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O mais gaúcho dos 'guaranás', Fruki fatura R$ 640 milhões, abre fábrica e não para de crescer

A empresa é líder no Rio Grande do Sul no setor de água mineral, de refrescos e de refrigerante de guaraná

Julio Eggers, da quarta geração da família à frente da indústria de bebidas Fruki: "Somos uma empresa antiga, mas não somos uma empresa velha"  (Leandro Fonseca/Exame)

Julio Eggers, da quarta geração da família à frente da indústria de bebidas Fruki: "Somos uma empresa antiga, mas não somos uma empresa velha" (Leandro Fonseca/Exame)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 3 de setembro de 2024 às 13h04.

Última atualização em 7 de setembro de 2024 às 15h55.

PAVERAMA (RS) — Quem chega ao Rio Grande do Sul e pede um refrigerante de sabor guaraná pode ter certeza: será servido com Fruki. Por ali, as outras marcas, como a Antarctica da Ambev e a Fanta da Coca-Cola, até têm espaço, mas é preciso especificar. Se pedir apenas 'guaraná', o garçom provavelmente trará um Fruki.

Sinônimo de guaraná no estado gaúcho, a Fruki comemora 100 anos com um feito notável: uma nova fábrica recém-inaugurada e um faturamento de 640 milhões de reais. 

Os números impressionantes não param por aí. A empresa é líder no Rio Grande do Sul no setor de água mineral com a marca Água da Pedra, de refrescos com a marca Frukito, e de refrigerante de guaraná com a própria marca Fruki. E começa a ganhar posição também em Santa Catarina.

E o mais importante: a demanda, segundo Julio Eggers, CMO da empresa e membro da quarta geração da família à frente dos negócios, não para de crescer. Mesmo depois das cheias e da enchente que tomou conta do Estado e, principalmente, da região onde a Fruki está localizada.

A principal fábrica e sede da empresa fica em Lajeado, cidade a 115 quilômetros de Porto Alegre, localizada às margens do Rio Taquari, um dos que mais encheu com as chuvas de maio. A força das águas arrastou casas e indústrias inteiras no município, mas não chegou à Fruki. Mesmo assim, a família Eggers em peso foi para dentro da indústria e, de lá, criou um plano de ação para apoiar os funcionários, moradores e a população do Rio Grande do Sul. Para se ter uma ideia, 17 milhões de litros de água potável foram doados pela empresa.

“Montamos um comitê de crise e, graças ao aprendizado da pandemia, conseguimos organizar doações e manter a operação funcionando, mesmo com as estradas bloqueadas e as pontes destruídas", diz.

Com estradas bloqueadas e pontes caídas, a Fruki só conseguiu escoar sua mercadoria graças à recém-inaugurada fábrica em Paverama, cidade a 50 quilômetros de Lajeado. 

É dessa fábrica que vem a expectativa da Fruki de seguir crescendo dois dígitos por ano, rumo ao primeiro bilhão de faturamento. A planta, que recebeu um investimento de 190 milhões de reais, já está produzindo para as marcas da Fruki, mas em breve receberá uma expansão que deve permitir também a fabricação para terceiros, uma das apostas da empresa para crescer.

Agora, passado o pior momento, a empresa se prepara para novos desafios. 

"Nossa nova fábrica é um marco para o futuro da Fruki. Com ela, não apenas expandimos nossa capacidade produtiva, mas também nos posicionamos para entrar em novos mercados e atender à crescente demanda por nossos produtos", diz Eggers.

Qual é a história da Fruki

Há 100 anos no mercado, a história da Fruki começa com uma pequena fábrica de cervejas em Arroio do Meio, cidade do interior gaúcho com 22.000 habitantes. Na época com o nome Bebidas Kirst & Cia, a fábrica produzia 200 cervejas por dia. 

Nas primeiras décadas, a principal marca da empresa foi Bella Vista, uma referência ao bairro em que a fábrica estava instalada. 

A Fruki como é conhecida hoje começa a se consolidar em 1971, quando a empresa sai de Arroio do Meio para Lajeado, cidade em que está localizada até hoje. Ali, constrói uma nova fábrica e lança o produto que daria nome à empresa: Fruki.

“É quando começamos a fazer o refrigerante de guaraná, de laranja, de limão e de uva”, diz Eggers. “Na época, o sabor laranja até tinha mais força que o guaraná, que aos poucos vai se tornando símbolo da empresa”.

Nas décadas seguintes, a empresa fez outros lançamentos importantes para o negócio. Nos anos 1990, expandiu a linha, até então de vidro, para PET. Nos anos 2000, lançou a marca de água mineral Água da Pedra, hoje o produto que mais vende, em quantidade, do negócio. E nos anos 2010, ampliou novamente o portfólio com o retorno da marca de cervejas e o lançamento de uma linha de energético e sucos naturais. 

Hoje, a empresa é comandada por Aline Eggers, membro de quarta geração da família à frente do negócio. Nos últimos anos, também chegou a Santa Catarina, que hoje já representa um quarto da receita da companhia.

“O que nos ajuda a crescer é termos uma marca forte, uma rede de distribuição azeitada”, diz Eggers. “É uma empresa com solidez de governança e de cultura organizacional. Queremos ter o melhor nível de entrega para clientes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina”.

“Temos 100 anos, mas buscamos sempre as melhores tecnologias e modelos de negócio. Às vezes, deixamos passar oportunidades de curtíssimo prazo porque sabemos que é algo que pode ter um resultado no curto prazo, mas que pode nos prejudicar no futuro”, continua. “Seguimos um ensinamento do meu pai, que diz que somos uma empresa antiga, mas não somos uma empresa velha”. 

Como é o investimento na nova fábrica

Nos últimos dois anos, com a demanda em alta, a Fruki percebeu que precisava acelerar a construção de sua nova fábrica para continuar atendendo os clientes. O plano da construção da planta fabril estava correndo desde 2016, mas foi durante a pandemia que a evolução de fato aconteceu. 

“Nosso pico de venda é no verão, e há dois verões, já estávamos trabalhando com restrições”, diz Julio. “Então corremos para estarmos prontos para este verão, e conseguimos. Desde dezembro, produzimos também em Paverama, o que aumentou nossa capacidade produtiva em 50%”. 

Com 14.000 metros quadrados de área construída, a planta de Paverama foi projetada para ser flexível e eficiente, permitindo uma produção que varia de embalagens de 200 ml a 3 litros. 

Essa planta não só aumentará a capacidade de produção da Fruki, como também permitirá que a empresa atenda a novos segmentos, como a fabricação para terceiros, um mercado em expansão no Brasil. 

“Foi uma planta pensada para duplicar ou triplicar de tamanho, mantendo o mesmo fluxo”, diz Julio Nascimento, diretor de operações da empresa. “Temos certificação de segurança alimentar, o que também pode facilitar o acesso para produção de terceiros. Já estamos nos preparando para esse novo ciclo de investimentos, de 100 milhões de reais, que vai garantir que a Fruki continue a crescer e se consolidar como uma das principais marcas de bebidas do país".

Como a empresa atravessou o período de inundação

Apesar da nova fábrica em Paverama, o grosso da produção fica mesmo em Lajeado, uma das cidades mais atingidas pelas cheias no Rio Grande do Sul. A água não chegou a tomar conta da fábrica da empresa, mas a logística foi altamente impactada, uma vez que a cidade ficou praticamente ilhada. 

"A planta de Paverama foi quase que a nossa salvação, porque a ponte ficou interditada entre Lajeado e Estrela, então ficamos com a planta de Lajeado de um lado do rio e a de Paverama do outro lado".

Enquanto a Fruki enfrentava desafios logísticos para manter suas operações, a prioridade da empresa se voltou para seus funcionários e a comunidade local. 

"Nós tivemos aproximadamente 65 pessoas atingidas, sendo que uma parte delas perdeu tudo, de não sobrar nada", diz Eggers.

Para ajudar, a empresa formou um comitê de crise, que se reunia diariamente para lidar com os desafios emergentes. 

"Nós tivemos reuniões todo dia de manhã com uma equipe grande, e as rotas se atualizavam; era uma rota que funcionava, quando vê, interditava, porque o movimento ficava grande. A outra, que estava interditada, abria", diz Eggers sobre a dinâmica das operações durante a crise.

A solidariedade da Fruki não se limitou aos seus funcionários. A empresa doou 17 milhões de litros de água potável para as comunidades afetadas. "Nós trouxemos pessoas que estavam de férias, contratamos pessoas para tocar 24 horas a fabricação de água”. 

"Nós botamos as duas plantas para abastecer caminhões-pipa de água potável para atender as necessidades das comunidades", diz Eggers. 

Negócios em Luta

A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.

 

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