Ricardo Almeida, do Clube dos Autores: stamos começando a olhar alternativas de investimento com o propósito de acelerar o crescimento (Clube dos Autores/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 3 de julho de 2024 às 09h20.
Em meio a notícias costumeiramente ruins no mercado editorial, a plataforma Clube dos Autores está em uma direção diametralmente oposta. A empresa cresceu 50% no ano passado, ritmo que tem sido recorrente desde 2018, e começou a expandir a operação para fora do país, como Portugal e Espanha.
No mercado desde 2009, a plataforma de venda de livros foi criada para que autores independentes conseguissem publicar os seus livros gratuitamente e vender sob demanda. Atualmente, o Clube de Autores reúne mais de 75 mil autores e mais de 100 mil livros publicados.
A próxima novidade no catálogo é a criação de uma inteligência artificial, a Aila, para ajudar no dia a dia dos escritores. Criada com investimento de R$ 150 mil, a IA já foi usada por cerca de 6 mil autores.
“Neste primeiro mês desde o lançamento, nós temos visto muitas perguntas sobre o mercado e sobre o que esses autores precisam fazer para vender mais. Metade das questões são sobre isso, que é a performance do livro, e outros 40% relacionadas a dados de mercado”, diz Ricardo Almeida, fundador e CEO do Clube de Autores.
No papel, a proposta é ir muito além, adicionando camada de serviços como:
Quase uma heresia no mercado livreiro, reconhece Almeida. “Isso é um tabu no mercado editorial. O mercado editorial por natureza é um mercado muito conservador. O que se ouve no mercado é que será muito difícil uma IA traduzir um livro com a qualidade, por exemplo, que um José Saramago fazia. Mas não é todo autor que consegue um Saramago para traduzir seu livro, não é?”, diz.
A jornada até chegar nesta fase de desenvolvimento deve levar cerca de 1 ano e consumir em torno de R$ 850 mil. O projeto está entre as prioridades, na primeira página e colorido com caneta marca-texto, pelo poder de impulsionar o ciclo de internacionalização do Clube, cujo investimento gira em cerca de R$ 2,5 milhões.Além dos países ibéricos, a plataforma deve começar a receber escritores da Austrália e da Alemanha ainda este ano. “O nosso propósito é derramar uma série de serviços no mercado editorial para permitir que livros em língua portuguesa sejam vendidos em espanhol, em inglês e em árabe e vice-versa”, diz o empreendedor.
Surgia ali o embrião do Clube de Autores, com um formato em que o autor sobe o conteúdo na plataforma gratuitamente e paga um percentual sobre a venda de cada exemplar - seja físico ou digital. 90% dos usuários adquirem os livros na versão impressa.
“Nós nascemos à frente do nosso tempo, o que significa absolutamente negativo. Tivemos que formar público, conceito e estruturar todo o modelo”, afirma Almeida.
Sem canais de distribuição estruturados nos primeiros anos, o negócio cresceu em velocidade mais lenta. A tração veio a partir de 2018, com a evolução dos marketplaces. A abertura dessas plataformas coincidiu ainda com o momento ruim de livrarias e editoras e a chegada da pandemia.
As mudanças na indústria editorial levaram à atração de um novo perfil de escritor, além dos independentes do início. “O nosso perfil é extremamente híbrido, extremamente. Hoje, nós temos esse autor que consegue se publicar, encontrar editora, mas prefere sair por aqui por uma questão de ter controle sobre o próprio dinheiro e resultado. E segundo, mas não menos importante, a rede de distribuição”, diz Almeida.
De acordo com o empresário, além de marketplaces como Amazon, Magazine Luiza e Americanas, o Clube conta ainda com mais de 3.000 pontos de vendas, como livrarias associadas à Agência Nacional das Livrarias. A maior procura é por livros de negócios, romance e misticismo.
Até aqui, 2023 foi o ano em que a plataforma mais pagou direitos autorais, R$ 2,8 milhões. Na história, a soma chega a pouco mais de R$ 20 milhões.Nos quase 15 anos da empresa, Almeida e os sócios Indio Brasileiro e Anderson de Andrade, também membros do conselho, captaram recursos apenas uma vez com a gestora FIR Capital. Mais tarde, recompraram a participação.
Com a expansão do negócio, o trio coloca no radar uma potencial captação. “Estamos começando a olhar alternativas de investimento com o propósito de acelerar o crescimento”, diz Almeida.