&T teve um faturamento de 170 bilhões de dólares no ano passado, enquanto a Netflix ganhou menos de um décimo do valor, 15,8 bilhões de dólares.
Com o anúncio de uma plataforma unificada para as marcas da AT&T, seriados consagrados da HBO como "Chernobyl" e "Game of Thrones" ganharão parceiros de peso.
A Warner e suas produtoras de conteúdo irmãs são donas de sucessos históricos do cinema como a saga britânica “Harry Potter”, "Matrix", as sagas "Senhor dos Anéis" e "O Hobbit" e os filmes dos heróis da DC Comics como Mulher Maravilha, Batman e Superman. Na televisão, há ímãs de audiência como os seriados “Friends” e "Pretty Little Liars". Nomes da própria HBO, como "Sex and the City", que atualmente não está disponível na plataforma de streaming no Brasil, e no exterior é exibido na internet pela Amazon, também podem compor o HBO Max.
Esses nomes, até agora, estavam espalhados nas plataformas de streaming concorrentes, como a Netflix e o serviço de vídeo da Amazon, disponível para os assinantes do Amazon Prime. A Warner começará a partir de agora um movimento de tirar o conteúdo das rivais.
A primeira "vítima" foi Friends, cujos mais de 200 episódios vão sair da Netflix rumo ao HBO Max. Já foi anunciado que a série Pretty Little Liars também vai deixar a Netflix no fim de julho.
Em seu perfil oficial no Twitter, a Netflix dos Estados Unidos fez uma postagem lamentando a saída de Friends. Por ora, não há previsão de quando a mudança acontecerá no catálogo brasileiro. A Netflix havia pago no ano passado 100 milhões de dólares para manter Friends de forma exclusiva em seu catálogo em 2018, mas o contrato acaba no fim deste ano.
The One Where We Have To Say Goodbye.
We’re sorry to see Friends go to Warner's streaming service at the beginning of 2020 (in The US). Thanks for the memories, gang ☕
— Netflix (@netflix) July 9, 2019
Será uma briga difícil para a Netflix, pioneira no mundo do streaming de vídeo e que até agora reinou praticamente sozinha. O conteúdo das concorrentes, como Disney e Warner, representa 40% de todo o tempo gasto pelos assinantes da Netflix na plataforma, segundo dados de um relatório produzido pela consultoria americana Nielsen para o jornal americano The Wall Street Journal.
A série mais assistida, "The Office", também está de saída da Netflix (a série não está mais disponível no catálogo brasileiro) e deve ir para o serviço de streaming do canal de TV americano NBC. A Netflix ainda pode fazer um acordo para tentar manter a série, o que pode custar ainda mais que os 100 milhões de dólares pagos por Friends.
Outros conteúdos devem deixar a Netflix em breve. A Disney vai lançar ainda neste ano seu serviço próprio de streaming, o Disney+, e, com isso, tirar suas animações do catálogo da Netflix.
Em seu novo serviço, a Disney terá de animações da Pixar (como "Up" e "Divertida mente") a personagens icônicos que vão do Mickey às princesas e o leão Simba, incluindo os novos filmes live action lançados recentemente. A Disney também tem direito sobre os filmes da Lucasfilm, dona da saga "Star Wars" -- a empresa, contudo, não poderá transmitir os seis primeiros filmes até 2024, quando se encerra um contrato com a Turner.
A Disney ainda deve manter o Hulu, serviço de streaming que ganhou após a compra da 21st Century Fox em dezembro de 2017. O Hulu funcionará como plataforma separada e com conteúdo para adultos, enquanto o Disney+ terá apenas conteúdos infantis e adolescentes. Ao comprar a Fox, a Disney também ganhou direito sobre os heróis da Marvel, como Capitão América e o grupo de X-Men.
O serviço da Disney, por ora, terá a assinatura mais barata dos Estados Unidos: 6,99 dólares por mês, ante 12,99 da Netflix e 14,99 dólares do HBO Now. O HBO Go vem gratuitamente para os assinantes da HBO na televisão e a Warner ainda não anunciou quanto o HBO Max custará.
Para convencer os milhões de assinantes a permanecerem, contudo, a Netflix vai apostar em seus sucessos próprios já consagrados como "House of Cards", "Stranger Things" e "Orange is The New Black", e na produção de novas séries e temporadas.
Em 2018, a empresa afirmou aos investidores ter gasto 12 bilhões de dólares na produção de conteúdo próprio (35% mais do que em 2017), e a expectativa é que esse número chegue a 15 bilhões em 2018.
Com o novo HBO Max, o HBO Now e o HBO Go, atuais serviços de streaming da HBO, devem ser extintos em breve, embora o comunicado da Warner não diga nada a respeito.
Com o fim da premiada série Game of Thrones, a expectativa era que ficasse cada vez mais difícil para a HBO atrair sozinha assinantes que pudessem fazer frente aos rivais cada vez mais competitivos.
No ano passado, durante a sétima e penúltima temporada da série Game of Thrones, a HBO viu seu número de assinantes (na TV e no streaming) subir nada menos que 91%, de acordo com a empresa de medidas de audiência Second Measure. O problema é que, seis meses após o fim da temporada, mais de 70% desses novos assinantes haviam cancelado o serviço.
Os usuários do HBO Now são duas vezes mais propensos a cancelar sua assinatura quando uma série específica termina em comparação aos clientes de outros serviços de streaming, segundo uma pesquisa da consultoria Mintel. 19% dos usuários cancelariam o serviço da HBO, ante 9% da Netflix e 10% da Amazon Prime.
Embora novas séries venham ganhando destaque, como "Chernobyl" e "Westworld", Game of Thrones trouxe à HBO nada menos que o triplo de audiência que a segunda série mais assistida do canal.
Agora, acrescentando séries consagradas da Warner a seu catálogo, o streaming da HBO ganha nova chance de sobreviver.
A novidade da Warner foi apresentada ao público com um vídeo ao som da música "Giant" (gigante, em inglês), do DJ Calvin Harris e do cantor britânico Rag'n'Bone Man (vídeo abaixo). De fato, nada menos que gigante descreve a quantidade de conteúdo que a Warner e companhia terão na manga para sua nova plataforma.