Novo cartão da fintech Nubank: startup ataca agora o mercado de autônomos, microempreendedores e microempresários (Nubank/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 27 de julho de 2019 às 08h00.
Última atualização em 27 de julho de 2019 às 17h30.
O Nubank, fintech famosa por seu cartão de crédito roxo, acaba de anunciar um novo aporte, no valor de 400 milhões de dólares. A nova rodada de investimento, liderada pelo fundo TCV, da Califórnia, eleva o valor de mercado da companhia ao patamar impressionante de 10 bilhões de dólares.
É um valor semelhante ao de gigantes como a varejista Renner, que vale 9,7 bilhões de dólares na bolsa. Com a diferença de que a Renner teve lucro líquido de 1 bilhão de reais em 2018, e o Nubank ainda queima dinheiro (desde 2015 já foram 372 milhões de reais em prejuízo). A pergunta que fica então é: a fintech brasileira vale tudo isso mesmo?
Para o consultor Boanerges Ramos Freire, não é bem assim. "Quem compra um pedaço da empresa pagando esse valor está comprando uma tese de investimento, uma possibilidade de entrar no mercado brasileiro, não se trata do valor real da empresa", afirma.
Já na visão da cofundadora do Nubank Cristina Junqueira, a fintech tem potencial para valer muito mais que os 10 bilhões de dólares nos próximos anos. “Os fundos avaliam seus investimento esperando bons retornos. Muito mais importante do que as críticas é o fato de que um dos maiores fundos do mundo decidiu fazer um investimento dessa magnitude. A oportunidade no Brasil e na América Latina continua imensa”, afirma.
A avaliação em 10 bilhões de dólares vem menos de um ano após aporte da companhia chinesa Tencent, que colocou 180 milhões de dólares no negócio em outubro de 2018, avaliando a empresa brasileira em 4 bilhões de dólares. A cifra já havia sido aventada há algumas semanas, quando rumores indicavam a fintech como uma das empresas brasileiras a receberem aporte do fundo asiático Softbank. A EXAME, Junqueira confirma que o Nubank teve conversas com o Softbank, mas o aporte não avançou, ao menos por agora. “Recebemos investidores toda semana e estamos sempre abertos a conversar sobre investimentos”, diz.
Por ser uma startup, o valor de mercado do Nubank é definido muito mais em relação a uma expectativa de ganhos futuros do que com base em seus números atuais. É uma avaliação complexa que leva em consideração fatores como o potencial do mercado de atuação da companhia e sua capacidade de execução. Segundo executivos do setor, é difícil cravar o valor real da companhia.
“O risco nesse caso é a empresa chegar a um valor muito exorbitante, com queima de caixa, e não conseguir desempenhar o que se propõe. Isso pode ocorrer por problemas regulatórios, pela chegada de concorrentes fortes, ou ainda se a empresa cometer algum erro grave. Mas digo que, se alguém tem esse potencial de valor no Brasil hoje, é o Nubank", diz um executivo.
O caso da Uber é emblemático. A companhia de mobilidade urbana chacoalhou o mercado com sua proposta de disrupção do transporte individual e chegou a ser avaliada em 120 bilhões de dólares. No entanto, o avanço da concorrência, os problemas regulatórios enfrentados em diversos países e os escândalos envolvendo o fundador Travis Kalanick culminaram em uma abertura de capital com valor de mercado abaixo do esperado. Após o IPO, os investidores viram os papéis se desvalorizaram.
Mas os investidores que colocam dinheiro no Nubank estão acostumados com esse risco. O TCV, que lidera o aporte anunciado ontem, é um importante fundo da Califórnia conhecido por investir em empresas em fase de crescimento acelerado e já colocou dinheiro em negócios como Netflix, Spotify e Zillow.
E os resultados do Nubank têm se mostrado consistentes. As receitas se multiplicaram por 45 em quatro anos: de 28 milhões de reais em 2015 para 1,3 bilhão no ano passado. Com seis anos de mercado, já são 12 milhões de clientes, com um plus de ser uma marca amada pelos consumidores, algo raro no setor financeiro. O mercado de atuação, com forte concentração na América Latina, é visto como um setor cheio de oportunidades. Já no ponto do lucro, os executivos da empresa dizem que, se quisessem, poderiam parar de crescer para gerar resultado, pois a operação brasileira já gera caixa. Mas que a estratégia não faz sentido, tamanho o potencial do mercado.
Entre as fintechs brasileiras, o aporte no Nubank foi visto como uma ótima notícia: dá visibilidade para o mercado de startups brasileiro, com possibilidade de abrir caminhos para outras empresas buscarem investimentos com fundos de peso. O investimento no Nubank é o primeiro do TCV na América Latina. “Mais uma vez estamos atraindo investidores internacionais e trazendo foco para a região, o que tende a beneficiar todo o ecossistema local”, afirma Junqueira.
O aporte também contou com a participação de Tencent, DST Global, Sequoia Capital, Dragoneer, Ribbit e Thrive Capital, que já participaram em aportes anteriores. Com mais essa rodada, o Nubank acumula 820 milhões de dólares levantados em sete rodadas de investimento desde sua fundação, em 2013.
O novo investimento vem algumas semanas após o Nubank anunciar sua expansão pela América Latina. O banco abriu um escritório no México em maio, e na Argentina em junho. O dinheiro levantado agora será usado principalmente nessa expansão. Junqueira lembra que operação no Brasil levou três anos até chegar ao patamar atual. O objetivo é ter os primeiros clientes no México ainda esse ano, e na Argentina no primeiro semestre do ano que vem. Para sustentar a expansão, a previsão é ampliar de forma significativa o número de funcionários, de 1.600 hoje para 2.500 até o fim do ano.
No Brasil, a companhia já tem 12 milhões de clientes, sendo cerca de 8 milhões de contas digitais. A empresa começou oferecendo cartão de crédito, e hoje já atua com contas, empréstimo pessoal e mais recentemente lançou a conta para pessoa jurídica, ainda em fase de testes.