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Não vamos dar o mole que bancos deram com a gente, afirma fundador da XP

Para Guilherme Benchimol, trajetória da corretora é "história do impossível" e prova que "dá para ter sucesso no Brasil sem corrupção"

Guilherme Benchimol: "Um IPO é diferente de ter ganho na loteria, que pode te deixar balançado a pegar o dinheiro" (Germano Lüders / EXAME/Exame)

Guilherme Benchimol: "Um IPO é diferente de ter ganho na loteria, que pode te deixar balançado a pegar o dinheiro" (Germano Lüders / EXAME/Exame)

AO

Agência O Globo

Publicado em 12 de dezembro de 2019 às 09h22.

Última atualização em 12 de dezembro de 2019 às 09h40.

Nova York — Após levantar US$ 2,24 bilhões em seu IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações) na Nasdaq, o sócio-fundador e principal executivo da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, quer seguir fazendo mais do mesmo.

Deu certo até agora, afinal, e sua aposta é que a maior concorrência vinda de fintechs não conseguirá frear seu crescimento porque "não vamos dar o mesmo mole que os bancos deram com a gente."

"Investimento é confiança, não nasce do dia para a noite. Estamos em uma posição privilegiada, mas sem dúvidas temos que nos manter humildes. Assim como fomos o disruptor dos grandes bancos, pode surgir alguém que "disrupte" a gente. Mas eu acho que não vamos dar o mesmo mole que os bancos deram com a gente", afirmou Benchimol, em conversa com jornalistas em Nova York após as ações começarem a ser negociadas na Bolsa.

O executivo falou que a história da XP é a "história do impossível" e prova que "dá para ter sucesso no Brasil sem sacanagem, sem corrupção":

"O brasileiro é carente de história bacana. Tenho o maior orgulho de dizer aqui que comecei minha empresa com R$ 10 mil no bolso, sem ajuda de ninguém, e nunca tive que me envolver com governo, fazer nada de errado, nenhum envolvimento com corrupção. Dá para imaginar que você para montar sua padaria na esquina e, de repente, um dia, quem sabe, fazer seu IPO. É para acreditar mesmo. A nossa história é a história do impossível."

Para Benchimol, o pano de fundo é favorável. Ele elogiou a política econômica do governo, argumentando que a queda de juros estimula o empreendedorismo, e defendeu a austeridade fiscal.

Nas diversas reuniões que teve com investidores de todo o mundo nas semanas que antecederam o IPO, todos se mostraram "encantados" com o Brasil, afirmou o executivo, a pesar do fluxo menor de investimento estrangeiro no país.

E o mercado que a corretora terá pela frente, a despeito da competição mais acirrada, é um "oceano azul", sem crises, por causa desse "mole" dos bancos, previu. Por isso, está convencido de que "não é preciso ser um gênio" para ganhar mercado nesse segmento. A XP planeja crescer de 2,3 mil para 3 mil o número de funcionários no ano que vem.

A gente não tem que criar clientes, basta convencê-los a investir de forma diferente. O Brasil é tão absurdo que, no mês passado, a poupança cresceu. Como o banco tem coragem de convencer alguém a investir na Poupança, que é o pior investimento possível? Não tem que ser um gênio, é só levar educação para as pessoas.

Em paralelo, a companhia deve focar sua estratégia em deslanchar o banco da própria XP, voltado para clientes da corretora e cujos serviços devem ser lançado gradativamente nos próximos meses.

Segundo Benchimol, o banco será digital e representará uma solução completa "muito em breve", cortando o que chama de "cordão umbilical" dos clientes com os bancos.

A ideia é elevar a fatia do patrimônio que os clientes investem por meio da XP, o que só é possível se eles puderem ter uma conta-corrente associada à corretora.

O IPO transformou Benchimol em multibilionário, mas ele prefere não falar quanto possui do capital da companhia "para não ficarem fazendo conta de quanto eu tenho de dinheiro." Mas ele é o maior acionista da XP Controle, que tem mais de 54% do poder de decisão na companhia e um quarto do valor total, ou quase R$ 20 bilhões.

"Eu sou o maior acionista da empresa. Eu não sou o controlador. Nós somos sete "ordinaristas" (detentores de ações que valem 10 votos) e eu tenho o controle com um dos sete. E os outros seis também tem o controle sem mim. Mas o controle da empresa nunca foi exercido, pois há 18 anos somos uma meritocracia", disse.

Se, quando o Itaú Unibanco comprou metade da XP em 2017, Benchimol enviou carta aos sócios recomendando humildade e nada de extravagância, o executivo diz agora não estar preocupado com eventual perda de foco dos mais de 400 sócios depois de enriquecerem com o IPO.

"Aqui ninguém está pensando em dinheiro. Já tivemos oportunidade de embolsar a grana no passado mas ninguém saiu. Um IPO é diferente de ter ganho na loteria, que pode te deixar balançado a pegar o dinheiro. E a verdade é que, depois que você tem sua casa própria, consegue cuidar de sua família e viajar duas ou três vezes por ano, você tem o que você precisa. Está cientificamente provado que, para ser feliz, do que você precisa é propósito", disse Benchimol.

Nas últimas semanas de negociação com potenciais investidores, o executivo disse ter pedido que não olhassem o desempenho da XP no curto prazo, como a  cada trimestre, mas em prazos mais longos. Ele também quer fugir do curto prazo:

"Desde o começo combinei também que não iríamos olhar o preço da ação toda hora. Estou preocupado com o crescimento. É o cachorro que abana o rabo, e não o rabo que abana o cachorro. Estou preocupado com o crescimento" explicou, admitindo que o IPO também o está obrigando a ser mais cauteloso com as palavras, para evitar problemas com órgãos reguladores.

Poucos minutos depois, soltou um grito durante a entrevista ao ver no telão à sua frente que o papel havia atingido a máxima do pregão. "Ninguém é de ferro, colocam isso aqui na minha frente!" justificou, rindo.

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