Pedro Parente: mudanças na gestão da Petrobras (Germano Luders/Exame)
Rita Azevedo
Publicado em 8 de agosto de 2017 às 11h35.
Última atualização em 8 de agosto de 2017 às 12h10.
São Paulo -- "Se por um lado tivemos avanços importantes, por outro sabemos que ainda há muito que fazer". É dessa forma que Pedro Parente, presidente da Petrobras, avalia os primeiros resultados das mudanças implementadas na petroleira, desde a sua chegada em 2016. Segundo ele, ainda é cedo para "cantar vitória" sobre as conquistas da companhia.
Parente foi um dos participantes do Encontro de CEOs EXAME, realizado nesta terça-feira em São Paulo. O evento foi aberto por André Lahóz Mendonça de Barros, diretor editorial de EXAME, que chamou a atenção sobre a presença de executivos de algumas das mais importantes empresas brasileiras, incluindo os premiados do Melhores e Maiores.
"Queríamos reunir alguns dos vencedores e outros executivos para debater o futuro da economia, que, segundo tenho ouvido, começa a dar sinais de melhora", disse ele.
À plateia de executivos, o presidente da Petrobras explicou as novas estratégias da companhia para melhorar a governança e reduzir os problemas financeiros decorrentes de anos de má gestão e de casos de corrupção como os investigados pela Operação Lava Jato.
A primeira das mudanças, explicou Parente, foi no perfil do conselho de administração. A escolha de novos membros, que antes era pautada por interesses políticos, passou a seguir algumas regras, como a proibição da nomeação de indicados do governo e líderes sindicais. Também passou a ser exigido que 25% do conselho seja formado por conselheiros independentes.
Além disso, a seleção de profissionais para outros cargos de liderança foi reformada para priorizar "a experiência, o mérito e a integridade" do candidato. "Antes, em alguns casos, nem havia processo seletivo. Hoje, é muito mais transparente", disse ele. "Não tinha meritocracia e era comum a nomeação para cargos executivos. Agora, não há nenhuma indicação."
A estrutura da Petrobras também mudou e decisões importantes passaram a depender da aprovação de diversos comitês. Isso, segundo Parente, ajuda a evitar desvios de recursos que contribuíram "para a natureza dos problemas atuais" da empresa.
"Hoje, não temos uma obra, um contrato que seja feito com apenas uma assinatura", disse. A contratação de fornecedores também ganhou processos mais rígidos, visando reduzir casos de corrupção.
O canal de denúncia de irregularidades, que antes era interno, passou a ser externo, depois que executivos notaram que "nenhum empregado acreditava na garantia de anonimato". Com um canal independente, disse Parente, as denúncias destravaram.
Em 2015, as dívidas da Petrobras chegaram a ultrapassar em cinco vezes a capacidade de a companhia gerar caixa. O montante, segundo o presidente da empresa, era o equivalente à soma da dívida de todos os estados brasileiros, com exceção de São Paulo. Para piorar a situação, o motivo de tais dívidas tinha pouca ou quase nenhuma relação com os resultados do negócio.
"A certeza é que vocês todos estariam preocupados se fosse na empresa de vocês", disse Parente aos executivos.
Para contornar a situação, Parente disse que foram adotados alguns pilares, como a busca de preços mais competitivos, que não obedecem a desejos políticos, mas seguem a variação dos valores no mercado internacional.
Para ele, a política de variação diária dos preços -- anunciada recentemente pela Petrobras -- ainda causa alguma estranheza ao público, mas deve ser vista como algo comum, "a partir do momento em que os consumidores entenderem que a Petrobras não é formadora de preço, que só reage ao mercado."
A gestão da dívida também passou a ser mais ativa, com operações de trocas de obrigações mais caras por mais baratas e a diversificação de fontes de novos recursos.
O programa de desinvestimentos, que ainda está em execução, também deve ajudar na tarefa, com um "olhar mais atento para as forças e as fraquezas da organização" e a priorização daquilo que a Petrobras consegue fazer bem.
As mudanças promovidas pela nova gestão parecem já ter dado resultados para a Petrobras no mercado. Além da valorização dse 9% nas ações no período, a B3 (novo nome da bolsa brasileira) aceitou, ontem, o pedido de adesão da companhia ao Programa Destaque em Governança de Estatais. "Há um ano 6% dos analistas recomendavam a compra dos papéis da Petrobras, hoje são 75% deles", destacou Parente.