Nespresso: a indústria da mineração está eliminando de água até churrascos (Germano Luders)
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2014 às 15h08.
Londres - O apetite reduzido da China por matérias-primas está levando as mineradoras a tomarem medidas extremas para reduzir custos em meio à constante queda nos preços.
Após cortar bilhões de dólares as mineradoras agora estão cavando por toda parte atrás de possibilidades para economizar, o que inclui renegociar contratos para compra de pneus e adotar caminhões e trens sem motorista. Nem os menus estão isentos.
Os trabalhadores da Kinross Gold Corp. na Mauritânia, África Ocidental, estão perdendo suas elegantes máquinas de café da marca Nespresso, promovida pela estrela do cinema George Clooney. E a Rio Tinto Group vem reduzindo as tortas de carne.
“O mundo está se encaminhando para um superávit na maior parte das commodities. O foco definitivamente tem que estar na redução de custos e em reduzir os excessos dos últimos cinco anos”, disse Rob Clifford, analista de mineração do Deutsche Bank AG em Londres, por telefone. “E você precisará focar nas coisas pequenas. Cada torta conta”.
Em um momento em que indústrias mais vigorosas estão esbanjando em itens gourmet para sua força de trabalho, do sushi fresco na Google Inc. até estações de alimentos de “paleodieta” na cafeteria da sede da Apple Inc., a indústria da mineração está eliminando tudo, de água engarrafada até churrascos.
Com mais de US$ 50 bilhões em receita no ano passado, a Rio Tinto economizou US$ 60.000 reduzindo as porções de torta de carne e de enroladinhos de salsicha.
medida foi parte de um esforço mais amplo que eliminou US$ 2,3 bilhões em custos no ano passado em uma reformulação das operações globais. Esse impulso continuará, disse o CEO Sam Walsh em entrevista à Bloomberg Television, ontem.
“Precisamos continuar melhorando nossa eficiência”, disse ele.
Café de coador
De forma semelhante, a Kinross está retirando as cápsulas de café expresso da Nestlé SA como parte de um esforço para reduzir os custos operacionais após uma queda de um terço no valor do ouro.
A empresa optou por “máquinas de café de coador e grão moído para substituir as cápsulas de consumo individual, que são mais caras”, segundo um e-mail de 2 de abril da Kinross, enviada para sua equipe na mina Tasiast, na Mauritânia, escrita em inglês, árabe e francês. O e-mail comunica que a troca pode economizar US$ 80.000 ao ano.
Andrea Mandel-Campbell, porta-voz da Kinross, empresa com sede em Toronto, preferiu não comentar diretamente o e-mail. “Temos focado em reduzir custos e aumentar a eficiência em todas as nossas operações por algum tempo, agora”, disse ela. “Estamos muito orgulhosos de alguns resultados tangíveis que temos visto ultimamente”.
Pneus de caminhões
A BHP Billiton Ltd., maior mineradora do mundo, eliminou US$ 3,9 bilhões em custos e gastos de exploração nos últimos dois anos.
Para limitar os custos em suas minas de carvão australianas a BHP instruiu sua frota de caminhões a reduzir a inatividade nas mudanças de turno e começou a reabastecer os caminhões nas minas para evitar o desgaste de pneus. A empresa diz que isso melhorou o desempenho dos caminhões em 40 por cento.
Contudo, a indústria pode ter dificuldades para continuar efetuando cortes. As mineradoras reduzirão o gasto de capital em mais da metade entre 2013 e 2015, estimaram analistas do JPMorgan Chase Co. em um relatório de 12 de maio, levando a indústria do underweight para o overweight. Isso aumenta a possibilidade de retorno de caixa para os investidores, disse o JPMorgan.
Preço da banana
“As oportunidades fáceis de redução de custo foram abordadas”, escreveu o Morgan Stanley em uma nota, na semana passada. “À medida que o impulso por eficiência continuar, o ritmo das reduções de custo irá desacelerar”.
Isso não consola muito os trabalhadores da produtora de níquel Western Areas Ltd., que não tiveram aumento de salário nos últimos três anos porque os preços do metal despencaram, enquanto a companhia está mantendo as despesas sob a lupa para conter suas perdas.
“Cada centavo que economizamos vai diretamente para o lucro”, disse o diretor-geral Dan Lougher em uma entrevista. “As reduções de custo são parte da nossa cultura. Quando o preço da banana sobe, nós a tiramos do cardápio. Elas estão no cardápio neste momento”.