Rio Grande do Sul: cerca de 700.000 pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes (Ricardo Stuckert/Presidência da República/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 4 de setembro de 2024 às 10h18.
A destruição causada pelas chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul em maio trouxe ao Brasil uma realidade já enfrentada em outros países que passaram por desastres parecidos, como os Estados Unidos e o Japão: a de que a reconstrução é contínua e acontece a longo prazo.
Foi pensando nesse processo de reconstrução contínuo que o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) acaba de lançar um fundo em apoio a pequenas e médias empresas gaúchas.
Chamado Juntos pelo RS, o fundo vai captar recursos filantrópicos e de investimento com oferta inicial de 40 milhões de reais via FIDC, modalidade de investimento no qual titulares de cotas têm rendimentos atrelados a recursos advindos de uma empresa.
“Temos uma cultura de doação no Brasil que é muito reativa, o que é bom por um lado, porque realmente as comunidades precisam de ajuda instantânea, mas que acaba prejudicando as comunidades que precisam de ajuda por um longo prazo”, diz Juliana de Paula, diretora de responsabilidade social do BTG Pactual e uma das responsáveis pela iniciativa. “Quando começamos a estruturar o fundo, aceleramos os trabalhos. Mas então paramos para entender que poderíamos lançar agora e continuar dando luz às necessidades dos gaúchos”.
O produto será destinado para apoiar empresários de pequeno e médio porte do Rio Grande do Sul que forneçam produtos e serviços a grandes empresas, com a concessão de crédito de até 250.000 reais.
As empresas terão carência de 12 meses, e pagamento parcelado em até 24 vezes. A taxa de juros será CDI mais 1,5% ao ano, abaixo da oferta corrente de mercado. As empresas que receberão o crédito serão indicadas por parceiros que fazem parte da rede de relacionamento do banco.
“É uma taxa muito abaixo do mercado. Mas além dos recursos, queremos estar próximos desse empreendedor”, diz Gabriel Motomura, sócio do banco e co-head do BTG Pactual Empresas. “Todas as áreas do banco estão se dedicando muito para iniciativa. A taxa de gestão está zerada. A taxa de administração está num valor mínimo. Virou um projeto de muitas frentes”.
“Queremos usar toda nossa experiência de operador de crédito para fazer o recurso chegar de forma rápida aos empresários”, conclui.
Além do recurso financeiro, os empreendedores terão acesso a jornadas de capacitação com conteúdo de gestão de uso de crédito, além de mentoria com funcionários do BTG Pactual.
A iniciativa é uma parceria entre as áreas de Responsabilidade Social do BTG Pactual e o BTG Pactual Empresas.
“Unimos as nossas expertises para pensar em um produto que pudesse apoiar a retomada econômica do estado, atraindo investidores e parceiros para atuarem em conjunto conosco”, diz Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual.
Com o lançamento do fundo agora, o banco irá atrás dos investidores e patrocinadores do fundo. O próprio BTG alocará dinheiro no FDIC, para além dos 20 milhões de reais já doados para ajudar o Rio Grande do Sul.
As empresas para receber o crédito com condições diferenciadas serão escolhidas pelos próprios patrocinadores do fundo e por empresas que fazem parte do relacionamento com o BTG.
“Vamos supor que tem uma grande empresa cujos fornecedores foram atingidos”, diz Motomura. “A companhia poderá contribuir com o fundo e indicar esses fornecedores para receberem o capital e participarem do programa de mentoria, para melhor alocar esse dinheiro”.
Não há uma meta definida, mas o banco acredita que conseguirá ajudar cerca de 200 pequenas e médias empresas com o fundo.
A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.