Negócios

O novo plano da Amazon no Brasil: conquistar os pequenos varejistas

Na quarentena, a Amazon busca expandir ainda mais o número de categorias em que atua e fortalecer a presença em itens de maior recorrência

Amazon se comprometeu a destinar, neste trimestre, pelo menos US$ 4 bilhões para a luta contra o novo coronavírus (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

Amazon se comprometeu a destinar, neste trimestre, pelo menos US$ 4 bilhões para a luta contra o novo coronavírus (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 22 de maio de 2020 às 08h00.

Última atualização em 22 de maio de 2020 às 08h00.

Uma das maiores empresas e varejistas no mundo, a Amazon ainda tem uma participação tímida no Brasil. Nos últimos anos, expandiu sua atuação no país entrando em novas categorias além de livros e eletrônicos e com serviços como Prime e Alexa, mas, por enquanto, brasileiras dominam o comércio eletrônico no país.

Na quarentena, a Amazon busca expandir ainda mais o número de categorias em que atua e fortalecer a presença em itens de maior recorrência. Além disso, quer ser uma plataforma também para as vendas de pequenas e médias empresas.

Para isso, a Amazon Brasil lançou uma página para ajudar varejistas pequenos e médios a começarem a vender pela internet. Há tutoriais básicos sobre como se cadastrar e começar a vender, como atender clientes e webinars gratuitos sobre vendas. Há ainda comentários de outros varejistas que já usam a estrutura da Amazon para a troca de experiências.

"Tem muita gente precisando vender no online agora. Organizamos as informações e tutoriais de forma simples para isso", diz o diretor de varejo da Amazon Brasil, Daniel Mazini, em entrevista à Exame. 

O marketplace, que permite que diversos vendedores usem a plataforma de comércio eletrînico da Amazon, foi lançado mundialmente há 20 anos. No mundo, cerca de metade das vendas vem de outros vendedores que não a própria Amazon. Por aqui, a gigante americana passou muitos anos vendendo apenas produtos próprios, nas categorias de livros e eletrônicos. Há cerca de três anos, lançou o marketplace, entrou em novas categorias de produtos, trouxe sua assistente virtual Alexa para o Brasil e lançou o serviço de assinatura Prime, que oferece frete grátis e acesso a serviços como Prime Vídeo e Música. 

No mundo, para atender à crescente demanda por produtos, a empresa contratou quase um milhão de trabalhadores, mas também teve de lidar com protestos sobre a segurança em seus armazéns, enquanto relatava a morte de vários de seus funcionários. A empresa se comprometeu a destinar, neste trimestre, pelo menos 4 bilhões de dólares para a luta contra o novo coronavírus, o equivalente aos lucros que prevê para este período. A Amazon mantém seu valor de mercado em níveis recordes, perto de US$ 1,2 trilhão.

Entrada de novos vendedores

Com a pandemia do novo coronavírus e as medidas de quarentena e distanciamento social, muitos varejistas se viram sem suas lojas físicas e passaram a vender pela internet. A varejista não abre números, mas diz que ganhou milhares de novos vendedores nas últimas semanas.

Parte importante dos novos vendedores fortalece categorias em que a empresa ainda estava engatinhando, como alimentos, beleza, limpeza e produtos para pets. Para facilitar as vendas de itens essenciais, como equipamentos de proteção e alimentos, a Amazon deu um desconto e a taxa de comissão de vendas é de apenas 5%.

Em alguns casos, como álcool em gel, a Amazon estava com dificuldade de encontrar fornecedores novos e homologá-los, por isso a entrada de novos vendedores também a ajudou a ter esses itens disponíveis para a venda. 

Para Mazini, "tem vendedor que está ocioso, pois não tem mais o tráfego de clientes na porta da loja. Ele consegue transformar esse ócio em tempo para entrar no comércio eletrônico e despachar os produtos". As pequenas e médias empresas, juntas, representam 96,6% dos negócios e contribuem para cerca de 30% do produto interno bruto (PIB) brasileiro. Além disso, elas são responsáveis pela maioria (52%) dos empregos formais. A estimativa do Sebrae é que de 20% a 25% das micro e pequenas empresas fechem por causa da pandemia. 

Algumas mudanças, no entanto, precisa, ser feitas na rotina do novo empreendedor que passa a vender pela internet. Segundo Mazini, ao entrar em um comércio eletrônico os lojistas passam a competir não apenas com as lojas do mesmo bairro em que estavam, mas com o Brasil inteiro. Mudar o formato de frete, a precificação e ajustar a descrição e as fotos para tornar o produto mais atraente estão entre as principais dificuldades enfrentadas pelos vendedores no início.

Além disso, a entrega é um constante ponto de atenção. "Muitos vendedores offline não têm a rotina de enviar a mercadoria para ser despachada e agora na pandemia isso ficou ainda mais difícil", diz Mazini. A Amazon aumentou o prazo de envio para três dias, mas diz que consegue entregar no prazo prometido em 95% dos casos.

Outra vantagem do fortalecimento de itens como alimentos e de higiene é a maior frequência de compras. Se eletrônicos e livros são adquiridos poucas vezes por ano, esses produtos têm uma recorrência muito maior. "Vemos pessoas comprando macarrão, molho, panela e escorredor. Conseguimos ver os ciclos de compra dos consumidores", diz o diretor.

Aumentar as interações com os consumidores não é um desejo apenas da gigante Amazon, mas também de suas rivais brasileiras. No Magazine Luiza, o supermercado ganhou muita relevância para a empresa e o Mercado Livre, plataforma de marketplace, também acelerou as vendas em alimentos e itens de saúde.

De olho na logística

A Amazon também está reforçando seu time de logística.  Além de contratações e treinamentos, aumentou os turnos de trabalho de dois para três em seus centros de distribuição em São Paulo e no Pernambuco.

Em termos de segurança, segundo Mazini, a empresa está fazendo até mais do que as obrigações impostas pela legislação brasileira. Nos centros de distribuição, criou processos de distanciamento entre os funcionários e implementou a medição de febre na entrada. Além disso, afirma que importou máscaras de proteção para todos os funcionários.

As áreas de convívio, como a cantina e o espaço de recreação, foram ampliadas para permitir maior distância entre os colaboradores. Itens grandes, como eletrodomésticos, deixaram de ser vendidos por algumas semanas. Como precisavam ser erguidos por duas pessoas, a empresa pensou em novas maneiras de movimentar esses itens nos armazéns com apenas uma pessoa e uma empilhadeira. 

De acordo com o diretor, o comércio eletrônico se manterá relevante mesmo após o fim da quarentena e das medidas de distanciamento. "Não é todo mundo que ficará confortável ao sair na rua para fazer compras. Muitos vendedores também devem manter as lojas fechadas por um tempo para reduzir os custos fixos", afirma.

Acompanhe tudo sobre:Amazone-commerceVarejo

Mais de Negócios

O retorno dos CDs e LPs? Lojas de música faturam R$ 14,7 milhões no e-commerce em 2024

Maternidade impulsiona empreendedorismo feminino, mas crédito continua desafio

Saiba como essa cabeleireira carioca criou o “Airbnb da beleza”

Eles saíram do zero para os R$ 300 milhões em apenas três anos