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Novo Nordisk reduz preço do remédio para obesidade nos EUA. E no Brasil?

Farmacêutica aposta na venda direta para alavancar as vendas no disputado mercado americano

 (Michael Siluk/Getty Images)

(Michael Siluk/Getty Images)

Isabela Rovaroto
Isabela Rovaroto

Repórter de Negócios

Publicado em 7 de março de 2025 às 12h00.

A disputa pelo mercado de medicamentos para obesidade nos Estados Unidos entrou em uma nova fase. A dinamarquesa Novo Nordisk anunciou que vai reduzir o preço do Wegovy, um de seus remédios mais populares para emagrecimento, vendendo diretamente ao consumidor por US$ 499 ao mês. O movimento acontece dias após a rival Eli Lilly cortar os preços do Zepbound e expandir sua própria plataforma de venda direta.

A mudança sinaliza uma nova estratégia para conquistar pacientes que pagam do próprio bolso e não têm cobertura de seguro saúde nos EUA. Para a Novo Nordisk, é uma forma de ampliar o acesso ao Wegovy, que pode custar mais de US$ 1.000 mensais sem subsídios.

"Queremos aumentar o acesso à semaglutida e oferecer uma opção para quem não tem seguro", disse Camila Sylvest, vice-presidente executiva de Estratégia Comercial e Assuntos Corporativos da Novo Nordisk, durante coletiva global nesta quinta-feira, 6. Segundo ela, o objetivo é atender pacientes que antes não conseguiam pagar pelo tratamento. "Mais de 100 milhões de americanos têm obesidade ou sobrepeso, e menos de 10% possuem cobertura de seguro para esses medicamentos."

A revolução do GLP-1

A história dos medicamentos à base de GLP-1 está diretamente ligada à da insulina. A Novo Nordisk, já consolidada como líder no tratamento do diabetes, avançou nessa pesquisa quando, em 1991, a engenheira química Lotte Bjerre Knudsen começou a estudar um hormônio intestinal liberado após as refeições. Sabia-se que ele ajudava a regular os níveis de açúcar no sangue e a controlar o apetite, mas havia um problema: o corpo humano o eliminava em poucos minutos.

Para transformá-lo em um medicamento eficaz, era preciso torná-lo estável e duradouro. Knudsen passou 18 anos ajustando aminoácidos, adicionando cadeias de ácidos graxos e testando novas moléculas até chegar à liraglutida, um análogo do GLP-1 capaz de permanecer ativo no organismo por um dia inteiro. A substância foi aprovada em 2010 para tratar diabetes tipo 2 e, quatro anos depois, para perda de peso.

Em 2021, a Novo Nordisk lançou o Wegovy, uma versão mais potente do GLP-1, com o princípio ativo semaglutida, desenvolvida especificamente para tratar obesidade. Os resultados clínicos foram expressivos: pacientes perderam, em média, 15% do peso corporal inicial.

O impacto foi tão grande que o Wegovy rapidamente se tornou um sucesso global. A demanda fez com que a Novo Nordisk se tornasse a empresa mais valiosa da Europa em 2024, atingindo um recorde de 604 bilhões de dólares em março daquele ano. Embora o valor de mercado tenha recuado para cerca de 300 bilhões de dólares, a empresa segue como uma das gigantes do setor. Só no terceiro trimestre de 2024, as vendas do Wegovy cresceram 79%, gerando 2,3 bilhões de dólares em receita.

O sucesso da Novo Nordisk levou a Eli Lilly a acelerar suas apostas no mercado de obesidade. A empresa lançou a tirzepatida, comercializada como Zepbound, que combina os efeitos do GLP-1 com outro hormônio, o GIP. Nos estudos clínicos, os pacientes que usaram a tirzepatida perderam, em média, 21% do peso corporal, um percentual ainda maior que o registrado com o Wegovy.

Além da obesidade, pesquisadores estão explorando novas aplicações para os medicamentos à base de GLP-1. Estudos sugerem que essas drogas podem ter efeito positivo no tratamento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, além de condições como doença renal crônica e doenças hepáticas. Em testes com pacientes com Alzheimer, a liraglutida reduziu o declínio cognitivo em 18% ao longo de um ano.

E o Brasil?

"O preço acessível é uma questão global", afirmou Lars Fruergaard Jørgensen, presidente da Novo Nordisk. Ele destacou que sistemas de saúde ainda não tratam a obesidade como deveriam, o que dificulta a adoção desses medicamentos em alguns mercados. "Estamos trabalhando para transacionar em diferentes estruturas. Vemos que os pacientes estão dispostos a pagar pelo produto."

Ainda não há informações sobre uma possível adoção da venda direta do Wegovy no Brasil. Hoje, o medicamento é vendido em farmácias por valores que podem ultrapassar 1.000 reais por mês. Caso a estratégia dos EUA seja expandida para outros mercados, pode haver impacto no preço local.

A Novo Nordisk já adotou modelos de coparticipação para reduzir custos em alguns países, como a Dinamarca, mas, no Brasil, uma movimentação semelhante dependeria da negociação com planos de saúde e da regulação local.

Por aqui, a farmacêutica brasileira EMS, com faturamento próximo de 10 bilhões de reais no ano passado, já anunciou que está desenvolvendo dois medicamentos para obesidade e diabetes baseados na liraglutida, um análogo do GLP-1. Líder no mercado de genéricos no Brasil, a empresa deteve 28% desse segmento em 2023, segundo a consultoria IQVIA.

A expectativa é que, com o fim da patente da semaglutida no Brasil em 2026, a Novo Nordisk passe a enfrentar concorrência no mercado de genéricos, o que pode pressionar os preços para baixo.

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