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"Não vislumbramos nada que seja pior do que agora", diz Gol

Segundo o presidente da empresa, Paulo Kakinoff, a Gol tem 10% da receita de antes e corre risco de quebrar caso a crise se agrave, embora seja baixo

Gol: empresa é considerada uma das que pode se recuperar após a crise (GOL/Divulgação)

Gol: empresa é considerada uma das que pode se recuperar após a crise (GOL/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de maio de 2020 às 13h32.

Última atualização em 29 de maio de 2020 às 14h35.

Com as finanças menos deterioradas que Azul e Latam, a Gol tem trabalhado internamente para atravessar a crise da covid-19. Enquanto a primeira contratou a consultoria Galeazzi para renegociar dívidas e a segunda pediu recuperação judicial nos EUA, a Gol não sentiu necessidade de medidas mais extremas - ainda que tenha visto a receita cair em 90%. "Não conseguimos vislumbrar nada que seja pior do que agora", diz o presidente da empresa, Paulo Kakinoff.

Diante desse cenário, a Gol cortou a folha de pagamentos pela metade ao reduzir jornadas e criar um programa de licença não remunerada ao qual 38% dos funcionários aderiram. Kakinoff, porém, acredita que o pior momento começa a ficar para trás e espera chegar ao fim do ano com demanda entre 65% e 80% do normal. A seguir, trechos da entrevista.

Qual a situação financeira da Gol? Há possibilidade de seguir os passos da Latam?

Como não estamos dando projeções para 2021, continua válido o que já publicamos: temos caixa para, no mínimo, até dezembro. Enxergando a crise em três fases. A primeira começou no pós-carnaval, com queda na Bolsa e dólar disparando. Essa fase vai até a inflexão das medidas de quarentena e, nela, a perspectiva é que a demanda seja dada por clientes que precisam viajar, como profissionais de saúde.

A segunda fase começa com as medidas de relaxamento da quarentena. A gente estima que, nas próximas duas ou três semanas, inicie esse ciclo e que ele vá até o dia em que a sociedade diga que o problema está sob controle. Nessa fase, a demanda deve ser crescente. Estamos falando do mercado doméstico, porque o cenário internacional é pior. Projetamos chegar ao fim do ano com uma demanda entre 65% e 80% do normal, mas tem uma margem de erro importante. A terceira fase tem uma tendência de recuperação relativamente rápida da demanda. Mas aí já estamos falando em 2021.

O pior momento, então, já passou para o setor aéreo?

Não conseguimos vislumbrar nada que seja pior do que agora. A receita caiu para 10% do que era. Neste momento, estamos com 70 voos diários e, para junho, vislumbramos 100. Esses 100 vão representar de 15% a 17% do que era normal. A retomada é gradual e traz um desafio grande para as aéreas. Felizmente, entramos na crise com uma posição robusta.

Nessa fase dois, dadas as medidas de segurança sanitária, as passagens ficarão mais caras e as margens da empresa cairão?

Esses itens podem significar uma pressão adicional de custos, mas tendem a ser em proporção menor que o câmbio e a querosene. Em relação ao vale da crise, o barril de petróleo saiu de US$ 20 para US$ 35 e o câmbio está flutuando entre R$ 5,40 e R$ 5,70. Essa combinação pressiona custos e tende a ter maior impacto na tarifa.

Analistas têm apontado a Gol como a aérea mais forte para se recuperar. A empresa deve sair da pandemia com participação maior de mercado?

O momento é desafiador para todo o setor, inclusive para nós. Em termos relativos, temos uma vantagem comparativa por causa do nosso modelo de negócio: exposição menor ao mercado internacional e um modelo de baixo custo que, em um mercado deprimido, tende a sair fortalecido. Assumindo que haverá a necessidade de uma readequação de frota a um mercado menor, nossos custos para readequação são menores também. Operamos um avião com mais liquidez. Esses itens têm apontado uma posição mais robusta da companhia neste momento e consequentemente uma probabilidade maior de êxito.

No vídeo da reunião interministerial que se tornou público, o ministro Paulo Guedes disse que não haveria ajuda para aéreas. Como viu essa afirmação? O socorro do BNDES é suficiente?

Não tenho conhecimento de nenhum statement (declaração) governamental que seja diferente da estruturação da linha do BNDES. Temos falado com o governo de pautas concretas. A primeira é a possibilidade de venda antecipada de bilhetes para o governo, que não sabemos se será viabilizada. A segunda é a linha do BNDES. Em nenhum momento, colocamos o empréstimo do BNDES como condição de sobrevivência para a companhia. Poderá vir a ser uma necessidade em função de variáveis imprevisíveis neste momento.

Como vê o mercado doméstico pós-pandemia? O governo queria a entrada de novas empresas no País. Há possibilidade de que agora elas entrem por aquisições?

O setor terá um apetite menor para aquisições e investimentos. A aviação mundial foi afetada em liquidez. Deverá haver mudanças importante nos players (empresas) em relação ao pré-covid: empresas falindo, empresas que vão se juntar e empresas que vão recuar no tamanho. Mas não vejo investimentos em novos mercados ou aquisição. Haverá movimentos como esses, mas pontuais.

Pode ter quebra no Brasil?

Dada a imprevisibilidade da crise, sim, pode. Mas não acho que vá acontecer.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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