Usiminas: novo presidente afirmou que renegociação das dívidas será concluída no prazo e capitalização dará fôlego à empresa (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 8 de junho de 2016 às 11h33.
São Paulo - Símbolo da siderurgia nacional, a Usiminas acelera ações para tentar sair da crise societária e de gestão em que se encontra há quase dois anos.
O novo presidente da empresa, o engenheiro Sérgio Leite, no cargo há apenas duas semanas, criou um grupo de "altos profissionais" para priorizar medidas de reestruturação e recuperar a sustentabilidade do grupo que, até março, acumulava sete trimestres de prejuízos consecutivos.
Em sua primeira entrevista após assumir o posto, Leite afirma que nos próximos 30 dias será concluído o processo de aumento de capital de R$ 1 bilhão do grupo.
O aporte, segundo ele, será suficiente para que a empresa pare de queimar seu caixa e comece a gerar resultados positivos.
A renegociação das dívidas, de quase R$ 8 bilhões, deve ser concluída no prazo de 120 dias dado à Usiminas em meados de março.
A escolha de Leite é contestada pelo grupo japonês Nippon, mas teve o apoio do ítalo-argentino Ternium. Os dois são os maiores sócios da companhia.
Com essas ações, o grupo afasta qualquer risco de recorrer à recuperação judicial, conforme chegou a ser avaliado no início do ano. "Esse tema está descartado, não existe essa preocupação, nem esse risco", afirma Leite.
"A Usiminas está rigorosamente em dia com todos os seus compromissos financeiros, junto a fornecedores etc."
As ações desenvolvidas para recuperar a empresa - que já foi dona de metade do mercado brasileiro de aços planos, e hoje detém pouco mais de 30% - passam pela reestruturação de áreas e processos, redução de custos, aumento de receita, melhora da oferta de produtos mais nobres e ampliação das exportações para contrapor a queda nas vendas internas.
"A diretoria está focada no sentido de capacitar a empresa a enfrentar uma nova realidade de mercado, ser sustentável e construir seu presente e futuro", informa.
"Evidentemente o objetivo é reduzir o tamanho da estrutura, para torná-la menos complexa e mais leve", diz Leite, que não descarta novos cortes de pessoal.
Já o fechamento de unidades produtivas, a exemplo do que ocorreu no início do ano com a produção primária de Cubatão (SP), não está nos planos no momento.
O grupo chegou a empregar mais de 25 mil funcionários, mas, só com a suspensão das atividades de gusa e aço em Cubatão, cerca de 3 mil trabalhadores foram dispensados.
Se ocorrerem novos cortes, serão priorizados o pessoal que está perto da aposentadoria, quem deseja deixar a empresa e, em último caso, haverá programas de incentivo.
"Procuramos formas de minimizar o impacto (de possíveis cortes), mas não podemos deixar de enfrentar a realidade."
Após três reajustes seguidos no preço do aço aos distribuidores, em abril (10%), maio (12%) e junho (10%), Leite descarta novos aumentos no curto prazo. "Com esse aumento de junho, estamos em equilíbrio com o mercado internacional."
A busca mais intensa pelo mercado internacional, que hoje fica com 15% a 25% da produção nacional, será feita basicamente nos mercados onde a companhia já atua, como América Latina (especialmente Argentina, México e Colômbia), Estados Unidos e Europa.
Uma ação mais organizada para conquistar mercados externos está sendo feita em conjunto com o Instituto Aço Brasil (IABr). A entidade tenta apoio e incentivo do novo governo federal.
Uma das propostas é elevar as alíquotas do Reintegra, programa que garante às empresas um ressarcimento pelos resíduos tributários existentes nas exportações.
A alíquota, que era de 3%, está em 0,1%, "mas o ponto que achamos razoável é no patamar de 5%", ressalta o presidente da Usiminas.
Nesta quarta-feira, 8, Leite falará na abertura da 27ª edição do Congresso Brasileiro do Aço, em São Paulo, e pretende destacar a situação do setor no País e no mundo. Ele lembra que setor atravessa momento delicado.
Em nível global, há um excesso de capacidade mundial de 700 milhões de toneladas do produto e a dificuldade de competir com a China.
No Brasil, a crise reduz ainda mais a participação da indústria de transformação no PIB. Só as vendas da Usiminas caíram 20% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2015.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.