André Weinmann, da NotCo: "O Brasil tem o maior mercado de leites vegetais da América Latina" (NotCo)
Repórter
Publicado em 18 de outubro de 2024 às 10h51.
Última atualização em 21 de outubro de 2024 às 10h41.
O mercado de alimentos plant-based (feitos com ingredientes vegetais) desacelerou nos últimos anos e as carnes e frangos congelados à base de plantas não vingaram no Brasil. A busca por produtos saudáveis e saborosos, no entanto, continuou entre os consumidores. É nesse contexto que a NotCo, startup chilena de alimentos à base de plantas, decidiu pausar sua linha de congelados no Brasil e concentrar esforços em categorias de produtos com maior potencial de expansão, como as bebidas proteicas.
A NotCo ganhou popularidade ao oferecer produtos que substituem alimentos de origem animal, como hambúrgueres e sorvetes à base de plantas. No entanto, a linha de congelados foi retirada das prateleiras no Brasil no início de 2024. Logo depois, em abril, André Weinmann assumiu como presidente da NotCo no Brasil, substituindo o argentino Mauricio Alonso. Ele traz uma vasta experiência do setor de consumo e já liderou a fabricante de cigarros Philip Morris e do conglomerado de alimentos Mondelez, dono de marcas como Bis, Lacta e Oreo. Além disso, mais recentemente, cofundou a startup KotaKi, que conectava atacadistas a pequenos varejos. “Minha experiência me dá a visão necessária para adaptar a NotCo a esse mercado competitivo e inovador”, afirma.
Segundo Weinmann, retirar os congelados da NotCo aconteceu principalmente devido aos altos custos de distribuição e da concorrência com empresas grandes do setor. “Eles colocavam produtos que custavam 50% menos que os nossos, mesmo sendo piores em termos de qualidade. Isso tornou muito difícil nossa operação nesse segmento”. Em contraste, em países como a Argentina, os congelados representam 85% das vendas da NotCo, demonstrando que o sucesso nesse segmento depende fortemente do mercado local.
Agora, as bebidas proteicas são as principais apostas da foodtech. O produto é desenvolvido para competir com marcas tradicionais como YoPro, da Danone, mas com ingredientes naturais: proteína de soja e ervilha; suco concentrado de abacaxi ou de repolho; óleo de coco e de girassol são algumas das matérias-primas encontradas nos cinco sabores disponibilizados.
A NotCo not é a única que percebeu a ascensão das bebidas proteicas. O setor é uma das categorias que mais crescem no Brasil e no mundo, alinhado pela demanda por produtos que são benéficos à saúde. De acordo com Weinmann, esse segmento registrou um crescimento de 150% no último ano, e a expectativa é de que cresça mais 30% em 2024.
O executivo destaca que essa é uma tendência que veio para ficar, especialmente entre jovens. “Temos dois tipos de consumidores: os que buscam um suplemento para seus treinos e aqueles que querem uma opção de lanche saudável e leve, mas que não abre mão da proteína”, diz ele.
Piracanjuba, 3 Corações, Verde Campo, DUX e YoPro são algumas das marcas que chegaram nas prateleiras do consumidor nos últimos anos, mas nenhuma compete diretamente com a marca de produtos à base de plantas. Isso porque a NotCo é a única das opções que oferece leite vegetal e, portanto, um valor calórico menor. São apensa 3,5 em uma porção de 250 ml.
O Shake Protein também não tem açúcares adicionados e é a única com 3 g de fibras alimentares. Ao mesmo tempo, são poucas as proteínas: são 16 g de proteína por porção, uma quantidade inferior aos 23 g da Piracanjuba, por exemplo, mas semelhante ao do YoPro e da DUX.
Além das bebidas proteicas, a NotCo está expandindo suas operações para outras categorias de produtos, incluindo snacks proteicos e iogurtes à base de plantas. Weinmann destaca que o país tem um potencial imenso para se tornar um dos principais mercados da empresa. "O Brasil tem o maior mercado de leites vegetais da América Latina, e estamos posicionados para aproveitar essa oportunidade", afirma.
No longo prazo, a empresa planeja expandir sua linha de produtos e explorar novas categorias. Os congelados, porém, ainda são incertos.
Outro pilar da nova estratégia da NotCo é o uso da inteligência artificial para inovar em seus produtos. A empresa desenvolveu uma plataforma de IA chamada Giuseppe, que é capaz de analisar milhares de combinações de ingredientes e até pesquisas científicas para criar produtos com perfis de sabor e textura semelhantes aos de alimentos de origem animal.
O Giuseppe funciona como um ChatGPT, ou seja, o cozinheiro conversa com ele e pode responder caso a IA sugira uma receita com um sabor ou textura desagradáveis. Após encontrar a receita, a NotCo ainda passa por uma série de testes e validações para o produto chegar ao mercado. Mas, com o auxílio da IA generativa, consegue ser mais rápida que a competição: "Enquanto outras empresas demoram de 18 a 24 meses para lançar um novo produto, conseguimos desenvolver e colocar no mercado em apenas seis semanas", afirma Weinmann.
A inteligência artificial também permite que a empresa crie produtos adaptados a diferentes mercados. No Brasil, por exemplo, os sabores da linha de shakes foram desenvolvidos levando em consideração as tendências de consumo dos brasileiros, com opções como morango com tâmara e banana com panqueca. “Os sabores brasileiros são únicos, e estamos conseguindo criar produtos que atendem ao gosto local, ao mesmo tempo em que mantemos o foco na alta proteína e baixo carboidrato”, diz.