(SDI Productions/Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 24 de outubro de 2020 às 09h10.
Última atualização em 24 de outubro de 2020 às 09h26.
Em 2020, o Brasil eliminou mais de 23 mil empregos formais para pessoas com deficiência, sendo que a geração de emprego para esse grupo foi negativo em todos os meses do ano, como aponta o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. No país a cota legal obriga as empresas com mais de 1.001 funcionários a contratação de pessoas com deficiência em 5% do quadro total, mas muitas acabam pagando a multa e afirmando ser difícil contratar esses profissionais. O amanhã está sendo escrito hoje. Você está preparado para escrever o seu? Conheça o curso de inovação da EXAME Academy
"Os executivos acabam praticando o capacitismo, preconceito contra pessoas com deficiência, criminalizado a partir da promulgação da LBI (Lei Brasileira de Inclusão, número 13.146) de 2015, ao pressupor que elas não serão capazes de exercer suas funções plenamente por conta da deficiência", diz Ivone Santana, presidente do Instituto Modo Parités, que atua na inclusão social no mercado de trabalho, e secretária executiva da Rede Empresarial de Inclusão Social.
Apesar do cenário bastante desafiador -- e ainda mais complexo com o desemprego atingindo 14 milhões de brasileiros -- há exceções no mercado. Um exemplo é da fabricante de cosmético Natura, empresa com quatro fábricas e um centro de distribuição construídos com tecnologias assistivas, facilitando a adaptação do trabalho. Por lá há a meta de ter 8% do quadro de funcionários composto por pessoas com deficiência -- ao final de 2019 o percentual era de 7,2%.
Para aumentar a taxa, a empresa iniciou em agosto um banco de talentos, no qual é possível cadastrar o currículo sem vagas determinadas. "Apesar de estar acima da cota legal, entendemos a importância de seguir aumentando a presença de pessoas com deficiência na companhia ao mesmo tempo em que desenvolvemos a carreira das que já estão contratadas", afirma Milena Buosi, gerente de diversidade e inclusão na Natura.
O banco da Natura está disponível no site da empresa de seleção e recrutamento Connekt. Entre julho e setembro a Connekt registrou a abertura de 334 vagas para este perfil em diferentes empresas. No ano passado, eram 232 no mesmo período, ou seja, aumento de 43%.
Entre os setores que mais abrem vagas para pessoa com deficiência na plataforma estão atendimento ao cliente, marketing, comercial, logística, tecnologia, indústria, banco de talentos, assistente, expert, consultor. Atualmente existem 800 vagas abertas na plataforma neste perfil, mas só para o banco da Natura há 5.829 cadastrados.
"O advento das contratações digitais acaba incluindo mais pessoa com restrição de mobilidade, pessoas com deficiência em geral ou mesmo aqueles com restrição financeira para o deslocamento até a entrevista. O desafio agora é estimular as empresas abrirem as vagas, e destacarem a intenção de contratar PcD", diz Eduardo Hupfer, gerente de produto da Connekt.
Na Natura, em 2019, 50 funcionários foram formados como padrinhos. Eles aprendem voluntariamente a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e apoiam os colegas com deficiência auditiva no seu dia a dia de trabalho. Nos processos de feedback com a gestão e nas consultas no Espaço Saúde, é possível acionar uma plataforma on-line, com intérpretes em libras que realizam a tradução via videoconferência.
Para os colaboradores com deficiência intelectual, é utilizada a metodologia do emprego apoiado, em que um profissional especializado acompanha esses colaboradores e seus gestores periodicamente. As iniciativas não são restritas aos escritórios. Em dezembro 23% dos pontos de venda contavam com colaboradores com deficiência intelectual.
Outro exemplo é da startup imobiliária QuintoAndar. Em outubro a empresa lançou um benefício adicional para oferecer apoio a colaboradores que tenham filhos com deficiência psicomotora ou cognitiva, sem limite de idade. Logo no primeiro mês o auxílio de R$643 foi solicitado por três dos mais de 1 mil funcionários.
"No caso de pais e mães que têm filhos com necessidades especiais, entendemos que é um desafio de longo prazo e que impacta diretamente a vida dos nossos colaboradores. Ao ter acesso a essas histórias de vida, por meio dos grupos de afinidade, o time se mobilizou para pensar em uma iniciativa que contribuísse para melhorar a vida do funcionário e de sua família", diz Erica Jannini, diretora de pessoas do QuintoAndar