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Na Vale, Ferreira terá de conciliar governo e investidor

Experiência do executivo na produtora mundial deve acalmar investidores e aproximar do Estado

Ferreira é descrito como um executivo "de fala mansa" (Eduardo Monteiro/EXAME)

Ferreira é descrito como um executivo "de fala mansa" (Eduardo Monteiro/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2011 às 11h43.

São Paulo/Rio de Janeiro - Murilo Ferreira, futuro presidente-executivo da gigante da mineração brasileira Vale, terá a tarefa delicada de satisfazer os investidores da empresa e os políticos que afastaram seu antecessor.

Felizmente para ele, seu currículo por si só já deve lhe render pontos com os dois lados.

Os constantes embates do veterano da mineração de 58 anos com o demissionário Roger Agnelli quando à frente da unidade da Vale no Canadá provavelmente o tornarão caro ao governo da presidente Dilma Rousseff, que conduziu uma campanha para afastar Agnelli sob acusações de que ele vinha fazendo pouco para ajudar as indústria de aço e naval brasileiras.

A longa experiência de Ferreira na maior produtora mundial de minério de ferro deve aliviar os investidores, que durante semanas se preocuparam temendo que Dilma instalasse um indicado político que colocaria o desenvolvimento social acima dos lucros.

Ferreira, um administrador de fala mansa, consolidou uma reputação de gerente atento aos gastos com a rápida incorporação da produtora de níquel canadense Inco às operações da Vale, após a aquisição da companhia em 2006.

"Ele é firme e inteligente. Sabe o que está fazendo", disse um ex-funcionário da Vale que não quis se identificar.

As ações preferenciais da empresa, a categoria de ações mais negociada da empresa, recuaram quase 10 por cento desde meados de janeiro, quando a especulação sobre a saída de Agnelli cresceu.

Isso reflete a preocupação com o risco de "decisões cada vez menos relacionadas ao negócio sendo tomadas, levando a custos mais elevados e retornos menores," segundo Fraser Phillips, analista da RBC Dominion Securities em Toronto.

De acordo com fontes próximas de Ferreira, ele via Agnelli como um líder que oferecia pouco espaço para interpretações divergentes e centralizava o poder dentro da empresa, estreitando laços com políticos, líderes regionais e comunidades locais.

Há relatos de que Ferreira teria se oposto à oferta de Agnelli para comprar a mineradora Xstrata porque a mistura de ativos de alta e baixa qualidade da empresa suíça tornava a aquisição arriscada.

A oferta da Vale pela Xstrata acabou caindo por terra pouco antes da crise financeira de 2008, o que evitou uma enorme dor de cabeça financeira para a Vale.

Até o início do ano, Ferreira era membro fundador do fundo de hedge Studio Investimentos, sediado no Rio de Janeiro. Ele fundou a empresa com um ex-colega da Vale e outros contatos da indústria após sair da mineradora no começo de 2009.

Relações com o governo

O desafio imediato de Ferreira é conter a pressão governamental para envolver a Vale em projetos com aço, popular entre políticos por criar empregos mas nada atraente para a Vale por oferecer baixo retorno.

Ele também terá que buscar uma saída rápida para uma disputa com o governo relacionada a uma dívida de royalties de mineração, que autoridades do governo dizem poder chegar a 2,4 bilhões de dólares.

Durante seus 10 anos na Vale iniciados em 1998, Ferreira presidiu a unidade de alumínio Aluvale e mais tarde assumiu a responsabilidade de buscar novas oportunidades de expansão ao redor do mundo como chefe da divisão de fusões e aquisições da Vale.

Pessoas familiarizadas com a situação dizem que Ferreira se prontificou a reduzir gastos na Inco assim que a Vale assumiu o controle, cortando despesas extravagantes dos diretores da Inco e enxugando a estrutura da empresa.

Ferreira "pode ser visto como um candidato interno, que traz menos perturbação para a Vale e pode aquietar as preocupações de uma intervenção governamental maior," disse Felipe Hirai, analista do Bank of America Merrill Lynch.

Ele pode ajudar a reconstruir as relações entre a Vale, o governo e os clientes, e ainda assim alcançar a meta de Agnelli de fazer da Vale a mineradora mais diversificada do mundo em alguns anos, opinou Hirai.

A indicação de Ferreira surpreendeu após os relatos dos últimos dias de que Tito Martins, atualmente encabeçando a Vale Canadá, era o nome mais cotado para o cargo.

O ex-presidente da Vale Sérgio Rosa, executivos dos setores de papel e polpa e até o presidente do Banco Santander Brasil, Fábio Barbosa, foram cogitados como concorrentes para a vaga.

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