Negócios

O novo caminho dos ex-XP

Gabriela Lara, de Porto Alegre Enquanto 49,9% da corretora XP foi parar nas mãos do banco Itaú, em maio, um time de ex-executivos da companhia dá os primeiros passos de uma fintech que se propõe (assim como fazia a XP) a ser uma alternativa aos bancos, o gaúcho Warren. A empresa gerencia carteiras de pessoa […]

UM GRUPO DE EX-XP PARA UM MUNDO, SEGUNDO ELES, PÓS-XP: os irmãos Tito e André Gusmão, Rodrigo Grundig e o investidor e ex-fundador da XP Investimentos, Marcelo Maisonnave /

UM GRUPO DE EX-XP PARA UM MUNDO, SEGUNDO ELES, PÓS-XP: os irmãos Tito e André Gusmão, Rodrigo Grundig e o investidor e ex-fundador da XP Investimentos, Marcelo Maisonnave /

DR

Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2017 às 12h53.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h01.

Gabriela Lara, de Porto Alegre

Enquanto 49,9% da corretora XP foi parar nas mãos do banco Itaú, em maio, um time de ex-executivos da companhia dá os primeiros passos de uma fintech que se propõe (assim como fazia a XP) a ser uma alternativa aos bancos, o gaúcho Warren. A empresa gerencia carteiras de pessoa física de forma automatizada, por meio de robôs de investimento.

A ideia de criar o Warren partiu de Tito Gusmão, que foi sócio da XP durante uma década. Quando trabalhava na operação da corretora em Nova York, ele se viu inspirado pela atmosfera do distrito chamado de Silicon Alley – a meca das fintechs. Deixou a XP em 2014 para se juntar ao desenvolvedor André Gusmão (seu irmão) e ao designer Rodrigo Grundig e levar adiante o projeto.

Os três criaram uma plataforma 100% digital, bastante simples e interativa – e com uma pitada de leveza que transparece no layout colorido e na linguagem usada com o cliente.

Após apresentar o Warren em uma feira de tecnologia norte-americana, o trio incorporou um reforço de peso: Marcelo Maisonnave, que fundou a XP no início dos anos 2000 ao lado de Guilherme Benchimol. O quarto elemento também tinha encerrado o vínculo com a corretora e decidiu investir na fintech.

Foi Maisonnave que convenceu os outros três a abandonar o plano de começar o negócio nos EUA, onde já tinham até escritório. Ele deu três motivos: disse que o Brasil carecia de uma solução assim, falou que é mais fácil jogar primeiro em casa e lembrou que a CVM ia lançar a instrução 558 – que entrou em vigor em 2016 e passou a permitir que as gestoras de carteira distribuam cotas de seus próprios fundos de investimento. Isso possibilitou ao Warren operar no Brasil sem intermediários.

O lugar escolhido foi Porto Alegre, onde também surgiu a XP. Nos últimos meses, o negócio ganhou mais dois sócios: Eduardo Glitz e Pedro Englert. Os seis executivos à frente da plataforma digital passaram em algum momento pela XP. A capital gaúcha foi escolhida por ter duas universidades com programas tecnológicos fortes, que formam desenvolvedores bem preparados. Além disso, o custo para manter uma empresa é muito menor quando comparado ao de São Paulo.

O Warren começou a operar em janeiro. A estratégia de lançamento, focada nas redes sociais, teve uma fila de espera online. Quem indicava um investidor em potencial subia para o topo da lista. A brincadeira deu certo e o número de interessados foi aumentando. Hoje a plataforma atende 7.000 clientes – e já não há fila. Quase a metade (45%) está em São Paulo, 14% no Rio de Janeiro, 11% no Rio Grande do Sul e o restante espalhado pelo Brasil. A média de idade dos investidores é de 32 anos.

“A XP demorou cinco anos para atingir a base de clientes que conseguimos em cinco meses. Estamos felizes com este início”, afirma Tito Gusmão. As comparações são inevitáveis e partem do próprio conceito de negócio. Pioneira do modelo de shopping de investimentos no Brasil, a XP atrai a pessoa física com um leque de produtos de fácil alcance, além de oferecer conteúdo e atendimento especializado. Assim, se tornou a maior corretora independente do país.

O Warren é uma plataforma de investimentos por objetivos. O cliente informa por que deseja poupar dinheiro: fazer uma viagem ao exterior no Natal, comprar uma casa dentro de cinco anos ou garantir a aposentadoria no futuro, por exemplo. Com base nessas informações e na análise de perfil do cliente, os algoritmos por trás da plataforma alocam o capital em uma carteira específica, respeitando a tolerância a risco do investidor.

“Primeiro veio a venda de produtos financeiros nos grandes bancos. Depois entrou a proposta de plataforma aberta, com vários produtos para o cliente comparar. Agora tem o modelo guiado por objetivos, em que a experiência é o que interessa. Esta é nossa visão do que é a próxima era em investimentos”, diz Eduardo Glitz.

Todo o dinheiro investido com o Warren é alocado nos cinco fundos que a plataforma administra – cada um com uma composição. O mais conservador aplica 100% em renda fixa. Os outros combinam diferentes porcentuais de renda variável. Ao navegar pelo Warren, o dono da conta consegue visualizar exatamente como seu dinheiro está distribuído (Tesouro Direto, ações, etc) e como está performando. A plataforma cobra uma taxa anual de 0,80%, já incluídos os custos de gestão, administração fiduciária e custódia.

Mercado

O Warren é o caçula das fintechs brasileiras que usam os robôs de investimento para oferecer soluções automatizadas à pessoa física, algo antes restrito a negociações de grandes proporções nas instituições financeiras tradicionais. As primeiras plataformas a disponibilizar esta tecnologia para o investidor menos endinheirado foram a Magnetis e a Vérios, em 2015. Mas as duas são gestoras de carteira que, ao menos por enquanto, dependem de uma corretora parceira para aplicar o dinheiro dos clientes.

A outra diferença é que o tíquete mínimo do Warren é significativamente mais baixo. Enquanto a Magnetis exige 10.000 reais e a Vérios, 12.000, a nova plataforma do Warren aceita investimentos a partir de 100 reais. Por enquanto, o tíquete médio é de 5.000. A prioridade neste momento é tomar território – como os próprios sócios dizem, bem ao estilo do jogo de tabuleiro War. A meta: terminar 2017 com 50.000 clientes.

O conceito por trás dessas fintechs brasileiras nasceu nos Estados Unidos com empresas como a Betterment, fundada em 2008. Aqui, as plataformas sabem que a verdadeira concorrência não é entre elas. Mais de 90% dos investimentos estão concentrados nos bancos. “Os investidores perceberam que gostariam de ser atendidos de uma maneira diferente. A corretora e o banco vendem produtos, enquanto essas plataformas vendem um serviço mais individualizado”, diz Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper.

Os ex-XP também apostam na educação financeira para prosperar – assim como a própria corretora fez no passado, quando capitaneou clientes pelo Brasil oferecendo cursos sobre investimentos. Mas acreditam que a entrada do Itaú torna a XP mais distante daquilo com o que se identificam. Para Gusmão, a nova realidade com a presença do Itaú tende a acentuar o conflito de interesses que, segundo ele, costuma permear o universo das corretoras.

Warren quer crescer, mas não pretende aumentar de tamanho. Na sala comercial onde a fintech está instalada em Porto Alegre, trabalham cerca de 30 funcionários. Cerca de 80% são desenvolvedores. “Com a estrutura que temos hoje podemos atender 7.000 pessoas ou 1 milhão”, diz Glitz.

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