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O dilema Onix: o que deu errado para a GM no Brasil

Dona da Chevrolet, a General Motors tem o carro mais vendido do país: o Onix. Mesmo assim, ameaça deixar o Brasil. Entenda por quê:

 (Chevrolet/Divulgação)

(Chevrolet/Divulgação)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 24 de janeiro de 2019 às 08h44.

Líder e dona do carro mais vendido no país, o Onix, a General Motors pode mudar seus planos para o Brasil. A presidente mundial da montadora, Mary Barra, deu sinais de que está considerando sair da América do Sul, onde mantém fábricas no Brasil, na Colômbia e na Argentina. “Não vamos continuar investindo para perder dinheiro”, disse.

O grupo, dono da marca Chevrolet, tem 20 mil funcionários no país e fábricas em São Caetano do Sul e São José dos Campos (SP), Gravataí (RS), Joinville (SC) e Mogi das Cruzes. Vendeu quase 390 mil carros no ano passado e domina 18,53% do mercado brasileiro.

Em repercussão ao anúncio global, Carlos Zarlenga, presidente da GM Mercosul, distribuiu semana passada comunicado interno, em que alerta para “o momento muito crítico” que vive a empresa. Só em 2018 as perdas no país estariam na casa de 1 bilhão de reais, segundo O Estado de S. Paulo.

Procurada por EXAME, a GM afirmou que não irá comentar.

As dificuldades da montadora não são novidade, dizem especialistas ouvidos por EXAME. Mas, segundo eles, a montadora não deve optar por sair do país agora, quando o mercado começa a melhorar depois de anos de crise.

"A situação está complicada há um tempo e a montadora precisa fazer algo para melhorar sua rentabilidade. Mas não acredito que irá sair do mercado", afirma Fernando Calmon, especialista no setor automotivo. A empresa anunciou diversos lançamentos para o Brasil, que devem chegar nos próximos anos. "Não faz sentido deixar o Brasil depois de anunciar esses planos para o país", afirma.

Crise e concorrentes

Após uma queda de 46% em quatro anos, para 2,05 milhões de unidades em 2016, as vendas de carros e caminhões cresceram 9% em 2017. Em 2018, a expectativa era de que as vendas subissem cerca de 15%; para 2019, devem crescer mais  12%, segundo projeções da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Se tudo der certo, em alguns anos o setor espera voltar ao nível de 2012, quando foram vendidas 3,8 milhões de unidades.

A crise não foi o único obstáculo na vida da GM. Ao lado de marcas como Ford Fiat e Volkswagen, a montadora dominava grande parte das vendas de carros até 2007. Outras montadoras estrangeiras, de olho no mercado brasileiro em alta, decidiram investir e abriram unidades no país, como Hyundai, JAC, Chery, Suzuki e Nissan. "As montadoras já instaladas perderam mercado e suas estratégias de longo prazo precisaram mudar", afirma Ricardo Jacomassi, sócio da consultoria TCP Latam.

Muitas desenvolveram carros com maior valor agregado e entraram em outros segmentos, como o de SUVs, que tem margens maiores e a predileção dos consumidores.

Nesse período, a GM trouxe lançamentos importantes para o país, como Cruze, Sonic e Onix. O Onix, carro de entrada da montadora, é líder de vendas no país há mais de dois anos. Foram 210 mil unidades emplacadas em 2018, o dobro do segundo colocado, o HB20 da Hyundai.

Ainda que os números de vendas sejam impressionantes, o mesmo não acontece com a rentabilidade da montadora. Os carros mais baratos, de R$ 40 a R$ 50 mil, também apresentam margens de lucro menores para as montadoras. Com aumento da concorrência, margens apertadas e uma grave crise econômica, a GM se viu em dificuldades.

Apesar disso, especialistas consideram que a estratégia da Onix é acertada. "Os carros de entrada são a maior categoria no Brasil, focar nela não é um erro", afirma Paulo Cardamone, consultor da Bright Consulting. A categoria também é muito procurada por motoristas de aplicativos de mobilidade, como Uber e 99 - demanda que só tende a crescer.

Estados Unidos

Se a situação já é delicada no Brasil, nos Estados Unidos é ainda mais crítica. A empresa quase quebrou em 2008 e precisou ser socorrida pelo governo americano. Uma década depois, vive nova crise. A empresa anunciou que irá cortar 15% de sua força de trabalho no país e irá encerrar a produção de cinco fábricas na América do Norte até o fim de 2019.

Enquanto no Brasil seu foco são os carros pequenos, lá a montadora vende principalmente grandes sedans, que não agradam mais ao público americano. Os consumidores preferem ter um SUV ou mesmo não possuir carro algum, dependendo dos aplicativos de mobilidade. "Estamos adequando nossa capacidade para a realidade do mercado", afirmou a presidente Mary Barra, acrescentando que a GM irá dobrar investimentos em carros elétricos e autônomos nos próximos dois anos.

Especialistas acreditam que a empresa pode anunciar mudanças na sua estratégia no país. Além de suas cinco fábricas no Brasil, a montadora também atua na Argentina e na Colômbia. Fechar unidades menores e menos produtivas pode ser um plano mais provável, acreditam.

De maneira geral, o setor automotivo está otimista com a aceleração da economia brasileira em 2019. As montadoras estabelecidas no Brasil devem investir cerca de 20 bilhões de dólares (perto de 80 bilhões de reais) até 2022, o dobro do valor investido de 2014 a 2017. A dúvida é se o Onix e a GM continuarão liderando o mercado.

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