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O governo vai encontrar um caminho, diz Pedro Parente

À frente da BRF (união da Sadia e Perdigão), maior exportadora global de frangos, Parente acredita que a reforma da Previdência será aprovada

Pedro Parente: "O lado positivo é o apoio que (a reforma) tem recebido. Tem boa chance de passar. Talvez não no prazo ideal." (Patricia Monteiro/Bloomberg/Bloomberg)

Pedro Parente: "O lado positivo é o apoio que (a reforma) tem recebido. Tem boa chance de passar. Talvez não no prazo ideal." (Patricia Monteiro/Bloomberg/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de maio de 2019 às 13h17.

São Paulo - Ex-ministro da Casa Civil do governo Fernando Henrique Cardoso e ex-presidente da Petrobras, Pedro Parente vê com naturalidade a atual desarticulação entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso. À frente da BRF (união da Sadia e Perdigão), maior exportadora global de frangos, Parente acredita que a reforma da Previdência será aprovada.

"O lado positivo é o apoio que (a reforma) tem recebido. Tem boa chance de passar. Talvez não no prazo ideal."

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o sr. vê a falta de articulação no governo em relação à reforma da Previdência? Qual o impacto na economia?

Vejo com naturalidade. Apesar das dificuldades iniciais, o governo vai encontrar um caminho. O lado positivo, considerando a minha experiência no setor público, é o apoio que (a reforma) tem recebido. Acho que tem boa chance de passar. Talvez não no prazo ideal.

E se for uma reforma menos ambiciosa?

Vamos ter o que o Congresso aprovar. Se não for uma com o efeito necessário nas contas públicas, pode ter um impacto negativo. Mas o Congresso já manda sinais; inclusive o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está muito empenhado na aprovação dela.

Mas uma reforma tímida consegue atração de investimentos?

As reformas, tanto previdenciária como tributária, terão um impacto importantíssimo no cenário dos negócios. Somados a isso, há outros projetos do Ministério da Economia que podem criar um ambiente mais propício ao investimento. Os agentes econômicos estão aguardando se, de fato, há sinais mais afirmativos dessas questões para que possam destravar seus investimentos.

Havia uma expectativa de retomada do crescimento econômico, que ainda não se concretizou. Como isso afeta a BRF?

Se a economia estivesse mais forte teríamos um consumo maior. Considerando o cenário atual, estamos com a nossa linha de produção adaptada à demanda. Além disso, como a BRF exporta cerca de 50% da produção, permite uma diversificação de risco que é importante para os nossos negócios. Isso excluindo o efeito China (maior importador global e que passa por surto de peste suína).

O sr. já fez parte do governo. O que é mais fácil: estar no governo ou comandar empresas?

Eu diria que é muito mais difícil estar no governo. O número de variáveis que está sob o seu controle é muito menor do que no setor privado. Quando se está no governo e, de repente, acontece uma obstrução, é complexo. De todas as funções que eu participei, a mais complexa foi ser chefe da Casa Civil. Dependendo da empresa, há questões importantes, como segurança, meio ambiente. No caso da BRF, a principal complexidade deriva do fato de ser uma cadeia longa. O que eu quero dizer com isso? Decisões que eu tomo hoje vão ter impacto na minha produção daqui a um ano.

O sr. está há um ano na BRF e chegou em um momento crítico de desentendimentos entre os acionistas, crise financeira e denúncias da Polícia Federal. Qual o balanço que o sr. faz hoje?

Eu vim para ajudar a resolver a questão da governança. Os principais acionistas estavam em disputa e a opção pelo meu nome, por si só, ajudou a resolver o problema. O novo conselho deixa de ser parte do problema e passa a ser solução. É um conselho atuante, com excelentes membros. A empresa vivia uma série de problemas, alguns específicos da BRF e outros da indústria. Recompusemos o time de lideranças e fizemos um diagnóstico amplo de tudo que a empresa precisava para colocá-la nos trilhos.

Em junho o sr. deixará a presidência executiva para ficar no comando do conselho administrativo. O que muda?

Estamos vivendo agora um novo ciclo onde a BRF vai estar mais organizada, com uma visão estratégica muito clara. Lorival Luz, que atua como vice-presidente executivo global, assumirá a presidência. Nós fizemos a primeira etapa de arrumar a casa. Daqui para frente é voltar a ter os resultados positivos, margens melhores e pessoas alinhadas no conselho e na diretoria executiva.

A BRF está sob investigação nas operações Carne Fraca e Trapaça. Não trará impactos à empresa?

A BRF é a maior interessada para que essas questões do passado sejam esclarecidas. Definimos como um dos três valores fundamentais da empresa a integridade - os outros dois são segurança física das pessoas (funcionários ou não) e a disposição da empresa de ter todas as questões esclarecidas e cooperar com as autoridades.

O sr. é sócio da gestora de investimentos EB Capital. Vai se tornar um investidor?

Gosto de fazer múltiplas atividades, sendo que algumas com mais tempo que outras. Minha prioridade é a BRF. Mas, agora como presidente do conselho de administração, aceito participar de outras atividades, sempre fazendo uma avaliação cuidadosa da minha alocação de tempo. Isso é muito importante. E, nesse contexto, acredito que gestoras de private equity (que compram participação em empresas) estão adquirindo relevância muito grande no País.

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