Cena de Pulp Fiction: terno, gravata e armas só ficam bem no cinema (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 4 de abril de 2011 às 17h17.
São Paulo - Os Estados Unidos sempre defenderam com muito zelo as liberdades individuais de seus cidadãos, mas, mesmo lá, algumas propostas causam polêmica. A mais recente dor-de-cabeça das empresas americanas é a pressão para que o porte de armas seja liberado durante o expediente.
Até o momento, 13 estados americanos aprovaram leis neste sentido. Na prática, as leis permitem que os funcionários tragam suas armas ao local de trabalho, desde que elas permaneçam em seus veículos, no estacionamento da empresa. É o que a imprensa americana vem chamando de lobby do “Traga sua arma ao trabalho”.
Como é óbvio, o problema é que os Estados Unidos têm uma história rica em tragédias envolvendo armas e pessoas desequilibradas – o que deixa os gestores de empresas com os dois pés atrás em relação às leis que vêm sendo aprovadas pelas assembleias estaduais.
Mau exemplo
O caso mais recente ocorreu no ano passado, quando Edgar Tillery recebeu uma avaliação negativa de seu chefe. Na ocasião, o supervisor afirmou que o desempenho de Tillery, como auditor, estava abaixo da média e que, ou ele se enquadrava, ou deveria sair.
Tillery escolheu uma terceira opção. Foi até seu carro, pegou uma arma, voltou ao escritório e disparou contra o chefe. Por sorte, a arma engasgou e ninguém se feriu. De qualquer modo, o ex-auditor agora cumpre uma pena de 15 anos.
O caso ocorreu no estado de Indiana e foi o estopim de mais um explosivo debate sobre a pertinência de ter funcionários com armas tão ao alcance das mãos. Ao contrário do que se poderia supor, o governador de Indiana, o republicano Mitch Daniels, sancionou uma lei autorizando o porte de armas durante o expediente poucas semanas depois do episódio.
Sobre a mesa
De acordo com a revista americana Business Week, o maior temor, agora, é que o lobby armamentista consiga aprovar leis que permitam aos funcionários portar armas no ambiente de trabalho, como escritórios, oficinas e linhas de produção.
Uma lei aprovada no Tennessee, e que aguarda a sanção do governador, afirma que as armas no ambiente de trabalho não representam uma ameaça aos funcionários. As poucas pesquisas sobre o assunto, contudo, desmentem a observação. Um estudo de 2005, publicado pelo American Journal of Public Health, afirma que, em empresas cujo porte de armas é liberado, as chances de homicídio são cinco vezes maiores.
No ano passado, 420 assassinatos ocorreram em empresas dos Estados Unidos, contra 421 em 2008. Para os defensores da medida, o porte de armas é um direito assegurado pela Constituição dos Estados Unidos. “As pessoas têm o direito de se defender”, afirmou o senador Johnny Nugent, de Indiana, à Business Week.
Algumas empresas decidiram contrariar a lei e demitir funcionários que tragam armas em seus veículos. É o caso da Weyerhauser, fabricante de produtos de madeira. Apesar de seis leis estaduais autorizarem os empregados a levar suas armas no carro, a empresa já demitiu cinco por fazê-lo. “Nossa preocupação é com a segurança de nossos funcionários, não com as armas”, afirmou Bruce Admundson, porta-voz da companhia. Mas parece que muitos americanos pensam que a segurança passa, necessariamente, por uma arma sobre a mesa.