Igor Bonatto, fundador da Noodle: volume de crédito transacionado quadruplicou nos últimos meses de 2024
Repórter
Publicado em 25 de março de 2025 às 06h30.
No mercado da influência e da música, receber o pagamento por um trabalho pode levar meses. Não é raro que contratos de publicidade demorem 60, 90 ou até 120 dias para cair na conta do influenciador ou artista. Atrasos que dificultam o planejamento financeiro até de quem já tem uma carreira estruturada.
Foi enfrentando esses mesmos gargalos que o ex-cineasta Igor Bonatto decidiu mudar de rumo e fundar a Noodle, uma fintech voltada para resolver justamente esse problema: dar previsibilidade e infraestrutura financeira à creator economy, o setor que reúne criadores de conteúdo, agências e artistas.
A empresa já movimenta mais de R$ 25 milhões por mês em pagamentos e projeta atingir R$ 500 milhões em volume transacionado até o final de 2025. O mercado da creator economy está avaliado em US$ 191,55 bilhões em 2025, a projeção para daqui a cinco anos é de US$ 528,39 bilhões.
Bonatto começou sua carreira no audiovisual no início dos anos 2010, após se formar em cinema no Canadá. Chegou a produzir um longa, mas viu seu maior projeto — uma ficção científica — ser engavetado por falta de investidores. "Não era só o meu projeto. O problema era da economia criativa como um todo: não havia dados ou mecanismos para mensurar risco e atrair capital privado", afirma.
Foi dessa frustração que nasceu a Noodle em 2022. Inicialmente, Bonatto criou um modelo para prever resultados e riscos de projetos criativos com base em dados e métricas. Teve ajuda do colega e cofundador da Noodle, Ian Carvalho, hoje doutorando em inteligência artificial.
A lógica era que, se investimentos não acontecem porque o mercado de criatividade é considerado mais imprevisível, é necessário achar um jeito de mensurar esse risco.
Como muitos negócios, a ideia inicial não deu certo e a empresa se viu perto da falência no final de 2023. "Demos um passo maior que a perna", resume Bonatto. A Noodle teria expandido muito rápido para novas indústrias, como a de games. "Tivemos que lidar com uma carteira de crédito que não aguentava o tranco", diz.
A startup adaptou sua tecnologia para passar a atender agências de influenciadores — e viu seu mercado explodir.
A Noodle atua como uma espécie de banco digital para a creator economy. A plataforma permite que agências como BR Media, Kondzilla e GR6 automatizem todo o fluxo de pagamento de campanhas, desde o contrato até a liquidação com o criador.
A fintech também antecipa recebíveis e oferece crédito baseado em métricas sociais como engajamento, seguidores e visualizações. Na prática, um influenciador que receberia em 90 dias por uma ação de marca pode ser pago em horas.
A plataforma já viabilizou mais de R$ 180 milhões em publicidade em 2024 e atinge hoje cerca de 10 mil criadores.
Segundo Bonatto, um dos maiores diferenciais é conseguir prever inadimplência com base no comportamento digital do criador. O índice de calote da fintech é próximo de zero.
A Noodle também atua com serviços de câmbio, em parceria com o Remessa Online, para atender criadores monetizados em dólar.
Após receber um aporte seed de R$ 5 milhões em 2024 liderado pela QED Investors, a Noodle iniciou uma fase de expansão. A empresa quadruplicou o volume de crédito desembolsado entre novembro e março, contratou novos executivos e prepara uma nova rodada para o segundo semestre deste ano.
Com mais de R$ 120 milhões movimentados em câmbio e um mercado estimado em até meio trilhão de dólares nos próximos anos, segundo o Goldman Sachs, a empresa quer liderar a infraestrutura da economia criativa no país.
“Eu desisti da minha carreira para que outros criadores não precisem desistir da deles”, resume Bonatto. “Queremos garantir que nenhuma boa ideia acabe na gaveta por falta de dinheiro.”