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Na Méliuz, os primeiros testes de uma startup na bolsa

Plataforma da companhia movimentou R$ 2,5 bilhões no ano passado, 50% mais do que em 2019

Israel Salmen: inquietação e frustração com programas de milhagem foram a origem de negócio que hoje vale R$ 3,5 bi na bolsa (Germano Lüders/Exame)

Israel Salmen: inquietação e frustração com programas de milhagem foram a origem de negócio que hoje vale R$ 3,5 bi na bolsa (Germano Lüders/Exame)

GV

Graziella Valenti

Publicado em 13 de fevereiro de 2021 às 09h44.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2021 às 12h32.

Fundada há uma década em Belo Horizonte, por dois amigos inconformados com as frustrações que os programas de pontos e milhagens geravam, a Méliuz inaugurou a safra de aberturas de capital de empresas digitais e startups na B3.

Em pouco mais de 60 pregões desde então, o valor do negócio quase triplicou. Para a oferta pública inicial (IPO), a empresa foi avaliada em 1,25 bilhão de reais. E agora já vale mais de 3,5 bilhões de reais na B3. Uma alta de 183% nos primeiros cem dias. A companhia que, em seus dez primeiros anos de existência, havia captado um total de 30 milhões de reais, de repente, tinha no caixa 330 milhões de reais para crescer, em uma tacada só.  O dinheiro vai ser usado para fazer aquisições, investir em tecnologia e em pessoas, ou seja, contratação de talentos. A companhia foi uma das escolhidas para a mais recente edição da Revista EXAME, 50 startups que mudam o Brasil.

Não é por acaso que Israel Salmen, um dos fundadores, junto com Ofli Guimarães, diz que o IPO foi o “primeiro dia da empresa”. A ideia de acessar o mercado público de ações para se capitalizar veio das próprias conversas que a Méliuz começou a fazer pensando em uma nova rodada com fundos de venture capital. Então, conta o executivo, começou a ouvir dos próprios investidores, quando mencionava que o IPO era um projeto de futuro: “Por que não agora?”

Levou a pergunta para casa e concluiu que, sim, era a hora de ir para a bolsa, mesmo sabendo do inusitado disso, em especial no mercado brasileiro, tradicionalmente muito concentrado em grandes empresas.

A Méliuz é um caso desses para se acompanhar de perto porque vai mostrar o quanto vale a capacidade das empresas de formar um ecossistema robusto de clientes, em negócios sem grandes barreiras naturais de entrada. Além disso, será um teste prático sobre como é para empresas acostumadas a inovar, em parte pela restrição de capital, ter o bolso cheio, de repente.

Salmen, porém, diz que vai resistir às pressões do mercado, esse novo ambiente em que se encontra: não tem pressa para investir os recursos (quer fazer bem e não rápido) e não vai ficar vidrado na cotação em bolsa

“Eu vendo picareta na corrida do ouro”, costuma explica Salmen quando questionado sobre o que a empresa faz. A companhia é, de maneira simplista, definida como um negócio de cashback. Mas não é dessa forma que os fundadores entendem o negócio.

Por meio de seu site e seu aplicativo, pluga diversas varejistas e empresas de serviços com milhões de consumidores.  O objetivo é que os usuários cheguem ao Magazine Luiza, Adidas, Submarino, Carrefour passando antes por sua solução. Como? Com incentivos financeiros, o tal do cashback.

“Somos uma das maiores plataformas de e-commerce do país sem vender nenhum produto e sem ter de entregar nada”, diz, um Salmen nem um pouco impactado por ver que no IPO o valor de seu negócio pode ter sido subestimado frente à real demanda do mercado por empresas de inovação.

A picareta que a Méliuz entrega aos clientes — mais de 800 marcas e empresas dos mais variados varejos  — é o consumidor e sua recorrência. Quando pediu o registro para fazer a oferta de ações, a empresa tinha 10 milhões de usuários cadastrados. Terminou dezembro com 14 milhões. O total movimentado dentro da plataforma em 2020 alcançou 2,5 bilhões de reais, 51% mais do que em 2019. Mas, para se ter uma ideia da velocidade de expansão, 40% do volume foi registrado no quarto trimestre.

O cashback que ela abastece os consumidores vem da divisão com o público dos recursos que recebe das marcas e varejos ligados à sua plataforma, que pagam para lá estar, inclusive pelo destaque que recebem. Nos primeiros nove meses de 2020, a receita líquida da empresa cresceu 43%, para 82 milhões reais. E o lucro foi multiplicado por três e meio, superando 17 milhões de reais.

A próxima fronteira da empresa, que desde 2019, oferece um cartão de crédito em parceria com Banco Pan e Mastercard, é plugar cada vez mais serviços financeiros. Agora, vai ser fintech sem precisar de registro no Banco Central (BC). Isso porque tanto produtos quanto serviços oferecidos são sempre em parcerias. “Meu negócio é a picareta, lembra?”, enfatiza Salmen.

(Arte/Exame)

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